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Ficção

Leão com Leão

No peito, os corações escoiceavam. Éramos Arthur e Marilyn, Scott e Zelda, Lou e Laurie, versão genérica e vagabunda. Dois doidos, dois cúmplices, dois frágeis

ANTONIA PELLEGRINO
ILUSTRAÇÕES BEL FALLEIROS E ANDRÉS SANDOVAL

A profundidade só tem dois registros: a intimidade ou a dissolução. Era final de julho e o Sol em Leão dissipava a neblina do período da separação. Nós havíamos decidido nos dar a última chance.

O presente exigia os cuidados dedicados a um recém-nascido, enquanto em mim as duas forças da profundidade se enfrentavam como o dia e a noite. Queria fixar os pés no amor, mas um vento destrambelhado havia me tirado da lona direto para a pista de dança. Seis meses atrás eu tomara um monumental pé na bunda e vinha fazendo o luto de um casamento de cinco anos, enquanto me mudava provisoriamente para a casa de um amigo, fazia peça em São Paulo, procurava apartamento no Rio, comprava e mobiliava uma casa; eu precisava da dissolução.

Eu precisava de foco. Continuava misturando copos com remédios, mas, em vez de agredir os amigos, ria de piada velha, excitada com a descoberta de que 32 é o novo 22. Queria o mundo e o seu amor. Eu sabia que a minha banca ia quebrar. Mas aquilo tudo era demais.

Porque não era só o vento, mas a conjunção astrológica que reuniu as melhores filhas dos anos 70 na mesma movida hedonista, drogada e promíscua, na mesma pista de dança, ao som de The XX, para quem rebolávamos até o chão, que nem muçulmanos que se curvam a Meca.

Coincidência ou não, nós quatro estávamos recém-solteiras, pele e osso, vestindo preto dos pés ao pescoço. Carola, a nave-mãe, é uma espécie de José Mayer em novela do Manoel Carlos, que depois de uns copos vira hétero, fumante e adepta de WikiLeaks.

Shiva é a sobrevivente nascida num eclipse que se tornou "power girl", oxigenou o cabelo, comprou o sutiã estruturado de uma puta russa e migrou num piscar de olhos da caretice extrema à piração operística.

E a Jana, cuja xana chuparei, é a que chuta gente chata, tem inteligência pragmática e o coração doce, mas disfarça essa fraqueza proferindo "statements" preconceituosos e hilários como quem acende um cigarro no outro.

Me chamam de Pipa. Sou aquela que tem epifania com o strip-tease de balões da ex-BBB Fani e acha chique nivelar a loucura por cima, para ninguém se espantar quando alguém, no começo da noite, disser que já vomitou.

Somos gatas, despudoradas, arrogantes, capa da "Vogue". Inocentes, adquirimos 40 gramas de MDMA para atravessar o inverno com a sensação térmica do verão.

- Amadas, comprei uma casa. Vou ter que pegar dinheiro emprestado no banco pra pagar esse travesseiro de MD.

- Não sabia que a gente estava tão viciada assim. Precisava comprar o carregamento inteiro, Shiva?

- Não foi inteiro, Jana, a Leda tem mais de 50 anos e levou 15 g. Cada uma de nós tinha que ficar com pelo menos 10, né?

- A Leda usa MD pra nadar. E ainda vai dividir com uma galera.

- Você não convidou 120 pessoas pro seu "open house", Pipa?

- Aniversário.

- Diz que é "open house", aí nego traz presente.

- Mas aí ninguém vai saber que precisa ficar me adulando, me amando, e que quando eu chego tem que falar "uau".

- Pipa, quem não sabe desconfia de que você é vítima da astrologia. Leão com Leão é sina, amor, não é signo.

Se os anos 60 foram da maconha, os 70 do ácido, os 80 do pó, os 90 do ecstasy, os 00 carnavalizaram a porra toda e ainda vieram com uma trinca dos infernos na comissão de frente: heroína, crack e o revival descolado da cocaína, considerada brega desde que os yuppies enfiaram a napa. E quem não tivesse coragem de arrebentar a cartilagem que atacasse de RedBull com vodca.

