Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrissima

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Diário do Rio

o mapa da cultura

Overdose de feijoada

É impossível fugir dela no verão carioca

ALVARO COSTA E SILVA

Quanto maior o calor, mais o carioca come feijoada. Com o verão no auge, fica impossível fugir dela, como se vivêssemos naquela cena do filme "Macunaíma", de Joaquim Pedro de Andrade: mergulhados em orgia numa piscina cheia de lombo, linguiça, costela, paio, orelha, chispe, focinho, pé, rabo.

As escolas de samba deram a largada, entupindo suas quadras aos sábados, quando são servidas mais de mil unidades do prato (o impressionante preparo, em cozinhas industriais, tem início na quinta-feira). Mas onde quer que você olhe, há opções: restaurantes, botequins, quiosques de praia, hotéis, clubes e até livrarias.

Um livro recém-lançado, "A Vitória da Feijoada" (Editora da UFF, 140 págs., R$ 22), ajuda a contextualizar o fenômeno. Escrito pelo historiador Almir El-Kareh, mostra o cotidiano da alimentação no Rio de Janeiro do século 19 com exemplos extraídos da narrativa de viajantes estrangeiros.

Numa cidade que jantava ao meio-dia, já havia nas ruas a quitandeira que, num improvisado fogão de pedras, cozinhava feijões pretos e pedaços de toucinho. Esse legítimo ancestral da feijoada era, segundo Jean-Baptiste Debret, "bastante suculento e misturado a um bom punhado de farinha de mandioca bem amassada forma um bolo substancial suficiente para alimentação diária de um preto".

Daí, evoluímos para a chamada "negra caldeirada", a qual, com alguma coisa do jeitão de hoje, fazia parte do cardápio de bares e restaurantes, como comprovam anúncios do "Jornal do Commercio" de 1849. Até chegarmos àquela servida na casa de pasto G. Lobo, na extinta rua General Câmara, onde teria nascido a moderna feijoada carioca.

Para não deixar o leitor apenas com água na boca, duas dicas: aos sábados, a Toca do Baiacu (rua do Ouvidor, 41, no centro) serve o prato à maneira tradicional, uma exigência de quem comanda as panelas, o proprietário Marco Antônio Targino. Aos domingos, o Renascença (rua Barão de São Francisco, 54, no Andaraí) recebe para um feijão amigo. O amigo, no caso, é Jorge Ferraz, bombeiro aposentado e malandro em tempo integral. Jorge não tem preconceito: feijão para ele é de todas as cores.

VAI TRABALHAR, SAMBISTA

O mesmo Renascença, fundado no fim dos anos 1950 como lugar de divertimento e afirmação da cultura negra, é palco de outro fenômeno. Tocado pelo compositor Moacyr Luz, o Samba do Trabalhador reúne multidões há oito anos num dia e horário, digamos, ingratos para quem trabalha: segunda-feira, às 16h.

Um registro dessa festa de família deve sair no final do mês que vem em CD e DVD pela gravadora Lua Music (preços sugeridos de R$ 23 e R$ 34, respectivamente). No primeiro formato, composições de Moacyr com seus muitos parceiros; no segundo, a chance de ver as figuras que lá se apresentam -destaque para o imbatível cantor e compositor Efson, que interpreta suas próprias músicas gesticulando muito, o que o torna uma atração à parte.

Acessando o site bit.ly/estranhou é possível acompanhar a apresentação da inédita, porém conhecida, "Estranhou o Quê?".

ELE VOLTOU

Uma notícia sacudiu o meio boêmio carioca no fim do ano passado: o bar A Paulistinha reabriu! Fechado há quatro anos, dava toda a pinta de que morrera para sempre. Eis que de repente lá estavam a chopeira torneada em bronze do início do século 20, com torneira vertical e 100 metros de serpentina e a gostosa sacanagem -feita de provolone, salaminho, tomate e cebola em conserva espetados no palitinho, versões com ou sem pimenta.

Desde então há romaria à rua Gomes Freire, 27, na Lapa.

CARNAVAL À VERA

Depois de se abastecer no A Paulistinha, o escritor Marcelo Moutinho segue para o Sambódromo.

Com ele, a palavra: "Os ensaios técnicos foram a coisa mais bacana surgida no Carnaval carioca nos últimos anos. Muito mais do que homens voadores ou alegorias vivas".

"Primeiro", prossegue Moutinho", porque possibilitaram que o folião brinque sem a marcação de zagueiro que costuma acontecer nos desfiles à vera. Segundo, porque, sem superalegorias e efeitos especiais, fazem lembrar um tempo em que os quesitos mais afeitos ao samba em si -a música, o canto, o ritmo, a dança- eram os elementos principais da festa. E, terceiro, porque permitem que a população sem grana para pagar os caríssimos ingressos do desfile oficial confira gratuitamente o trabalho e a arte das escolas".

Hoje tem Mangueira.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página