São Paulo, domingo, 01 de maio de 2011

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DEPOIMENTO

Na beira do abismo

Conto de natal atrasado

RESUMO
O idealizador e codiretor da Mostra de Cinema de São Paulo narra sua luta contra dois tumores malignos no cérebro, descobertos no final de 2010; descreve a cirurgia, o tratamento (à base de quimioterapia e um medicamento experimental) e o pós-operatório; e faz um retrospecto de sua carreira e de sua história familiar.

LEON CAKOFF

FUI CONVIDADO A ESCREVER estas memórias recentes, o que me deu um novo alento, uma sobrevida (palavra que odeio), desde a descoberta de dois tumores no cérebro na virada do ano.
Alentos novos são bons, oxigenam a mente, e acho que é disso que estou precisando. Será uma luta contínua, que começou com um câncer de pele, o melanoma maligno que me deu trégua desde 2002 e agora volta a me atacar o corpo.
"Mas a longevidade aumenta... Graças à medicina...", pontuou Manoel de Oliveira, 102, no filme que fizemos juntos, "Do Visível ao Invisível". Sem os progressos da medicina, é provável que não tivesse sobrevivido em 2002.
Construí este relato em cada uma das sete voltas que dava na praça John Lennon, no bairro paulistano do Alto da Lapa, desde o meu pós-operatório. Sabia do poder regenerador de suas canções, mas não do poder relaxante da praça circular que leva o seu nome. Lennon me marcou pela primeira vez em 1971, ao olhar impaciente para a minha objetiva e repetir a cena de abrir a camisa e mostrar "Yoko Ono" escrito no peito (havia perdido a cena enquanto corria para armar a câmera e lhe pedi, quase implorando: "Again, Lennon, please, again").
Converso então com estas linhas e as repenso a cada dia. Iriam me ajudar e poderiam ajudar mais gente a enfrentar de cabeça erguida e com fé o carma da doença. "É corajoso o que você vai fazer. Muitos médicos não conseguem", diz o neurocirurgião Salomon Benabou, chefe da equipe de Radiocirurgia do Hospital Beneficência Portuguesa (com Maria Cecília Leme, Suely Maymone de Melo e Susana Mário), onde o segundo melanoma no cérebro foi atacado por raios radioativos com um equipamento de ficção científica.

ESTIGMA O câncer é um estigma duplamente silencioso e pode afetar a autoestima das pessoas. A mais-valia deprecia suas vítimas, por mais fortes que sejam. O câncer de Steve Jobs provocou uma baixa de 3% nas ações da Apple com o seu afastamento, em janeiro. E, com o seu reaparecimento, subiram coisa de 1% no anúncio do iPad 2, em março. Foram 2% para o bolso de especuladores.
Volto à realidade nos subsolos dos hospitais. Vejo de perto pacientes de todo o país entregues à quimioterapia, radioterapia e a outros remédios que a ciência e a fé oferecem. As mulheres, invariavelmente de lenço na cabeça por causa dos cabelos perdidos, vendo com olhos opacos o plasma das TVs com Ana Maria Braga e seu papagaio conivente, esperando a vez da consulta. Os homens, indiferentes, com os olhos perdidos, apesar dos noticiários na TV e das revistas recicladas de consultório.
Tragédias na serra fluminense, depois no Egito, depois na Líbia, depois no Japão, em Darfur... Notícias que já nos acostumamos a receber com o torpor da impotência, o consolo da distância, sem reação. Contamos, no rastro de uma tragédia, com a reação de "outros". Sem ela, a notícia ruim parece incompleta. Mas não há zonas de conflito nessa espera silenciosa de pacientes, sejam do SUS, de convênios ou particulares.

