São Paulo, domingo, 27 de março de 2011 |
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DIÁRIO DE BERLIM O MAPA DA CULTURA Passaporte alemão Identidade no cinema e mordaça na imprensa SILVIA BITTENCOURT São vários os filmes que têm como pano de fundo as revoltas estudantis dos anos 60 e os primórdios do terrorismo na Alemanha. É o caso da superprodução "Baader Meinhof Komplex" (2008), sobre o grupo terrorista Fração Exército Vermelho. Mas o recém-lançado "Wer wenn nicht wir" (quem senão nós) é o primeiro a abordar os antecedentes da RAF a partir da vida amorosa de um de seus protagonistas, a então estudante Ulrike Ensslin _que, anos depois, se tornaria uma das principais terroristas da Alemanha. Trata-se da história de amor entre Ensslin e o jovem editor Bernward Vesper. A relação é conflituosa, regada a brigas, traição e tentativas de suicídio. Até que os dois se casam. Em busca de um recomeço, impulsionados por ideais de mudar o mundo, deixam o sul da Alemanha e vão para uma Berlim em estado de ebulição. O enredo é intercalado por cenas reais da época, revelando a experiência do diretor Andres Veiel como documentarista. O filme vale a pena também pelo desempenho dos atores Lena Lauzemis e August Diehl. REVOLUÇÃO E PACIFISMO Três livrarias berlinenses, do bairro de Kreuzberg (centro), estão sendo processadas por vender a revista "Interim", principal publicacão da esquerda radical alemã. Essas livrarias são especializadas em temas tradicionais da esquerda, como revolução e pacifismo. Ali também se encontram panfletos de grupos de esquerda, ainda concentrados em Kreuzberg. É ali que fica a Redação da "Interim", editada desde 1988, com uma tiragem de 1.500 exemplares. A revista não tem endereço fixo e só pode ser contatada por uma caixa postal, para a qual são enviados textos anônimos. O problema é que, entre um artigo e outro sobre teorias revolucionárias, manifestos fomentam a destruição de caixas automáticos e carros de luxo. "Interim" é observada pela polícia federal e só proibida em casos extremos. As livrarias alegam que não precisam conhecer o conteúdo das publicações que vendem. Já para a Promotoria, por se tratar de livrarias especializadas, elas certamente sabem o que vendem, tornando-as puníveis. A livraria Oh 21 já saiu vitoriosa na Justiça. O mesmo esperam agora Schwarze Risse (fendas negras) e M99 -esta também conhecida por vender objetos "para uso revolucionário". BALLHAUS O bairro de Kreuzberg é igualmente famoso pelo alto índice de imigrantes, a maioria da Turquia. É ali que uma pequena casa de espetáculos vem agitando o meio teatral da Alemanha. Trata-se da Ballhaus, localizada na Naunynstrasse e palco do momento para diretores estrangeiros ou alemães descendentes de imigrantes. Criada em 2008, a Ballhaus Naunynstrasse já recebeu vários artistas da segunda e terceira geração de estrangeiros que migraram para cá nos anos 50 e 60. É o caso de Fatih Akin, diretor turco-alemão, conhecido pelos filmes "Contra a Parede" (2004) e "Soul Kitchen" (2009). Maior sucesso até agora é a peça "Verrücktes Blut" (sangue louco), do turco Nurkan Erpulat. Ela é a um só tempo drama e comédia: numa classe escolar de um bairro de imigrantes, a professora de alemão aponta uma arma para seus alunos indisciplinados e os obriga a encenar o autor clássico Friedrich Schiller (1759-1805). TURCOS Drama e comédia também é se confundem no filme "Almanya", obra autobiográfica das irmãs Yasemin e Nesrin Samdereli, filhas de imigrantes turcos. O filme mostra com muito humor a história de Hüseyin Ylmaz, que vem para a Alemanha dos anos 60 com a mulher e os filhos. Aqui, a família cresce, se integra (uns mais que outros) e se debate com a própria identidade: a matriarca Fatma fica eufórica com a conquista do passaporte alemão; o marido, nem tanto. Já o neto Cenk, de seis anos, se irrita com o fato de não ser aceito nem no time de futebol dos alemães, nem no dos turcos, e se pergunta: "O que eu sou, afinal? Alemão ou turco?" Cada um dos pais responde uma coisa. A Alemanha vive se debatendo sobre a integração dos estrangeiros. No ano passado, a grande questão era se o islã já faria parte ou não da cultura do país. Ironizando os clichês, os medos e preconceitos recíprocos, "Almanya" lava a alma dos espectadores e responde a esta pergunta com um "sim". Texto Anterior: Ciência: Profeta do iPocalipse Próximo Texto: Arquivo aberto: Maria Antonia, ainda e sempre Índice | Comunicar Erros |
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