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Ascensão e queda do neoclássico

O estilo, apontado por arquitetos como o inimigo número um da identidade paulistana, perdeu espaço entre lançamentos de grandes incorporadoras

GUSTAVO FIORATTI

Decretado por arquitetos de toda a cidade como inimigo número um da identidade contemporânea, o estilo neo-clássico enfim perdeu espaço entre os lançamentos de imóveis em São Paulo. Ao menos as grandes incorporadoras afirmam ter deixado esse gênero de lado.

Após realizar pesquisa sobre a preferência do comprador de imóveis em São Paulo, a Gafisa percebeu que o chamado estilo contemporâneo tem sido mais aceito do que o neoclássico. "Para atender aos nossos consumidores, a empresa tem optado pela utilização desse estilo há alguns anos", diz Octávio Flores, gerente de negócios da empresa.

Segundo a Gafisa, o estilo contemporâneo é determinado pelo uso da tecnologia, pelo tipo de material e, em parte, pela legislação da cidade. Um exemplo são os lançamentos de alto padrão cercados de áreas verdes, com releituras da arquitetura modernista -e, também, as plantas que privilegiam terraços, varandas e pés-direitos duplos.

Na consultoria Abyara Brasil Brokers, a percepção em referência ao neoclássico é a mesma. "Deixou de ser tendência em todos os padrões de construção. Foi bastante usado, mas hoje predominam as linhas retas e o estilo contemporâneo", diz a diretora de marketing Paola Alambert.

Eduardo Sampaio Nardelli, presidente da Asbea (Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura), lembra que a onda dos neoclássicos preocupou profissionais. "Houve uma explosão há cerca de dez anos. E, mais recentemente, a declaração expressa, em muitos escritórios, de que esse estilo estava extinto."

O problema, diz o arquiteto, é que o estilo não corresponde à expressão cultural dos novos tempos. "A arquitetura deve fazer um discurso sobre o momento, e o neo-clássico, nesse contexto, é 'fake'", diz. "Às vezes, tem estrutura boa, bons materiais, mas o invólucro é uma falsificação em termos de linguagem. É como o motor de uma Ferrari em uma carruagem."

Para exemplificar o descompasso entre tecnologia e linguagem, Nardelli cita a famosa utilização das colunas gregas. Embora alguns apartamentos possam ter plantas com distribuições similares à da arquitetura praticada hoje, "se você vai trabalhar com pilares enormes, vai deixar de usar uma tecnologia nova que permite vãos livres e vedamentos mais leves", explica.

VALIDADE VENCIDA

A arquitetura neoclássica consolidou-se como a expressão da expansão imobiliária voltada às classes médias e altas nos primeiros anos do século 21, segundo o arquiteto André Carrasco. Para ele, as regras do mercado ditaram a obsolescência da "escola" e a sua substituição por outras.

"Essa arquitetura se consolidou como ferramenta publicitária, tinha a função de agregar a empreendimentos comuns algum diferencial."

O gosto do freguês contribuiu -quem compra imóvel na planta precisa de motivação. "Se a arquitetura neoclássica não é mais eficiente para alavancar o processo, perde o sentido, torna-se obsoleta e deve ser substituída."

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