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Olimpíada

Espetáculo autêntico

Uma festa para chinês ver

AI WEIWEI

TRADUÇÃO RODRIGO LEITE

Brilhante. Foi tudo muito, muito bem-feito. O tema era a Grã-Bretanha, e não houve a tentativa de fingir que a cerimônia teria um apelo global. Como o país tem autoconfiança, não precisa de uma Olimpíada monumental. Já na China, esse era o único tipo imaginável de evento internacional.

A Olimpíada de Pequim foi grandiosa -tentaram dar uma festa para o mundo, mas os anfitriões não puderam aproveitar. Na tentativa de forjar uma imagem, o governo não se importou com os sentimentos das pessoas.

Em Londres, fizeram da cerimônia uma festa de verdade -eles têm orgulho de si mesmos e respeitam suas origens, da Revolução Industrial aos dias de hoje.

Nunca vi um evento que tivesse tamanha densidade de informação sobre acontecimentos, histórias, literatura e música; sobre narrativas folclóricas e filmes.

No começo, a cerimônia tratou de fatos históricos -a terra, o maquinário e os direitos femininos- de um jeito épico e poético. O diretor realmente fez um trabalho soberbo na passagem entre esses períodos históricos e os dias de hoje, entre a realidade e os filmes.

A parte sobre o Estado de bem-estar social foi motivo de orgulho de verdade. Contou claramente o que é a nação: crianças, enfermeiras e um sonho. Uma nação que não tem música nem contos de fadas é uma tragédia.

Havia elementos históricos na cerimônia de abertura em Pequim; a diferença é que a de Londres tratou de indivíduos, da humanidade e de sentimentos verdadeiros; sua paixão, sua esperança, sua luta.

Isso transpareceu na sua confiança e alegria. Tem a ver com uma sociedade civil de verdade. A nossa refletiu só o nacionalismo do partido. Não foi um reflexo natural da China.

GENTE COMUM Em Londres, poucos eram artistas. Era gente comum, que contribui para a sociedade -e, se há uma celebração, deveria ser para todos, da rainha a uma enfermeira. Fico feliz por todos eles terem seu momento para contar a sua história.

A cerimônia foi sobre pessoas e fatos reais, e mostrou a cabeça independente do diretor, mas, ao mesmo tempo, teve muito humor. Havia um forte sentimento do temperamento britânico.

A cerimônia chinesa teve muito menos informação e nem chegou a ser real. Isso não tem a ver só com a garotinha que foi dublada -um estrago para ela e para a garota cuja voz foi usada-, mas aquele fato simbolicamente mostrou o futuro da nação. Não se pode confiar nos indivíduos, nem depender deles. O mesmo vale para os esforços do Estado.

Em Londres, havia mais "close-ups" -não foram mostradas as grandes formações. Havia o toque humano. Na cerimônia de abertura de Zhang Yimou, em Pequim, não houve quase nada disso. Não dava para chegar até o rosto de uma pessoa e ver a experiência humana.

O que achei melhor na cerimônia de abertura de agora foi o fato de ela sempre voltar a detalhes muito pessoais. É isso o que faz da Grã-Bretanha uma nação confiável; lá, você vê os valores. Qualquer um que a tenha assistido tem um claro entendimento sobre o que é a Inglaterra.

Texto originalmente publicado pelo jornal britânico "The Guardian".

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