São Paulo, domingo, 06 de junho de 2010

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Diário de Nova York

O MAPA DA CULTURA

O jardim suspenso

Uma escultura viva no topo do Met

NESTE VERÃO PRIMAVERIL, o plácido jardim da cobertura do Metropolitan Museum of Art (Met), com suas incríveis vistas do Central Park e de alguns marcos da arquitetura de Nova York, está sendo engolido por um emaranhado gigantesco e maluco, cada dia maior, de uma escultura viva e pulsante, feita de bambu.
Auxiliados por uma equipe que chega a ter 20 escaladores de rochedos, os gêmeos idênticos Mike e Doug Starn estão construindo uma instalação de 30 metros de comprimento, 20 de largura e 20 de altura, com troncos de bambu e cordas de escalada, que recebeu o título "Big Bambú: You Can't, You Don't and You Won't Stop" [Grande Bambu: Você Não Pode, Não Quer e Não Vai Parar].
O trabalho se afasta radicalmente das exposições em geral bem-comportadas que se realizam na cobertura, de abril a outubro, quando ela fica aberta ao público. São 5 mil varas de bambu -algumas com 15 centímetros de diâmetro e 18 metros de comprimento, curvadas para cá e para lá, amarradas com cordas- formando túneis que parecem flutuar 15 metros acima do Central Park.
Os frequentadores que vão ao Met para ver a mundialmente famosa coleção de obras-primas e antiguidades nunca se lembram do jardim da cobertura. Mas se você for ao museu até o final de outubro, não pode ignorar aquilo que vai ganhando forma lá em cima.
"Nosso trabalho sempre foi sobre a mudança, a obra de arte está sempre fluindo", diz Mike Starn em entrevista à Folha, no meio da floresta de bambus que se eleva na cobertura do Met. "Jamais vai permanecer igual. Não se trata de mudança física -os significados é que mudam."
"Só que tudo na vida muda", acrescenta o irmão Doug, já que um sempre termina as frases do outro. "E tudo é feito de partes, o Grande Bambu é isso mesmo..." "Todos os pedaços da vida que fazem você ser você", diz Mike, "são interconectados e se transformam numa coisa só..." "... e permitem que a próxima coisa aconteça", completa Doug.
"O que acontece é que o Grande Bambu é uma escultura que nunca vai terminar, sempre vamos acrescentar mais pedaços. E isso permite que venha o próximo." Ele aponta o topo da estrutura, onde planejam construir mais galerias aéreas.
Com mais de cem anos, algumas das plantas que servem como alicerces têm a grossura da perna de um homem; outras, mais delicadas, projetam-se no espaço vazio, suspensas, oscilando na brisa.
Alguns dos túneis chegam a ter 25 metros e se espicham em direções aparentemente aleatórias. Há folhas que ganham tons de dourado e que flutuam contra o verde do parque e o azul do céu.
Alguns caules sobem retos; outros se curvam e deixam aparente a tensão que sustenta a escultura. Os irmãos Starn e equipe continuarão a trabalhar no Grande Bambu até o jardim fechar, em 31 de outubro. Ela vai assumir a forma de uma gigantesca onda. Os trabalhos começaram em fevereiro, para que o primeiro setor já estivesse pronto na abertura do jardim, em 27 de abril.
Nascidos em 1961, em Absecon, na costa do Estado de Nova Jersey, os gêmeos descrevem a construção do Grande Bambu como uma "brincadeira".
Mas a logística da peça é fonte de dor de cabeça: o transporte de milhares de bambus pela cidade, a organização da equipe, a adaptação às variações do clima, a burocracia do museu e o trabalho em torno dos grandes aglomerados que inevitavelmente se formam na cobertura.
Não estou dizendo para você pular os 300 Picassos do Met, mas se quiser viver uma experiência museológica única, vá até o alto do museu e passeie pela floresta de bambu construída pelo homem. Melhor ainda, inscreva-se num das visitas guiadas (confira no site metmuseum.org) e dê uma volta pelas galerias que pairam sobre o Central Park. A experiência não será esquecida tão cedo.
Outra área verde do Met, o pátio do jardim chinês das galerias de arte asiática, oferece um bom refresco entre os antigos mestres e as estrelas da arte moderna, entre as esculturas antigas e as antiguidades.
Ao som da água batendo nas pedras, o visitante pode espiar através do teto do átrio, contemplar as esculturas de pedra e o paisagismo que circundam os pavilhões. Reproduzindo um pequeno pátio real do século 17, o jardim faz o visitante voltar à era da dinastia Ming [1368-1644].

Toda sexta e sábado à noite, o Met fica aberto até as 21h. É o momento para evitar multidões e apreciar o acervo. No piano de cauda da varanda, acima da entrada principal, há concertos de música clássica das 17h às 20h. Tome um drinque e fique olhando os 30 metros de altura da rotunda enquanto a música de Tchaikovski e Beethoven flutua na noite.


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