SOLIDARIEDADE Saio do torpor anestésico na UTI do hospital e vejo meu sogro, Geraldo Vicente de Almeida, ao pé da cama. Ele é oftalmologista. Tem 50 anos de dedicação à Santa Casa e acaba de ser homenageado por Wim Wenders no curta "Ver ou Não Ver", outro segmento do longa "Mundo Invisível", que a Mostra está terminando de produzir com a Gullane Filmes. Graças a ele, a solidariedade se alastra pela Santa Casa para salvar a minha vida na cirurgia de emergência, às vésperas do Natal, quando descobri um tumor cerebral. (Walter Salles, depois, fez piada: "Você é o único caso na história a ser salvo por um sogro...".) Um tumor não, dois! Diagnóstico tardio, por causa do misto de estresse pós-Mostra, muito cansaço, dor de cabeça, preocupações, confusão mental. E o dissabor com maus fornecedores.
Mesmo assim, fui surpreendido por números inimagináveis para uma só Mostra: mais de meio milhão de espectadores, visitantes das duas exposições para as fotos de Wim Wenders, os desenhos de Akira Kurosawa, "Metropolis", de Fritz Lang, ao vivo com a Orquestra Jazz Sinfônica e a batuta do maestro João Galindo, no parque Ibirapuera.

ERRO O alerta principal do meu estado pré-colapso veio da profissão de repórter: percebi que não conseguia mais digitar direito. Como assim, um jornalista se confundindo com o teclado e as palavras? Tem coisa aí... Na solidão do pensamento, as mãos me traíam no teclado. Digitava errado e não percebia onde estava o erro.
O melanoma maligno que combati em 2002 voltou silencioso em 2010. "Caprichoso", me disse Drauzio Varela. "Ele gosta de atacar o cérebro, mesmo depois de passados dez anos." Se fosse no lobo esquerdo, poderia até morrer sem perceber nada, ou tarde demais. Foi no direito.
Já Hector Babenco, antigo combatente do câncer, quis brigar comigo. "Convença-se disto: você precisa de um oncologista e não de um dermatologista, tá me entendendo?" Mas me deu também um conselho carinhoso: "Vá à cirurgia mentalizando uma canção e a cante intimamente, até que o efeito da anestesia te apague".
Pensei, pensei e escolhi "Hey Jude", de Lennon e McCartney: "Hey Jude, don't make it bad...Take a sad song and make it better..." Foi "Hey Jude" que fez meu filho de 12 anos desabar em choro, com enorme emoção (minha também), no show de McCartney, no Morumbi, em novembro. Era como se todos os Beatles estivessem lá. Inesquecível.

CORREDORES E assim fui levado pelos corredores até o centro cirúrgico. No caminho, uma ideia es-drúxula, mas acho que espirituosa. Por que não aproveitar o teto dos corredores a caminho da mesa de cirurgia, com a cabeça na maca voltada para cima, para fazer publicidade? Remédios, desejos de boa sorte em nome de laboratórios, sugestões de roteiros turísticos etc. Ah, a publicidade!... Esse misto de casta, gênio, glamour e impunidade...
Repete-se com as cervejas o mesmo perigo impune com que cineastas, protegidos pelo anonimato, produziam em série "lindos" comerciais sobre cigarros que nos davam ilusões de liberdade, charme e sucesso. Meus filhos menores se divertem a cada novo comercial (acho que ainda não com a vulgaridade a que são submetidas as mulheres) e me alarmam com o seu interesse na bebida. Como com os cigarros, o governo reage: aumentando os impostos!!!
De volta à UTI, vejo o sogro dividido entre ciência e religião. Ele sacramenta um "milagre de Natal!" em seu diagnóstico particular. Antes, confere comigo, ainda drogado, para que repita todo o procedimento neurológico em casos delicados como este. E eu era o único a não saber ou não registrar o que me foi dito nos dias confusos e tensos à espera da cirurgia -a possibilidade de ficar com o lado esquerdo do corpo paralisado...
O que eu murmurava choroso na véspera era que não queria perder a memória, meu único capital. A memória de todos os filmes que me deram esta formação, estas certezas e energia, a confiança e vocação convictas de usar o cinema como agente libertador, a minha vocação humanista, os salmos que repito com os filmes que vejo.
A médica Maria Cecília, da Radiocirurgia, reforça a necessidade de ter fé. Pede que converse com Deus. Mas e o constrangimento? Conflito entre a Sua onipresença e os muito mais necessitados do que eu.