O negócio era estar ligado. Banheiro de boate, cabine apinhadinha, bate na tampa da privada, sai e deixa um teco pra mim, bora lá fora mandar na ponta da chave, chegar colocado na festa do prato, disputar no grito o solo sobre o ser-para-a-morte ou o poder dos produtos tira-manchas. Tanto faz. Tudo o que for dito não terá importância, e nada do que for falado será lembrado.

A gente se conheceu circa 2005, quando as petecas de padê proliferavam na garupa de traficas motoqueiros que surgiam sob a alcunha de Júnior. Logo passavam a Johnny, para depois sumir e nos devolver às mãos de flanelinhas, até que aparecesse um novo Júnior ou Johnny, alguém com quem a gente encontrava na esquina da rua depois da meia-noite, trazendo o lance na fralda da criança nos braços da avó, no banco de trás.

Era carnaval, eu estava encostada na pilastra de um camarote de cerveja quando um bêbado estacionou dizendo:

- Duas coisas. A primeira: é o meu aniversário. A segunda: você é o meu presente.

Eu ri. Ele disse que me via por aí, gostava do meu jeito masculino, dos meus olhos pintados com kajal, do meu cabelo descolorido. Me conhecia da calçada, não da novela. Depois daquela noite, todas as que viriam encontrariam o Pedro ao meu lado.

Eu passava a semana dentro da personagem, decorando texto, enfurnada no estúdio, enquanto ele cumpria a rotina de estudos, visitas a ateliês e aberturas. Tudo o que em mim era da ordem do fazer, nele era da reflexão.

Filho de um influente crítico de arte, inteligente e disciplinado, ainda jovem o meu ex-marido se estabeleceu como o crítico e curador independente mais amado pela classe sem pelos no nariz nem hora para acordar -os artistas plásticos.

Equilibrávamos concentração com dissolução no virote às sextas-feiras, gastação de fígado e verbo, autojogação na lama, segundo nossa paródia dos clichês intelectuais: "Para extrair alternativas possíveis à experiência pós-utópica contemporânea e, nesta medida, dotar o fragmentado de sentido" e blá blá blá, e tome taturana, Walter Benjamin, Pipilotti Rist, até o trafica, que também tem direito a uma vida, não atender mais.

Aí, negão, era aquele constrangimento ao encontrar o porteiro, banho quente, Rivotril, abrir os olhos à noite sem saber se encomenda o caixão ou o Disk Cook.

Eu amava o modo como o Pedro cortava ao meio o canudo e desenhava as nossas iniciais com caneta-tinteiro preta na ponta de cada um, para nos proteger do contágio em narinas alheias.

Admirava como ele circunvagava o prato na boca acesa do fogão, abria o papelote, espalhava generoso volume sobre a superfície ressequida, sedenta de umidade, para esfarelá-lo com rigor e assim ganhar a geometria da linha.

Sob o olhar dele, eu aspirava de uma só vez, mobilizando brônquios, alvéolos e diafragma, jogando a cabeça para trás num gesto selvagem e estudado. Nos olhávamos, ele checava meu nariz e só então mandava ver.

No peito, os corações escoiceavam. Éramos Arthur e Marilyn, Scott e Zelda, Lou e Laurie, versão genérica e vagabunda. Dois doidos, dois cúmplices, dois frágeis.

Há uma qualidade do árido no pó, que exacerba o ego, resseca a boca e o desejo. Muita falação, pouca comunicação e nenhuma felação. E, quanto mais frequentes as farras, maiores as doses, mais vertiginosas as ressacas.

Eu já não fazia a mocinha, os 30 anos haviam riscado o meu corpo, a minha ferramenta de trabalho. Acostumada a sustentar uma prosa aditivada madrugada adentro, me vi aumentando intervalos entre um teco e outro, aguando uísques.

O cartão Flying Blue foi passado às minhas mãos, que, sem tanto método, transmutavam o padê em tiro, enquanto o Pedro seguia no front. Embora eu fosse atriz, minha formação teatral garantia-me outros assuntos além da minha pessoa, mas não havia repertório que sustentasse a estiva daquelas baladas, verdadeiras jornadas de trabalho árduo.

