Saiba como driblar a falta d'água no prédio
Escassez em São Paulo altera hábitos de consumo e aumenta preocupação com gestão dos recursos nos edifícios
Para especialistas, é preciso monitorar vazamentos e pensar em sistemas de reúso e reaproveitamento
Há mais de 20 anos o edifício Copan, no centro de São Paulo, promove campanhas de conscientização do uso racional da água.
"Também fazemos substituição das válvulas de descarga antigas e monitoramento do volume de água da caixa do prédio", explica o síndico Affonso Prazeres.
Além disso, o edifício mantém dois encanadores de plantão, para conter rapidamente possíveis vazamentos, grandes vilões do desperdício de água nos prédios.
Essas medidas, no entanto, não livram Prazeres de preocupações com o nível de abastecimento da caixa d'água do prédio no atual cenário de escassez.
A crise hídrica que atinge o Estado é um temor e já altera hábitos. Um estudo da Lello com 1.700 condomínios na Grande SP, Campinas, Bertioga e no Guarujá mostra que 58% reduziram o consumo em dezembro de 2014 em relação ao início do ano.
Segundo Eduardo Zangari, da Aabic (associação das administradoras), é necessário que os edifícios invistam na gestão da água. "É preciso fazer a leitura diária do consumo para fixar o padrão do que o prédio gasta e, se tiver diferença, buscar vazamentos."
As alternativas mais buscadas vão de sistemas que reaproveitam a água da chuva --por meio de calhas, que levam a água até um filtro e a armazenam em um reservatório-- aos de reúso da "água cinza" (de máquina de lavar, pia ou chuveiro, por exemplo).
A água armazenada por esses sistemas é indicada para descargas, regar plantas e limpeza das áreas comuns do prédio. A reutilização pode gerar economia de até 35% por mês.
PLANEJAR PARA TER
Ivanildo Hespanhol, professor da Escola Politécnica da USP e diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água, avalia que o rodízio de água estudado pela Sabesp é inevitável.
"Costumamos fazer gestão da crise, quando o problema bate à porta, mas não planejamos a longo prazo", diz ele.
No edifício Maison Saint Hilaire, na zona sul, o sistema de captação e tratamento de água de máquinas de lavar e tanques funciona desde 2006 e, na época, custou R$ 40 mil.
Como a água tratada é usada para a limpeza das áreas comuns do prédio, irrigação e na descarga dos banheiros, a síndica profissional do edifício, Marizilda Gonçalves, conta que a economia mensal chega a R$ 5.000 e o equipamento se paga em pouco tempo. Hoje, um sistema similar para um prédio com 60 unidades custa R$ 80 mil e leva dois meses para operar, diz Sergio Boaventura, da Catuí Engenharia.
"A água custa cerca de 15% dos gastos de um edifício", diz Marcelo Mahtuk, da administradora Manager, que planeja uma campanha de reeducação do uso da água nos 350 condomínios que gerencia.
"Alguns prédios já cortam a água em horários de menor uso", diz Hubert Gebara, do Secovi-SP. "Cada um deve estudar as medidas a se tomar."