São Paulo, domingo, 16 de outubro de 2011

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DIÁRIO DE PARIS
O MAPA DA CULTURA

Um rival para Sarkozy

O PS decide hoje seu candidato para 2012

SERGE KAGANSKI
tradução PAULO WERNECK

HÁ UM MÊS, a direita zombava das prévias do Partido Socialista, prevendo uma bagunça na esquerda. Todavia, com o crescimento dos socialistas nas pesquisas eleitorais e o sucesso das prévias do partido -no primeiro turno, domingo passado, votaram 2,6 milhões de eleitores, enquanto os responsáveis no PS esperavam 1 milhão-, a direita já ri menos.
O deputado François Hollande (que obteve 39% dos votos) e Martine Aubry (31%) disputam hoje o segundo turno. O vencedor será o adversário de Nicolas Sakozy nas eleições presidenciais de 2012. Na direita já se ouve, à boca pequena, que realizar prévias em outros pleitos pode ser boa ideia.

UM BELO BORDEL
É o filme francês do momento, talvez do ano. "L'Apollonide - Souvenirs de la Maison Close" (que estreia por aqui no dia 28, com o subtítulo "Amores da Casa de Tolerância"), de Bertrand Bonello, foi apresentado na seleção oficial de Cannes, mas não ganhou nada. Pela temática e pela estética envolvente, o diretor evoca "Flores de Xangai", de Hou Hsiao Hsien, nessa crônica do dia a dia de um bordel parisiense na virada do século 20. E conseguiu mesclar a crônica realista ao sonho opiáceo.
Desejos, sonhos e problemas cotidianos das prostitutas brotam da veia realista, bem como as dificuldades financeiras do prostíbulo, uma pequena empresa como outras. O cenário e o figurino requintados, a permanente reclusão, o tempo diluído e a confusão entre dia e noite dão ao filme uma dimensão onírica, fantasmática, impregnada das artes da época -vêm à mente as pinturas de Courbet ou de Manet, os poemas de Baudelaire ou Téophile Gautier, Proust.
Obra de esteta, "L'Apollonide" possui também uma discreta dimensão política, com Bonello mostrando-se solidário a suas personagens femininas vítimas de uma sociedade dominada pelos homens e por seus desejos.

AMOR E ÓDIO AO CINEMA
Quadrinista reconhecido (Grande Prêmio no Festival de Angoulème em 2009), Blucht acaba de publicar um "ensaio desenhado" dedicado à sua relação de amor e ódio com o cinema.
Em páginas que têm mais a ver com a autoanálise do que com a narrativa clássica, Blucht celebra filmes e atores que marcaram sua vida de espectador, de Burt Lancaster a Ava Gardner, de Orson Welles a Luchino Visconti.
Mas o livro não é só uma homenagem tradicional: Blucht parece sentir também certo rancor contra o cinema, como as críticas que vira e mexe fazemos às pessoas que amamos demais, como se quisesse testar e desafiar o espectador que ele próprio foi na infância. Não há dúvida de que o autor quer denunciar a cinefilia, os excessos do fetichismo, certa devoção religiosa, o poder excessivamente totalizante do cinema. Talvez lamente que ele ocupe um lugar tão grande entre as artes populares, em detrimento dos quadrinhos. "Pour en Finir Avec le Cinéma" (para acabar com o cinema, ed. Dargaud) é um álbum magnífico não só pelos desenhos, mas também pela forma honesta, profunda e por vezes ácida como expõe seu amor problemático pela sétima arte.

A AVENTURA DOS STEIN
A mostra "L'Aventure des Stein", que veio para o Grand Palais no último dia 5 (até 16 de janeiro), depois de ter passado por San Francisco e antes de seguir para Nova York (no Metropolitan a partir de 1o de fevereiro), é uma ocasião para ver reunidas obras-primas da vanguarda do século 20, de Matisse a Picasso, de Cézanne a Degas.
Isso já bastaria para justificar a visita. Mas a origem dos quadros -as coleções da família Stein- faz da exposição oportunidade para celebrar o faro incrível dos Stein (Gertrude e o irmão Leo, Michael, o outro irmão, e sua mulher Sarah), todos no exílio parisiense nos anos 1900 (o mesmo período em que Bonello situa seu filme).Eles foram os primeiros a acreditar em Matisse ou em Picasso. Isso lembra que uma obra precisa encontrar um público para existir plenamente, e que certos espectadores mais curiosos, sensíveis ou informados que outros têm um papel central na história das formas e no destino dos artistas.
Imagens e informações podem ser vistos no sites dos museus que abrigaram a exposição: em inglês, sfmoma.org/steins, e em francês, rmn.fr/stein.

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