São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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ILUSTRÍSSIMA SEMANA
O MELHOR DA CULTURA EM 7 INDICAÇÕES

O BAIXO GÁVEA É AQUI

Paulo Werneck
De 1986, quando lançou "Comício de Tudo", até 2007, quando reuniu sua obra em "Belvedere", a poesia de Chacal ficou longe das grandes livrarias. Não que estivesse em recesso: seguia publicando nas edições artesanais que fizeram a fama da poesia marginal. Mas dedicava-se sobretudo a "falar poesia" e a levar a experiência de "misturar arte e vida", como ele diz, aos jovens da zona sul carioca, nos altos brados e sussurros do projeto CEP 20.000. Depois de consolidar sua obra, Chacal decidiu consolidar sua vida nestas memórias que são uma espécie de cartilha da vida alternativa no país.
Chacal foi campeão de futebol juvenil, passou temporadas psicodélicas em Arembepe, aderiu à macrobiótica, participou da revista tropicalista "Navilouca", frequentou as "dunas da Gal" em Ipanema, leu muito MacLuhan, morou em Londres, foi dono de pousada, fez livros em mimeógrafo e na Brasiliense, a editora cult dos anos 80. Nas suas memórias pululam todos os nomes que marcaram a cultura pop do Rio, de Ana Cristina Cesar à Blitz; do teatro do Asdrúbal Trouxe o Trombone à calcinha exocet de Kátia Flávia; do "Lennon caboclo" Cacaso às artimanhas poéticas da Nuvem Cigana (que antecipou, 30 anos antes, a onda recente dos "coletivos"). Chacal fez de tudo, mas sempre que alguma coisa perigava "dar certo" no mercado, ele escapava para as doidas noitadas de falação de poesia no Baixo Gávea. Nesta segunda-feira, o mestre de cerimônias da poesia brasileira lança no bar Balcão, nos Jardins, em São Paulo, "Uma Vida à Margem" (ed. 7Letras, 270 págs., R$39). O Baixo Gávea nunca esteve tão perto.

HENRI CARTIER-BRESSON - O SÉCULO MODERNO
A obra reúne um amplo acervo de imagens pouco conhecidas do fotógrafo francês, feitas ao redor do mundo entre as décadas de 1930 e 1970. Para o organizador do livro, o curador Peter Galassi, "a obra de Cartier-Bresson marca não porque ela ofereça sábias lições sobre o mundo, mas porque nos desafia de forma extremamente inexorável e eloquente a conhecê-lo".
Cosac Naify Trad. Cid Knipel 376 págs. | R$ 185

PAUL BOWLES
"Que Venha a Tempestade"
Concebido a partir de viagem do autor americano (1910-99) ao Marrocos, o romance narra o contato de um estrangeiro com os mistérios de Tânger, a cidade pela qual Bowles sentiu "um desejo ilógico e poderoso" e onde viveu durante quase 50 anos. O título da obra é uma referência a "Macbeth". Objetiva/Alfaguara Trad. José Rubens Siqueira 304 págs. | R$ 42,90

GENEALOGIAS DO CONTEMPORÂNEO
A exposição no Museu de Arte Moderna do Rio reúne mais de cem obras da coleção Gilberto Chateaubriand (uma das mais importantes do Brasil). De Tarsila do Amaral a Lygia Clark, de Lasar Segall a Waltercio Caldas, a mostra aborda a formação da arte brasileira entre as décadas de 1920 e 1970. Segundo o curador Luiz Camillo Osorio, "estas genealogias do contemporâneo querem também mostrar as raízes modernas do presente e o quanto ele é múltiplo, inacabado e crítico".
MAM | Rio de Janeiro Até agosto de 2011

FÁBRICA DE SONHOS
Em comemoração aos 100 anos da IPA (International Psychoanalitical Association), o escritor Xico Sá e a psicanalista Luciana Saddi discutem, hoje, curtas-metragens sobre sexualidade. No próximo domingo, o crítico Davi Arrigucci Jr. e o psicanalista Luiz Carlos Uchôa Junqueira Filho comentam o clássico de John Ford "Rastros de Ódio" (1956).
Cinemateca Brasileira | São Paulo 22 e 29/8, às 19h

AS PALAVRAS DE SARAMAGO
"O futuro irá julgar a obra do autor, mas o presente tem o direito de fazer um juízo sobre o autor, o que ele é", disse, em entrevista à Folha em 1994, o escritor português José Saramago (1922-2010). Esta e outras declarações públicas do Prêmio Nobel de Literatura compõem este livro organizado pelo espanhol Fernando Gómez Aguilera (autor de biografia de Saramago)
Companhia das Letras 480 págs. | R$ 56

O peso da história na literatura húngara

O tradutor e crítico Nelson Ascher comenta a coletânea "Contos Húngaros" (trad. Paulo Schiller, Hedra, 200 págs., R$ 19), que reúne narrativas inéditas em português de Kosztolányi, Csáth, Karinthy e Krúdy.

O húngaro é a única língua que o Diabo respeita?
Se alguma vez o húngaro teve esse monopólio -devido à sua aparente estranheza-, decerto o perdeu no século 20, durante o qual apareceu gente disposta a se fazer respeitar pelo Diabo em várias outras línguas: alemão, russo, chinês e até albanês...

Como definir, em breves linhas, a obra de Kosztolányi, Csáth, Karinthy, Krúdy e outros autores húngaros do início do século 20?
O peso trágico da história húngara e europeia na obra desses autores é quase insuportável. Além disso, eles crêem ter o dever de preservar e aperfeiçoar sua língua natal, seus estilos e os recursos narrativos.

Tradutores como Paulo Rónai e Paulo Schiller fomentam uma tradição em torno da literatura da Hungria no Brasil?
Sim, e isto poderia servir de exemplo para a tradução de outras literaturas excelentes.
(Leia a íntegra em folha.com/ilustrissima)


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