São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2010

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DIÁRIO DE TÓQUIO
O MAPA DA CULTURA

Tsunami coreano

Mangás, música e novelas unem rivais históricos

ANGELO ISHI

MESMO SEM CANTAR música nenhuma, Park Young Ha arrastou 14 mil fãs para o auditório do Kokusai Forum, em Tóquio, em 17/7. A cerimônia de depósito de flores em homenagem ao cantor e ator coreano, que se suicidara três semanas antes, aconteceu no mesmo auditório onde deveria ter acontecido um dos shows da turnê japonesa de Park . As vendas dos DVDs e CDs do álbum "Stars", o mais recente de Park, dispararam após sua morte.
A comoção em torno da morte de Park é mais uma confirmação de que a "onda coreana" ("Kanryuu", ou "Hanryuu", em uma pronúncia mais próxima do coreano).
O cantor e ator foi um dos catalisadores dessa onda ao interpretar um dos papéis principais da novela "Sonata de Inverno" ("Fuyu no sonata", ou "Fuyusona"), exibida em 2003 pela emissora pública NHK, reprisada três vezes desde então. A versão literária do roteiro da novela, lançada em formato de livro e assinado por Kim Eun-hee e Yoon Eun-kyoung, em 2004, vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Em novembro, mais um produto "Fuyusona" inundará o arquipélago: uma caixa com 14 DVDs da versão original da novela, sem cortes. Park Young Ha abriu caminho para sucessores. A cada mês, há pelo menos um ou mais cantores de K-Pop (o pop coreano) desembarcando em Tóquio para grandes apresentações. Neste mês, as "Shonen Jidai", com o apelo "Nove garotas de pernas bonitas", são a sensação internacional.
Nos cinemas não é diferente. O mercado japonês tornou-se tão apetitoso que a maior companhia cinematográfica sul-coreana, a CJ Entertainment, decidiu abrir uma filial em Tóquio para poder distribuir seus filmes, e acaba de lançar o filme de maior bilheteria na Coreia do Sul em 2009: "Tsunami", do diretor Je-gyun Yun.
O passado colonialista do Japão sempre trouxe complicações para a relação nipo-coreana. Em agosto, completaram-se 100 anos da anexação da península coreana pelos japoneses. Os acadêmicos afirmam que o boom de produtos culturais coreanos conseguiu, em poucos anos, o que os políticos não conseguiram em décadas: a façanha de aproximar os dois povos.
Mas, a despeito deste banho de cultura coreana, muitos japoneses nutrem sentimentos ambivalentes ou mesmo hostis em relação à Coreia do Sul. É um desconforto para os dois governos que um mangá de sucesso no Japão seja o "Kenkanryu", ou seja, "Odeio Coreanos". Os polêmicos quadrinhos de Sharin Yamamoto continuam provocando um acalorado debate desde 2005, quando chegaram às livrarias. No ano seguinte, um grupo de jornalistas e escritores editou o "Mangá Kenkanryu no koko ga detarame", ou "Estas são as Farsas dos Quadrinhos 'Kenkanryu'". Mas a réplica só fez atiçar os ânimos do autor, que já lançou os volumes 2, 3 e 4 do "Kenkanryu".

JÚLIO CÉSAR NOS PALCOS
Estreia no domingo que vem, no teatro Nissay Gekijo, uma das peças mais aguardadas do ano: "Caesar - Romajin no Monogatari". A superprodução conta a vida do imperador Júlio César, com base no best- seller "A História dos Romanos", de Nanami Shiono.
Shiono recontou a saga da Roma antiga em 15 volumes, e lançou um por ano, de 1992 a 2006. Somados, venderam espantosos 9,2 milhões de exemplares. Para aumentar ainda mais a audiência, quem interpreta César é Koshiro Matsumoto, um dos mais carismáticos atores do teatro kabuki. Em cartaz de 3 a 27 de outubro (site oficial: play-caesar.jp/).

NUDEZ TOTAL
Está para terminar a exposição "Watashi o Mite! Nude no Portrait" ("Olha pra Mim! Retratos da Nudez"), no Museu Metropolitano de Fotografia de Tóquio. São 150 imagens, entre as 25 mil fotografias do acervo, que exploram as mais variadas formas de nudez.
A lista de fotógrafos vai do alemão Helmut Newton ao japonês Nobuyoshi Araki. Mas o destaque são as fotos assinadas por Kishin Shinoyama, o campeão nacional dos ensaios sensuais com mulheres famosas. Até 3/10.


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