Tornei-me adepta do teco medicinal, a única rebatida saudável quando se está de cara cheia, e do táxi pontual. De rainha louca passei a coadjuvante na plateia, cada vez maior, de jovens artistas embevecidos pelos caminhos do raciocínio estético do meu marido. Embora eu fosse socialmente avalizada para a egolatria, o estardalhaço ingênuo e superficial de um ator não roça nem os calcanhares do projeto de reconhecimento e poder de um intelectual.

Enquanto eu bocejava diante daquele mito vivo, só crescia o quórum de jovens pintoras, escultoras e instaladoras, todas interessantérrimas, ávidas por serem mencionadas em suas críticas.

Eu já havia sido mijada diariamente em uma encenação no presídio, tinha conduzido o automóvel na fuga do sequestro do embaixador, fora empurrada de um penhasco por uma mão oculta que engendrara um "quem matou?" ao meu redor.

Precisava de realidade e o Pedro começava a falar, na terceira pessoa, sobre "a geração do Pedro". Na quarta joalheria aonde fui orçar novas alianças para comemorar o nosso quinto ano de casamento, chorei.

Ainda tentei o velho "vamos ter um filho", mas ouvi que "a minha abertura foi genial, a minha galeria vai levar a minha exposição a Berlim, meus agenciamentos estão se expandindo lá fora, não sei se é hora de...".

Talvez os casais comecem a se separar quando resolvem ficar juntos. As mãos que tocam aquele corpo nunca deixam de sonhar o mundo. No tempo, o impalpável vira lamento, um canto doce e sedutor aos ouvidos cada vez menos dispostos a escutar o que lhe diz o outro.

Eu queria fixar este átimo extraordinário, a partir do qual nada do que veio antes (ou seguirá depois) continua sendo o mesmo.

Olhar o fotograma que revela o momento em que o cupim, cego na escuridão da terra, encontra o solo e, sobre ele, o assoalho de madeira da casa; quando os olhos se fecham e o sujeito adormece com o cigarro aceso esquecido entre os dedos; o instante em que eu comecei a não fazer mais o Pedro feliz.

Na cama da minha mãe, onde fui morar depois de deixar a nossa casa, me sentia em um cenário surrealista. Debaixo daquelas cobertas, eu amputava o que em mim havia de melhor.

Fiz dos remédios e das mãos cuidadosas dos parentes as minhas maiores companhias. Já conseguia chorar baixinho quando vi brilhando no computador a mensagem falando em saudades.

Falando que ele tinha conversado com seus "verdadeiros amigos", e o que estava acontecendo, achava ele, "era uma espécie de 'ultimate fighting' com um inimigo que já cruzou o meu caminho outras vezes, causando dor e destruição: a Metafísica do Grande Gozo. É um inimigo ardiloso, porque, na verdade, ele não existe. Quando você paga pra ver, descobre que é feito de ilusão -mas aí já pagou caro demais".

Era confortável imaginar que eu havia sido trocada por uma fantasia, não por alguém. Era fácil acreditar que todos nós, em algum momento, temos contas a acertar com o que não existe, e ele não poderia entrar num ciclo novo de vida comigo sem zerar as pendências com o que não havia. Era feliz a ideia de que talvez não fosse o fim, só um período turbulento, integrado à relação.

Por mais tentador e bem embalado que fosse o discurso, a boca que o dizia vinha abaixo de um par de olhos esgazeados, o retrato de um homem dividido cujo quinto ato não se esgotara, estava apenas começando.

Se algum dia eu quisesse refazer meu casamento, era hora de sair de cena. Quando ele viajou para uma feira de arte no Sul, tirei tudo de casa.

Dali em diante, desapareci. São Paulo pra mim, balada pra ele. Fui finalista de um prêmio prestigioso, fechei um contrato com uma emissora de TV que me ajudaria quitar a casa própria e me colocava para trabalhar, mas, durante aqueles meses, raro o dia que não fosse feito afogamento.

No entanto, as brigas constantes, por SMS, e-mail e telefone, me faziam oscilar entre a dor, a raiva e, por fim, o ódio. E assim o fio cada vez mais tênue que nos ligava seguia firme.

- Nunca imaginei que separar fosse um jeito de ficar ainda mais junto - disse ele.

- Será que a gente vai se perder de vez?

- A gente nunca se perdeu. Em intensidade, os últimos seis meses valeram por dois anos.

