São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2011

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DIÁRIO DE NOVA DÉLI

O MAPA DA CULTURA

Bollywood quer ousar

A nova Índia esbanja confiança

Bollywood, a Hollywood indiana, fatura US$ 3 bilhões ao ano com seus musicais de três horas de duração, mescla de Vincent Minelli e dramalhões mexicanos, filmes responsáveis por produzir as celebridades, os símbolos sexuais e até a trilha sonora da Índia contemporânea.
O país de 1,1 bilhão de pessoas acompanha os lançamentos -são o equivalente local da nossa novela das 9-, e os ingressos podem custar menos de US$ 1 em cinemas no interior, longe dos multiplex modernos das grandes cidades.
Mas o sucesso de "Ninguém Matou Jessica" mostra que algo está mudando nos estúdios de Mumbai (antiga Bombaim, daí a origem do nome), sede da indústria.
O filme conta a história real da modelo Jessica, assassinada a tiros porque ousou esnobar o filho de um político quando trabalhava como garçonete em uma festa, em 1999. O crime foi presenciado por dezenas de pessoas, mas o assassino ficou em liberdade. Testemunhas foram ameaçadas ou compradas, evidências foram apagadas pela polícia.
A imunidade dos poderosos é o coração desse thriller, que em comum com as produções da Bollywood tradicional tem apenas o glamour da protagonista -a vítima era bela, de classe média e sua família foi incansável na busca de justiça.
Outro personagem ausente de Bollywood, as ruas caóticas e pobres das grandes metrópoles, aparece sem maquiagem em "Dhobi Ghat" (Diários de Mumbai), filme barato e recém-lançado. O Wagner Moura indiano, Aamir Khan, é o protagonista e produtor do filme, dirigido por sua mulher, a cineasta Kiran Rao. "Dhobi Ghat" mostra congestionamentos e ratos e ainda fala de desigualdade social. Outro filme produzido por Khan e que participou do festival Sundance em 2010, "Peepli Live", aborda os suicídios (motivados pelo endividamento financeiro) de camponeses no interior do país. Bollywood já está muito além de "Jai-Ho".

ARTE INFLACIONADA
A inflacionada produção artística contemporânea da Índia não sofre de ansiedade de status. Vários artistas locais superaram no último ano a marca de US$ 1 milhão por obra.
Nos últimos meses, um quadro de Maqbook Fida Husain foi vendido por US$ 4,4 milhões e uma tela do veterano Syed Haidar Raza foi leiloada por US$ 3,5 milhões.
No final de janeiro, a terceira edição da maior feira de arte do país, a India Art Summit, reuniu 84 galerias de 25 países.
Os 120 mil visitantes do evento comprovam o momentum: 40% das vendas foram para colecionadores de primeira viagem.
A diáspora indiana esteve também presente. Em exibição, com as obras do indiano-residente-em- Londres Anish Kapoor, um dos astros da feira (suas obras estavam cotadas acima de US$ 1 milhão); e, entre os compradores, ricos compatriotas emigrados para a Europa e os EUA, que apostam que a nova arte indiana só deve se valorizar nos próximos anos -repetindo o fenômeno já ocorrido na China.

LITERATURA SEM CENSURA
A escritora Candace Bushnell, autora dos livros que serviram de base à série "Sex and the City", foi uma das estrelas do Festival Literário de Jaipur.
Na terra do Kama Sutra, falar de sexo em público ainda é tabu. No cinema, beijo na boca é raridade e é vetado na TV. Mas Bushnell não se censurou, foi muito aplaudida e se tornou o curry do evento, que é uma Flip com esteróides.
Em sua sexta edição, o festival atraiu mais de 50 mil pessoas e 250 autores de 30 países participaram de palestras e encontros com o público em tendas espalhadas em um palácio do século 18.
Para quem conhece a Índia, duas grandes surpresas. O silêncio total durante a palestra de J. M. Coetzee, que leu um conto para mil pessoas na platéia. E a igualdade de classes. As entradas são gratuitas e não há setor VIP nem cordão de segurança. Celebridades e estudantes dividem as filas, as mesas das refeições, os banheiros. Um certo caos se instala, mas isso já não é surpresa.

INDIA COLONIAL
Marajás, sua criadagem e nobres britânicos dominam as 200 ampliações digitais do trabalho do pioneiro fotógrafo Raja Deen Dayal e de seus filhos, que retrataram o país por mais de um século, a partir de 1870. A exposição está no Centro Nacional para as Artes Indira Gandhi, em Nova Déli, onde a coleção com 2.500 negativos é preservada desde 1989.
Estilo de vida, arquitetura, natureza e religiosidade são temas dominantes da obra de Dayal, que mostra uma Índia tradicional, arcaica e fascinante, que ainda hoje subsiste no interior.


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