CIRURGIA Os dois tumores foram descobertos em 17/12, em meio ao caos natalino, calor e chuva, depois de uma viagem a Portugal (ironicamente, para celebrar os 102 anos de Manoel de Oliveira no festival de Santa Maria da Feira), mais outra para o Rio. Escapei de voltar morto. A primeira cirurgia foi adiada para o dia 22/12, para que o enorme edema cedesse à pressão intracraniana. Perdi a noção do tempo com o coquetel de remédios.
Ainda na UTI, o sogro, com a máscara que os médicos usam para não demonstrar seus reais sentimentos, pede para erguer a perna esquerda, e eu ergo; pede para subir o braço esquerdo, eu subo. Pede para sorrir, sorrio... Repito tudo e ele se espanta. Com a mesma máscara, ele sentencia: "Milagre de Natal existe!". Vou também acreditar em milagre de Natal...
Mas estou com outra preocupação. Preciso passar adiante um sonho que tive, antes que ele evapore. Estava morto quando acordei... (Leia o texto "O Enigma dos ETs" em folha.com/ilustrissima).
Na sequência, vem todo o resto da equipe de neurologistas (Wilson Sanvito, José Carlos Veiga, Américo Rubens Santos e o anestesista Luiz Piccinini Filho) pedindo para repetir os mesmos movimentos. Ninguém parecia acreditar. Em Sanvito descubro um novo médico-escritor, com tiradas espirituosas em uma série de livros de verbetes. Recomendo o recém-lançado "O Poder Encantatório das Palavras" [Atheneu, 371 págs., R$ 47,20]. Veiga, o cirurgião, diz que a boa pressão arterial e o tônus muscular ajudaram.
Na saída da cirurgia de quatro horas, ligeiramente consciente, vejo Renata de Almeida, minha mulher, que diz, comovida: "Leon, você sempre está na beira do abismo e se salva, não é?". É verdade, tantos anos de Mostra, 34, na corda bamba, e não caí... Sou forte, dizem. Tenho bom tônus muscular. Não fazia ideia. Pode ser de tanto levar porrada e levantar.

ASSISTÊNCIA O kit do hospital sugere assistência psicológica. Lá me indicaram Rafael Schmerling, o oncologista que agora cuida de mim. Era o que me faltava, assistência psicológica... Prefiro relatar o que sinto na forma de livros e artigos. Ou ocupado com a seleção da Mostra. Não desconsidero a necessidade alheia por analistas. Mas prefiro imaginar que realmente sou forte e que essa força me levou a superar até aqui imensos traumas e complexos.
Emigrante, pais armênios com sotaque, pobreza, fome, roupas puídas; baixinho, crítico amedrontado aos 19 anos nos anos de chumbo, ditadura, censura, frustrações, engolindo sapos de toda espécie, sofrimento por filmes nunca vistos, apenas imaginados, culpar os outros pelo que não se fazia... Quem sabe se fazendo análise não saem mais minhocas.
Por indicação do Drauzio, voltei a procurar Antonio Buzaid (que não me retornou as ligações) e depois, por nova indicação, o Fernando Maluf, que me apresentou a Schmerling. Nesse meio-tempo, uma virada de mesa no Sírio-Libanês. No Sírio havia guardado a sensação de se confundir paciente com cliente. Não deve ser exclusivo deles. Os três médicos com suas equipes migraram para o São José, da Beneficência, uma tremenda baixa no Sírio.
Mas, lendo um artigo em "O Estado de S. Paulo" de 20/3, que anuncia "oncologia de primeira linha, voltada para a elite econômica do país", sigo tendo a impressão de que a tríade "investimento, negócio, retorno" não muda na oncologia. Não quero ser leviano, ainda mais considerando o que diz Manoel de Oliveira no começo deste artigo.
Segundo a médica Maria Cecília e suas lembranças de quando trabalhava nos Hospital das Clínicas, pouca coisa se poderia fazer lá atrás com este meu diagnóstico. Aos operados com tumor cerebral que voltavam ao pavilhão coletivo, era a morte ou chance de dois dias de sobrevida. Os aflitos, aguardando na fila da cirurgia, preferiam fugir de pijama descendo sem rumo a avenida Rebouças.