- Então, na soma, a gente tá junto há sete anos?

- Se entrar na conta que a gente dormiu abraçados todas as noites desde que a gente se conheceu, acho que os cinco anos de relação viram oito.

- Dez anos, e fôlego pra muito mais...

- Pipa. Você tá dizendo que a gente vai voltar?

O presente exigia os cuidados dedicados a um recém-nascido, enquanto em mim, as duas forças da profundidade se enfrentavam feito o dia e a noite.

- Pipa, você sabe que tá errando, né.

- Cala a boca, Shiva - eu disse.

Estávamos naquele clima de antessala de festa na varanda do apartamento de um amigo, com a praia do Leblon aos pés.

- Você pega mulher hétero, mulher gay, homem hétero e casal. Tem mercado pra caralho. O seu único ramo inexplorado é dos homens gays.

- Digamos que não tenho ramo inexplorado. Tô apostando todas as minhas fichas nesse recomeço.

- Aposta duas - calculou a Jana.

- Não bota pilha errada. Eu amo o casal e quero ter um filho com eles. Volta sim, amor, vocês têm loucura juntos e sem isso não existe casamento - sentenciou a Carola, cuja relação mais longa durou seis meses.

- Dá pra gente não decidir isso agora? Vira o drinque que o Namíbia já tá tocando.

- Meu look tá uau?

- Uau.

- E o flash de calcinha quando levanto os braços?

- Topo da cadeia alimentar. É isso: depois dos 30, ou a gente é magra ou é feliz.

Aí não chega ninguém, não chega ninguém, o povo chega todo junto, nosso núcleo abre a pista, a luz abaixa e o som aumenta. Comunicação corporal e fim de papo.

Refil da vodca cranberry, a gata amiga de uma amiga diz que me beijaria agora, então beijo, a luz da cozinha acende, saio do beijo bom, vejo o namorado dela olhando sem saco, ela vai falar com ele, espero que não role baixo astral, apago a luz da cozinha, ganho a sala.

Gatinho 3 me cata feito namorado, falando: "Água, tá dando pra ver a sua bunda, vem no meu quarto que eu vou mudar seu look", respondo NÃO, abocanho uma ameixa. A Jana avisa ao Gatinho 3 que eu não vou namorar com ele nem com ninguém porque voltei com o meu ex-marido.

Retoco o batom, retoco a dedada no saquinho de pedra translúcida acre aflitiva que dá buena onda, agita o coração e faz sorrir. Maxilar travado, quadril liberado, aumenta o som, uhuuh é lindo, a gente fica físico, fica doce, sente a pele roçar o oxigênio e isso é erótico.

Quem não tiver quem pegar que arrume. Inspira-expira, de olhos fechados amarra-se o ego no rabo de cavalo e entende-se por dentro a expressão bombar na pista. "Nossa, como você tá gata", "isso porque você ainda não me viu fodendo."

- Vambora vambora essa festa micou. Agora é lá em casa.

Partiu pra casa da Shiva. Achei por bem mandar uma mensagem convidando o Pedro.

- Mas o Pedro é jaira?

- Ô. Ele só precisa entender que, assim como é indiscutível a superioridade do sexo com amor sobre as outras formas de sexo, também é indiscutível a supremacia do MDMA sobre a cocaína.

Da última vez, a Shiva bateu o carro no portão da própria garagem, então assumi o volante. O Pedro nos encontrou na porta da festa. Camiseta preta velha tigrada, calça jeans. Meu gato selvagem.

A Jana entrou no bagageiro da picape, a Carola se enfiou na cadeirinha de criança, a Shiva no banco de trás e o Pedro no carona, do meu lado.

No caminho, eu olhava nos olhos dele e colocava sua mão esquerda no meu peito. Eu estava com o diabo no corpo, mas o meu coração era daquele homem.

Na casa da Shiva, só chega neguinho trabalhado na "playlist" perigosa, na boca vermelha e no MD. A boca dos homens que não usam batom, a gente borra. Cheiro de sândalo, som na caixa, luz vermelha, luz azul, cortina fechada. As meninas dançando juntas.

Carola já não é mais menina: acendeu o primeiro cigarro e esfrega o pau duro contra a coxa das garotas ou a bunda dos rapazes. Shiva surge de braços abertos, com o famoso sutiã estruturado da puta russa. Acendo o beque numa vela, a chama come a erva e o meu cabelo.

