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Diário de Buenos Aires

O MAPA DA CULTURA

Sobre aspas e pizzarias

É impossível escrever sem citar Benjamin?

DAMIÁN TABAROVSKY
tradução PAULO WERNECK

Buenos Aires ostenta dois recordes: a avenida Corrientes reúne a maior quantidade mundial de pizzarias por metro quadrado.

O segundo é o recorde de citações do pensador alemão Walter Benjamin: em Buenos Aires, é impossível escrever um ensaio ou um artigo de jornal, sobre qualquer assunto, sem mencionar Benjamin (se o governo cobrasse uma taxa de US$ 5 por citação de Benjamin, faturaria alto e não dependeria tanto de vender automóveis para o Brasil e soja para a China).

Benjamin, extraordinário ensaísta, crítico e tradutor, tornou-se asfixiante em nossas livrarias. Ainda que, de vez em quando, apareçam projetos editoriais que valham a pena.

A editora Eterna Cadencia acaba de publicar "El París de Baudelaire", coletânea que reúne todos os ensaios que Benjamin escreveu sobre o assunto, em uma nova e brilhante tradução.

Um livro imperdível -e bem portenho, claro.

UM BLOG LITERÁRIO

É normal que as editoras tenham um site para os livros que publicam e as novidades sobre eles. Nos últimos anos tornou-se comum também que tenham blogs, nos quais contam, de um modo mais íntimo, outras notícias ligadas aos livros.

Mas é mais raro -raríssimo, eu diria- o caso de uma editora com um blog que fale dos livros das outras editoras. É o que acontece no blog da editora Eterna Cadencia (blog.eternacadencia.com.ar), a mesma que publicou o livro de Benjamin sobre Baudelaire -e que também é livraria.

Ali, são entrevistados autores que publicam por outras editoras, divulgam-se as novidades literárias, são antecipados trechos de livros não publicados por ela e, só muito de vez em quando, são mencionados seus próprios livros e autores.

O blog da Eterna Cadencia logo se tornou referência no campo literário argentino. Com espírito generoso, as notas e entrevistas são interessantes e rigorosas.

E, de quebra, discretamente o blog funciona como publicidade para a editora, evitando a infelicidade de falar bem de si mesma.

REVISTA DE PROA

Já mencionei aqui o excelente trabalho que a Biblioteca Nacional da Argentina está realizando?

Certamente. Mas é hora de fazê-lo de novo. Pois acaba de publicar, em edição fac-similar e completa (os 18 números!), a "Proa", revista fundada em 1922 por um ainda jovem Jorge Luis Borges e um já maduro Macedonio Fernández, entre outros.

Quase impossível de encontrar hoje em dia (em anos de procura, só consegui duas edições em sebos, a preços tão altos que tenho vergonha de confessar), já se encontra nas livrarias da cidade, numa elegante caixa.

Influenciada pelo ultraísmo da época (mais um dos ismos daquele tempo), é, ao lado de "Martín Fierro" -da qual Borges também participaria-, a grande revista da vanguarda argentina do começo do século 20.

QUAL ESPANHOL?

Gabriela Adamo é a atual diretora-executiva da Feira do Livro de Buenos Aires. Antes, era editora de livros, e, desde sempre, muito interessada nos problemas teóricos, políticos e econômicos da tradução.

Ela acaba de organizar "La Traducción Literaria en América Latina", publicado pela Paidós, selo do grupo multinacional Planeta.

São nove ensaios que recobrem todo o continente -ou melhor, todo o continente, menos o Brasil-, discutindo o status do espanhol.

A Espanha, o maior mercado, o mais poderoso, o que concentra as editoras mais ricas, o que inunda as livrarias portenhas e de toda a América Latina, traduz um espanhol do qual não gostamos. Um espanhol da Espanha, muito distante do que se escreve na Argentina, no México ou na Colômbia.

Discutir as questões políticas e econômicas dessa situação (a situação periférica do espanhol da Argentina) é o mérito do livro. Há ali um debate de política cultural e de valor econômico do idioma, do qual vale a pena participar.

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