São Paulo, domingo, 18 de setembro de 2011

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DIÁRIO DE LOS ANGELES
O MAPA DA CULTURA

"Chicanos" dominam LA

Museus recebem arte e folclore de "gangues"

FERNANDA EZABELLA

INJURIADO COM A FALTA de arte "chicana" no maior museu da Costa Oeste americana, Harry Gamboa foi questionar o curador do Museu de Arte do Condado de Los Angeles (Lacma), que simplesmente argumentou: "Chicanos não fazem arte, chicanos fazem folclore ou entram em gangues".
O ano era 1972. Naquela noite, Gamboa e seus amigos, todos "chicanos", americanos de ascendência mexicana, voltaram para pichar suas assinaturas na fachada do museu. Hoje, quase 40 anos depois, a única foto do ataque está exposta no próprio Lacma, como parte de uma retrospectiva do grupo Asco, famoso pelas performances absurdas, uma delas capturada por Agnès Varda para o Festival de Cannes e parte da mostra.
"Chicanos" também são tema de exposições no Fowler Museum: uma de fotografias de Oscar Castillo sobre a comunidade angelena e outra com obras de diversos coletivos, como Goez, Los Four e Sparc. Os eventos fazem parte do projeto "Pacific Standard Time", que reunirá 60 instituições culturais para celebrar a arte produzida em Los Angeles entre 1945 e 1980. A programação está no endereço pacificstandardtime.org.

ESCOLA DO COOL
Uma boa opção é mergulhar nas animadas festas narradas no livro recém-lançado "Rebels in Paradise" (rebeldes no paraíso, Henry Holt, 288 págs., R$ 62,70), sobre o nascimento da cena artística da cidade que, no começo dos anos 60, mal tinha público ou um museu de arte moderna.
Como uma página em branco, Los Angeles virou terra de artistas renegados como Bruce Nauman, Robert Irwin e Ed Ruscha, alguns mais tarde apelidados pela revista "Artforum" de "escola do cool". E atraiu também estrangeiros, como o britânico David Hockney, hipnotizado pela exuberância das mansões e suas piscinas, além dos garotos fáceis dos clubes noturnos.
O livro inicia com um ano bastante particular, 1963, que fez o mundo das artes virar o pescoço em direção a LA. Foi quando a cidade sediou a primeira retrospectiva de Marcel Duchamp, cujo trabalho deu validade histórica à arte pop, e foi palco da primeira exposição de Andy Warhol, com as 32 pinturas de sopas Campbell's.

"GRANTA" ANGELENA
Apesar de LA não ter sua "New Yorker", publicações literárias são lançadas periodicamente como vitrine para autores locais. A mais recente e de maior fôlego é a revista trimestral "Slake LA", cuja terceira edição chegou em agosto às livrarias (US$ 18, no site slake.la) após os números anteriores alcançarem a lista dos mais vendidos do "Los Angeles Times".
Foi fundada em 2010 por dois ex-editores do semanário "LA Weekly" que acreditam no poder do "slow lit", algo como literatura vagarosa ou "narrativas cuidadosamente construídas", diz o editor Joe Donnelly, que tem na britânica "Granta" um de seus critérios. "Queremos ter o mesmo alcance, mas ser um pouco mais sedutores na apresentação."
A edição atual ("guerra e paz") vai além do conceito "a cidade e suas histórias". Há um texto de não ficção sobre um médico ex-combatente do Iraque e um ensaio fotográfico numa antiga região de testes atômicos em Nevada.
De ficção, destaque para Paul Sbrizzi e sua ciranda alucinante de amigos, num retrato bem colorido do zoológico humano que é LA.

SEM CARRO
Conhecida como a cidade das freeways, Los Angeles pode não ser muito amigável com pedestres. Mas Charles Fleming quer provar o contrário com seu livro "Secret Stairs" (escadas secretas, Santa Monica Press, 240 págs., R$ 39,40), no qual cataloga 42 passeios a pé por antigas escadarias. "São lembranças históricas de quando LA não era uma cidade de carros", diz Fleming.
Ele organiza passeios gratuitos uma vez por mês (secretstairs-la.com) e aponta lugares por onde os ônibus caçadores de celebridades passam longe. Em Silver Lake, por exemplo, estão a casa onde Anaïs Nin morou até morrer, em 1977, e a residência do escritor Raymond Chandler (1888-1959). Há também os 133 degraus por onde "O Gordo e o Magro" uma vez carregaram um piano.
As trilhas de Hollywood escondem o edifício onde William Faulkner viveu enquanto trabalhava em "Uma Aventura na Martinica" (1944) e joias da arquitetura como a Ennis House, de Frank Lloyd Wright, cenário de filmes e vendida em julho por US$ 4,5 milhões (o preço original era US$ 15 milhões, o equivalente a R$ 25,5 milhões).


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