São Paulo, domingo, 15 de maio de 2011

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RÉPLICA

Crime imprescritível

O cruzador Bahia foi torpedeado por submarino alemão, insiste historiador

RESUMO
Em réplica a crítica publicada na Ilustríssima de 8/5, o historiador argentino Carlos De Nápoli reafirma que o cruzador brasileiro Bahia foi a pique em julho de 1945 após ser torpedeado por um submarino alemão, e não em decorrência de um disparo acidental do navio contra sua própria popa, conforme o registro oficial.

CARLOS DE NÁPOLI
tradução CLARA ALLAIN

NA ÚLTIMA EDIÇÃO desta prestigiosa publicação, datada de 8/5, o jornalista Ricardo Bonalume Neto zombou fartamente de meu trabalho "Ultramar Sul - A Última Operação Secreta do Terceiro Reich" [trad. Sérgio Lamarão, Civilização Brasileira, 490 págs., R$ 57,90], escrito em coautoria com Juan Salinas.
É evidente que um autor deve suportar críticas favoráveis e outras nem tanto, já que recebê-las faz parte de seu ofício.
Não obstante, protesto contra as ironias que essa pessoa faz com os mortos do cruzador brasileiro Bahia, 336 marinheiros que morreram em meio a sofrimentos indizíveis, reproduzindo uma ilustração em que se vê Hitler fugindo em um submarino extraterrestre, enquanto dois torpedos se dirigem ao navio brasileiro.

CRIME DE GUERRA Ocorrido em 4 de julho de 1945, dois meses depois da rendição da Alemanha, o fato configura crime de guerra e lesa-humanidade, imprescritível para o direito internacional. O comandante do submarino U-977 disparou dois torpedos contra a popa da embarcação brasileira, que afundou em poucos minutos nas proximidades do arquipélago de São Pedro e São Paulo.
É evidente que não fui eu, como pretende o autor do trabalho, quem introduziu a teoria do torpedeamento, já que as edições da própria Folha, juntamente com quase todos os jornais brasileiros, mencionam o assunto a partir de 11 de julho de 1945, tendo as publicações endossado as afirmações feitas pelo almirante Jorge Dodsworth Martins no sentido de que o cruzador Bahia tinha sido torpedeado [leia abaixo a cobertura do naufrágio nos jornais do Grupo Folha].
No momento de dar os pêsames aos familiares desaparecidos no mar, a carta do presidente Getúlio Vargas afirma claramente que os marinheiros "foram tomados de surpresa e assassinados", com o que resta pouco o que acrescentar.

DEPOIMENTOS Existem, contudo, outros depoimentos fundamentais a esse respeito. O almirante Ary dos Santos Rongel, em seu artigo "Station Thirteen", diz textualmente: "Eram aquelas águas que haviam sorvido o nosso querido cruzador Bahia, vítima de torpedeamento..." ("Revista Marítima Brasileira").
Não obstante, foi o comandante da Marinha brasileira, Roberto Gomes Cândido, quem mais aprofundou o tema, publicando um estudo detalhado sobre o incidente e mostrando documentação abundante sobre a hipótese do torpedeamento.
Para não me estender, prefiro omitir aqui as palavras do capitão Heinz Schaeffer, do U-977, que viveu na Argentina após a guerra, gabando-se do afundamento do Bahia, por serem ofensivas tanto às vítimas como ao povo brasileiro. Esse criminoso nazista viveu até 1960 a 80 metros de minha casa.
Deixando de lado os termos injuriosos do jornalista, já que ele não faz crítica ao livro, mas sim zomba dos autores, o leitor verá que existem elementos de sobra para termos apresentado no trabalho a hipótese do torpedeamento. Resta mencionar que, dos 14 torpedos que carregava ao deixar a base nazista de Horten, o U-977 entregou-se no porto argentino de Mar del Plata com dez torpedos, sendo que existe o documento original de sua entrega à Marinha argentina.
Um jornalista da Folha esteve presente durante o lançamento do livro em São Paulo (na Casa do Saber, em 18 de outubro de 2010), evento divulgado pelo jornal, e, apesar de eu ter levado farta documentação, por alguma razão estranha a única pergunta feita pelo jornalista foi irrelevante.
Resta de minha parte apenas oferecer aos parentes daqueles que ali morreram toda a documentação já apresentada no livro "Ultramar Sul", além da que se tenha conseguido posteriormente, para fazerem uso dela da maneira que desejarem.
Quanto a mim, como historiador, não me movem questões de outra índole senão a simples busca pela verdade dos fatos.

Quanto a mim, como historiador, não me movem questões de outra índole senão a simples busca pela verdade dos fatos


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