São Paulo, domingo, 11 de julho de 2010

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DIÁRIO DE LOS ANGELES
O MAPA DA CULTURA

Grafite fora da lei

Operação belezura em LA

FERNANDA EZABELLA

NÃO EXISTE ESSA DE GRAFITE bonitinho em Los Angeles. Aqui, grafite dá cadeia, e a delação é premiada. Mas esta é a terra de um dos maiores grafites ilegais do mundo. Ou era.
O bando batizado de MTA pichou em letras colossais seu nome numa das margens de concreto do rio Los Angeles, que corta a cidade, ao longo de 400 metros, numa façanha estritamente fora da lei, mas que contou até com um helicóptero.
Para remover a tinta, em 2009, foram gastos US$ 1,3 milhão. No mês que vem, os dez membros do MTA enfrentarão um processo civil inédito no país. Os promotores querem proibi-los de se encontrar e de possuir "ferramentas de grafite e armas". Querem também estabelecer um toque de recolher entre 22h e 5h para o grupo. Cenário diferente do que acontece no Brasil e na Europa.
Não é fácil ver grafites em Los Angeles, mas eles existem. Um passeio que tem feito sucesso desde janeiro é o LA Gang Tour (US$ 65), focado nos bairros de gangues famosas da cidade. Entre as atrações, está uma oficina de grafiteiros e o próprio rio da cidade.
"Ainda existem grafites às margens do rio", diz Alfred Lomas, fundador do LA Gang Tour. "Mas muitos artistas foram presos, os que estão ativos são poucos."
Há também as galerias de arte. Neste mês, acontece a exposição "Peel Here" (Descasque aqui), com 45 artistas convidados a criar adesivos e lambe-lambes, incluindo Robbie Conal, pioneiro dos cartazes políticos. Há, na exposição, um espaço para troca de "stickers", adesivos geralmente aplicados em placas de rua, caixas de eletricidade, bancos etc., muito comuns no mobiliário urbano de São Paulo, por exemplo.
"Pequenos ou gigantes, esses trabalhos são uma maneira efetiva de fazer sua mensagem chegar às pessoas", disse à Folha uma das curadoras, Rosanna Ahrens. "Mas, ultimamente, tem rolado uma repressão gigantesca em LA", explica ela. "É uma vergonha. Tantas cidades no mundo abraçam a arte urbana. E uma vez que isso acontece, a arte fica melhor, a paisagem fica melhor."
Não é o que pensam os nove funcionários do Los Angeles Office of Community Beautification, órgão da prefeitura que gasta anualmente US$ 7 milhões na belezura da cidade, ou seja, na remoção de grafites. A estrutura conta com uma rede de 14 organizações comunitárias e um telefone 0800 que, em 2009, recebeu 92 mil ligações. Por ano, entre 20 e 30 pessoas ganham US$ 1.000 por denúncias que levem à prisão de alguém.
"Talvez, num futuro bem distante, o nosso trabalho não seja mais necessário", disse Paul Racs, diretor do órgão. "Mas fazemos isso há 20 anos, sabe, e o homem escreve nos muros desde a era das cavernas."

A COZINHA VENDE MAIS Anthony Bourdain, o chef que virou escritor e apresentador de TV, está há duas semanas em segundo lugar na lista dos livros mais vendidos de não-ficção.
"Medium Raw: A Bloody Valentine to the World of Food and the People Who Cook" vem sendo divulgado como a continuação do seu maior sucesso, "Cozinha Confidencial" (Cia. das Letras, trad. Beth Vieira), lançado em 2000.
Mas se há 10 anos ele contava a rotina secreta de um restaurante, turbinada por drogas e falcatruas, agora ele é um pai de família e viajante profissional, apresentando seu programa de TV "Sem Reservas" (Discovery Travel & Living).
"Nunca liguei para o que tem na comida. Se o gosto é bom, está tudo bem. Mas agora que sou pai, só alimento minha filha com comida orgânica", disse ele para uma plateia lotada, numa universidade. "Sem aplausos, por favor."
Bourdain também deu dicas de viagem. "O que é mais seguro? A barraquinha de rua, onde 20 pessoas esperam para comer cabeça de porco, ou o macarrão à bolonhesa do hotel?", perguntou. "Comam o que os locais comem. O cara da barraquinha não está há 20 anos envenenando seus vizinhos."

MELHOR E PIOR HAMBÚRGUER De passagem por Los Angeles para divulgar o livro, Bourdain não hesitou ao ser perguntado sobre seu restaurante favorito na cidade: In-N-Out, famosa cadeia de lanchonetes californiana.
Os angelenos são obcecados pela In-N-Out. Existe um menu secreto que vai além das pouquíssimas opções oferecidas no display acima do caixa -três tipos de hambúrguer, fritas e bebidas.
Fundada em 1948, até hoje é uma empresa familiar. A única herdeira é uma garota de 28 anos. Não existem franquias e, no total, são pouco mais de 200 unidades em quatro Estados. Não existem microondas nem freezers nos restaurantes. As batatas são descascadas manualmente. Nas embalagens de papel, outra tradição: discretos versículos da Bíblia.
Em 2009, o guia "Zagat" escolheu o hambúrguer In-N-Out como o melhor entre as cadeias de fast food dos EUA. Neste mês, porém, a revista "Health" listou os pratos mais gordurosos do país. Pela Califórnia, venceu o hambúrguer duplo do In-N-Out, que tem duas vezes mais gordura do que o equivalente do McDonald's.


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