Pedro estapeia o incêndio e eu só acredito que aquilo aconteceu por causa do cheiro. Ele ri de leve, me abraça, diz que eu preciso tomar cuidado. Vou tomar um drinque. Passo pelo Gatinho 3 que, na varanda, dá aula de boquete usando o próprio pau como material didático. O Pedro assume o iPod, tira "Continental Lover", OST & Kjex para colocar Madonna. Sou contra, Madonna é muito óbvio, mas a pista enche. Povo mainstream do caralho. Quando acaba a ginástica, lanço o velho "Dream Machine", Mark Farina, idos de 2003 -música para rebolar, afinal, nosso objetivo.

O Pedro sacando. Embora letrado, ele é muito literal. Vê quatro gostosas meio piranhas meio loucas e tem certeza de que vai rolar sexo.

Ele se aproxima numa coreô helicóptera, aquilo me aflige, eu digo "menos", "menos não. Não de você". Ah é? A Jana e suas pernas, que batem nos meus peitos, estão dançando num salto altíssimo e microssaia preta. O meu vestido reto e fechado é mais curto que o dela, me aproximo. Pedro-cão em frente ao frango de padaria.

Pego nas costas dela, aproximando nossos corpos magros. As bocas borradas de vermelho, nosso clichê. Eu digo a ela que beije-o também, mas ela entende tudo, e nada. Subo na mesa. Toca a faixa sexy-brejeira do Almaz, "Cirandar", e passo as mãos pelas pernas, levanto a saia que não tem mais para onde subir, revelando as coxas que todo mundo ali já está cansado de ver.

As meninas e Gatinho 3 na plateia. Alguém aumenta o som. Viro de costas, revelando a calcinha pink hanky panky. O Pedro sentado no sofá, meio me olhando e meio conversando com Gatinho 3.

Giro rebolativa, olhar baixo, sacando que ninguém mais conversa, só o Pedro. Porra, eu não sou uma stripper da boate Cicciolina. Vou até o ouvido dele e sussurro "se não tá gostando, vaza". Ele levanta e vai.

Fade out.

De volta à cama, ao remedinho, à merda. Quando você é vítima da loucura do outro, é ruim mas é bom, quando você e o outro são vítimas da sua própria loucura é uma bosta.

Um, dois, três dias. No quarto, apita uma mensagem de texto dele dizendo: "Vc não vale nada mas sou louco por vc".

A profundidade só tem dois registros: a intimidade e a dissolução.

- Vamos ver o Gatinho 3 comer a Shiva.

- Ele tem pau fino.

- Quem falou?

- Ele mostrou outro dia. Você não viu?

- Se fosse ruim a Shiva não tava pegando.

- Ele tomou Viagra pra ficar com ela.

- Ele tem medo de mulher que nem ela.

- Só a gente não tem medo da Shiva. Porque a gente é tipo ela. Toda ser.

- O Pedro não tem medo da gente né, Pedro? Beija o Pedro, vai, Jana. Ele precisa cheirar outras mulheres, cheira elas, Pedro.

- Ai, que beijo bom que o seu marido tem...

- Ex-marido, agora ele é meu namorado.

- Até quando, meu amor?

- Até a gente cansar. A gente sempre acaba cansando. Só não cansa um do outro. Eu vou lá ver se o Viagra tá funcionando.

- Não esquece de voltar e contar pra gente.

- Tá. Beija o Pedro, Carola, mas não muito. Só um pouco, porque ele é o amor da minha vida.

- Huuummmmmmmmm.

- Galera, vem que o Viagra tá funcionando.

- Nave-mãe se movendo em direção ao quarto.

- Nem gosto tanto assim do Gatinho 3 pra ficar no mesmo quarto que ele de pau fino de fora. Vai que eu acabo pelada? Bota "The XX" de novo, vai.

- De novo, Jana?

- Ótimo. Mas bota aquela do "sometimes I still need you" que eu vou dançar pro Pedro, vou jogar amor, muito amor pra você. E, enquanto eu estou aqui, em cima da mesa, já que você vai ficar por aqui, beija ele, Jana.

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