O controverso compêndio de Wilson Martins (1921-2010) é a primeira obra do crítico paranaense a enfrentar o crivo da posteridade. No início deste ano, seu legado foi foco de polêmicas entre grupos acadêmicos, que se disputaram em virulentos obituários e textos críticos. Reeditado pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e apresentado pelos editores como "maior ensaio produzido por um autor nacional", "painel maior de nosso país", o livro tem organização cronológica e registra em 4.596 págs. a produção intelectual brasileira de 1550 a 1960. Autor e obra já foram enxovalhados e exaltados com igual ardor por detratores e entusiastas -"uma porcaria" (Caetano Veloso); "esforço de pesquisa documental exaustiva, pela disposição de compor inventários, séries cronológicas e biobibliográficas" (Alcir Pécora); "velho modelo de crítica [...] ilha intemporal, propositadamente cega, sem lugar para a dúvida" (Flora Süssekind); "livro síntese, modelar no gênero" (André Seffrin). A edição carece de uma fortuna crítica (pró e contra, bem entendido) que mostre seu alcance na justa medida. O que é difícil, pois, em se tratando de Wilson Martins, são raras as opiniões menos apaixonadas, como a de Marcelo Coelho, em seu blog na Folha: "Trabalho abrangente e, até onde sei, o mais completo já feito. Mas é uma leitura bem cansativa".
Editora da UEPG | Sete volumes | R$ 45 (cada volume) ou R$ 270 (a coleção)

SÉRGIO BUARQUE
"Vale do Paraíba - Velhas Fazendas"
Publicado originalmente em 1975 e ilustrado com bicos de pena de Tom Maia, este ensaio do autor de "Raízes do Brasil" descreve o processo de colonização da região em torno do rio Paraíba do Sul (entre SP e RJ), um dos polos da economia brasileira durante o ciclo do café, no século 19.
José Olympio | 112 págs. | R$ 25

JEAN-YVES MOLLIER
"O Dinheiro e as Letras"
Nesta história do capitalismo editorial na França, o historiador se detém na formação do mercado do livro no país a partir da fundação das editoras que marcaram sua paisagem livresca desde o final do século 18.
Edusp | Trad. Katia Aily Franco de Camargo | 696 págs. | R$ 97

MARX E ENGELS
"Manifesto Comunista"
Com nova tradução do professor de teoria literária na USP Marcus Mazzari, o texto fundamental da ideologia marxista, publicado em 1848, analisa a luta de classes no momento em que o capitalismo se estabelecia na Europa.
Hedra | 118 págs. R$ 14

CONTOS SOBRENATURAIS CHINESES
O livro reúne 25 narrativas ilustradas que remontam ao século 5º a.C. e testemunham o caráter fabulatório da milenar tradição literária chinesa.
L&PM | Trad. e org. Márcia Schmaltz e Sérgio Capparelli 128 págs. | R$ 38

ANDRÉA DORÉ
"Sitiados"
A historiadora discute a expansão portuguesa na Índia, entre os séculos 15 e 17, que, segundo ela, se deu entre o navio e a fortaleza, em meio ao cerco inimigo. "A fortaleza como um espaço fechado ancorado no porto e o navio como uma fortaleza flutuante", relata.
Alameda | 320 págs. | R$ 49

JUAN SALINAS E CARLOS DE NÁPOLI
"Ultramar Sul"
Coautor, com Juan Salinas, desta história da fuga de nazistas para a Argentina a bordo de submarinos, o jornalista argentino Carlos De Nápoli dá palestra na segunda, às 19h, na Casa do Saber, em São Paulo, sobre "a última operação secreta do Terceiro Reich".
Civilização Brasileira | Trad. Sérgio Lamarão | 490 págs. | R$ 57,90

MUTAÇÕES - A EXPERIÊNCIA DO PENSAMENTO
Fruto de ciclo de palestras realizado em 2009, o livro reúne ensaios de Vladimir Safatle, Jorge Coli e Antonio Cicero, entre outros, sobre como pensar o mundo dominado pela tecnociência.
Edições Sesc-SP | 432 págs. | R$ 67

exposição

SÃO JERÔNIMO PENITENTE NO DESERTO
Doada ao Masp em 1952 e recém-chegada do Museu do Louvre, onde foi restaurada, a tela que o renascentista italiano Andrea Mantegna pintou entre 1448 e 1451 é o destaque da mostra "Deuses e Madonas". Com obras de outros mestres da pintura europeia -como Rafael, Botticelli, Tintoretto, El Greco, Poussin e Delacroix-, a exposição trata da representação do sagrado na arte. "Durante largo tempo, o sagrado foi um tema privilegiado da arte e era o sagrado que interessava, não a arte que o exprimia", avalia Teixeira Coelho, curador da mostra com Denis Molino. "Deuses e Madonas" também apresenta instalação do videoartista Eder Santos a partir do quadro "O Julgamento de Páris" (1710-20), de Michele Rocca.
Masp | São Paulo | Até 16/1

ANA SARIO E MARIANA SERRI
As ilustríssimas pintoras apresentam exposições individuais com trabalhos sobre a paisagem. "Em Lugar Comum", Ana Sario mostra uma série de 14 telas e outras seis obras sobre papel. Mariana Serri, em "We Live on a Mountain", também apresenta 14 pinturas, além de quatro fotografias.
Galeria Virgilio | São Paulo | De 22/10 a 13/11

cinema

CHRIS MARKER E MONSIEUR CHAT
Euclides Santos Mendes
O enigmático diretor de "La Jetée" (1962) e "Sans Soleil" (1983) tem fascínio por gatos. ?Ao que consta, sempre que jornalistas lhe pedem uma fotografia, Chris Marker, 89, envia imagens de Guillaume, seu gato de estimação. Entrevistas, então, nem pensar.
Fascinado pelo felino, ele segue, no documentário "Gatos Empoleirados" ("Chats Perchés", 2004), os rastros deixados por um sorridente gato amarelo grafitado em vários locais de Paris. Monsieur Chat está presente em diversas manifestações que agitam a capital francesa no rebuliço pós-11 de Setembro: contra o bombardeio de Bagdá, o avanço da extrema direita nas eleições presidenciais na França em 2002, a xenofobia, pelo combate à Aids. Daí surge um singelo porém contundente manifesto pela paz, em que Monsieur Chat torna-se símbolo de alteridade e tolerância.
O respeito de Marker pelos animais pode ainda ser mensurado pelos curtas reunidos nos extras do DVD. "Viva a Baleia" (1972, codirigido com Mario Ruspoli) é o mais intenso, assinalado pelas cruéis imagens da caçada ao mamífero e pela poética de Herman Melville.
Está previsto para novembro o lançamento ?de outro filme de Marker em DVD: "Elegia a Alexandre" (1993).
DVD VideoFilmes | R$ 50


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