UTI Lágrimas a caminho da UTI. Fico com o milagre na cabeça e os movimentos preservados. Na euforia, junto forças para avisar os amigos por e-mail, em busca de solidariedade (perdoem-me os olvidados). Precisava ativar essa corrente.
Funciona e faz bem. Os retornos foram emocionantes, me senti energizado.
Nos 17 dias de internação, adorei também os anjos da guarda da enfermaria, o carinho, os sorrisos inesquecíveis, os bandejões que devorava com apetite maluco, estimulado por altas doses de corticoide. Acho que adoro comida de hospital desde que meu pai, cardíaco, foi obrigado a seguir uma dieta sem sal.
Fiquei com quatro pinos de titânio dentro da cabeça, mas, por favor, sem valor comercial...
Faço o sinal da cruz agora com a mão esquerda e o repito diariamente. Minha convicção religiosa é agnóstica. Fui carregado às igrejas pelas mãos da mãe, que queria me transferir as suas dores. Sua "culpa": ter escapado do genocídio armênio de 1915, aos quatro anos de idade...
Retomo agora a via-crúcis no centenário de nascimento da minha mãe, Victoria, com um roteiro pelo qual o cineasta canadense Atom Egoyan se apaixonou, e Daniel Rezende heroicamente editou. Acho que foi o excesso de liturgia que afastou os fiéis das igrejas. Senta, levanta, ajoelha, abraça... Mas a mensagem humanista fica. Apesar de suas suspeitas sacristias e inocentes coroinhas.

SOL Culpado? Posso ser o único, certamente, se for ficar com o diagnóstico do que leva a ter melanoma maligno: o sol e seus excessos. Ou as alfaces que comi em Praga por uma semana, sem saber de Tchernobil. Os agrotóxicos, o celular?
O quadro: infância pobre; férias e litoral, raramente. Quando ia, me estorricava com a ilusão de guardar o bronzeado pelo resto do ano. Voltava muitas vezes com bolhas de queimaduras nas costas. Protetor solar? Naquele tempo, bronzeador, quando muito. Detalhe absurdo para um país tropical: até hoje, protetor solar paga impostos indecentes, por ser enquadrado como cosmético.
Organizei meu pós-operatório até com euforia e prazer. Juntei os livros que há tempos queria ler e os DVDs para finalmente ver ou rever. Convivi mais com os filhos (Pedro, Laura, Jonas e Tiago). Tinha a premonição de que um dia conseguiria ficar mais com eles. Muito triste a memória que deixamos para trás por falta de tempo. É sempre a ditadura e a sedução pelo novo. Não olhar para trás é como renegar seu próprio histórico de prazeres e descobertas. É como um crime de lesa-individualidade. Quem não gosta de olhar para trás é político.

MOSTRA Penso agora em dar um bom rumo à memória da Mostra e a todo o seu acervo precioso. Faz tempo que tento convencer várias entidades e autoridades. Não perdi ainda as esperanças. Quero um centro para poder organizar e disponibilizar essa memória a consultas públicas. Com a Renata, codirijo a Mostra desde a sua 13ª edição. Vamos chegar em 2011 à 35ª Mostra, número a ser celebrado.
Minha luta continua. Agora, a surpresa de novas metástases viajando pelo corpo.
A primeira é no fígado. Pode haver outras, mas as punções são invasivas demais.
Comecei o combate com as sessões de quimioterapia e já senti que não é mais aquele rosário de reações adversas.
Mas este combate começou muito antes. Com exercícios constantes de resistência. Contra o isolamento na ditadura militar, pela quebra do monolítico estado de censura no país, pelo cineclubismo iniciado no auditório do Masp, pela luta da liberdade de expressão, a solidariedade com cinematografias minoritárias e perseguidas, seja no cinema independente americano ou no Irã.
Pessoalmente, estou me sentido muito, muito bem. É como se não tivesse nada. E assim será. E estou dizendo a todos os parceiros que neste ano quero cuidar prioritariamente da minha saúde e não da saúde da Mostra, cobrindo orçamentos, fazendo acontecer não importa como, como se essa obrigação de cidadania fosse responsabilidade exclusiva de nossa heroica equipe. Milagres de Natal existem o ano todo na Mostra... Enfim, quero tirar 2011 para cuidar da minha saúde. Mas com a paixão regada pelos bons fluidos da Mostra.

REMÉDIO EXPERIMENTAL Uma corrente de amigos me ajudou a conseguir um remédio experimental, produzido em Cuba com o veneno de um escorpião azul. É de distribuição gratuita, mas é preciso ter um diagnóstico com médicos locais para obter a receita do Escozul. A quimioterapia é para o corpo todo. Tive a sorte de encontrar um oncologista com ótimo astral, que controla com remédios qualquer possibilidade de psicossomatizar o que quer que seja. Tenho agora que ser um paciente real. Esperar mais algumas aplicações para refazer a batelada de exames.
O importante, então, vai ser controlar o progresso das metástases. E só Deus saberá o que terá me curado. Ele, os amigos, as gotas diárias de Escozul, que os cubanos extraem do veneno de um escorpião azul, o tratamento, "os progressos da medicina", o cinema.
Falta agora vencer mais esta luta! E, desta vez, com ferramentas de autoajuda que de novo busco nos filmes: de cabeça erguida como James Stewart nos filmes de Capra; de corpo e alma, como nos filmes de Bergman; com espírito elevado, como os anjos de Wim Wenders; com otimismo, como nos escombros do neorrealismo italiano... ou até mesmo com a irreverência de um Totó que nunca se deixou abater no pior dos cenários.

CINEMA Não queria que este artigo terminasse nunca... Acredito no poder regenerador do cinema. Convencemo-nos disso, Rubens Ewald Filho e eu, na última visita que ele me fez. Falamos de um cinema que nos arrepia e que nos faz companhia, que mexe com as vísceras, que faz palpitar o coração, que faz chorar.
Não é um cinema qualquer. Faço um retrospecto de tudo o que vi e, como em Rosebud de Orson Welles, volta à lembrança a fantasia de Julio Verne.
Lembro de minha primeira saída para ir ao cinema, conduzido por minha mãe pelas ruas hostis de Alepo, no norte da Síria. Lembro dela cheia de dedos, preocupada em não me perder em meio à multidão. Tínhamos saído da sessão de "Vinte Mil Léguas Submarinas", de Richard Fleischer (1954), e uma coisa fascinava a minha mente de criança na volta para casa -a convicção de que o cinema liberta e faz viajar.
Conheci o mundo pelas suas lentes. Conheci pensadores, escritores, roteiristas, paisagens, culturas, povos, talentos enormes, atores ilusionistas, mestres da luz, lutadores por um outro cinema e por um mundo melhor. Foi toda essa tolerância e curiosidade que me levou a ser também um mensageiro com a Mostra, passando adiante o que aprendi com os mestres que me marcaram e me ensinaram a viver em paz e sem falsas ilusões.

Será uma luta contínua, que começou com um câncer de pele, o melanoma maligno que me deu trégua desde 2002 e agora volta a me atacar o corpo

O alerta principal veio da profissão de repórter: percebi que não conseguia mais digitar direito. Como assim, um jornalista se confundindo com o teclado e as palavras?

De volta à UTI, vejo o sogro dividido entre ciência e religião. Ele sacramenta um "milagre de Natal!" em seu diagnóstico particular

Na saída da cirurgia, ligeiramente consciente, vejo a Renata de Almeida, minha mulher, que diz comovida: "Leon, você sempre está na beira do abismo e se salva, não é?"

Culpado? Posso ser o único, se for ficar com o diagnóstico do que leva a ter melanoma maligno: o sol e seus excessos. Ou as alfaces que comi em Praga, sem saber de Tchernobil

Minha luta continua. Agora, a surpresa de novas metástases viajando pelo corpo. A primeira é no fígado. Pode haver outras, mas as punções são invasivas demais

Só Deus saberá o que terá me curado. Ele, os amigos, as gotas de Escozul, que os cubanos extraem do veneno de um escorpião azul, "os progressos da medicina", o cinema


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