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Programa de moradias mistas em NY é sucesso há mais de 20 anos

MARCELO BERNARDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NY

Com amplo lobby revestido de mármore, porteiro 24 horas, salas com isolamento acústico para aulas de música, terraço na cobertura e academia de ginástica, o condomínio residencial The Kalahari, no coração do Harlem, poderia ser mais um típico edifício de alto padrão em Manhattan. Mas os 249 apartamentos não são inteiramente habitados por inquilinos de classes média e alta, como as leis de mercado exigiriam.

Metade das propriedades foram distribuídas, por sorteio, para moradores que não poderiam comprovar renda condizente com o padrão do edifício. "Essa diversidade me faz lembrar o condomínio em que cresci com meus pais, em Chicago, no qual dentistas e advogados tinham encanadores e motoristas de caminhão como vizinhos", diz Michael Lofton, diretor educacional da famosa companhia de dança Pilobolus.

Moradores do Kalahari desde outubro de 2008, Lofton e mulher, a consultora de eventos para ONGs Margi Briggs-Lofton, têm como vizinhos investidores de "hedge funds", advogados, professores, policiais, bombeiros e aposentados. Graças ao programa de moradias mistas da Secretaria de Habitação e Planejamento Urbano de Nova York (HPD, na sigla em inglês), profissionais de baixa e alta renda tiveram a mesma oportunidade de adquirir um apartamento no condomínio.

As unidades mais baratas (sala e cozinha) custam cerca de US$ 200 mil e, os mais caros, de três quartos, podem ultrapassar US$ 1 milhão, dependendo da região. O financiamento é totalmente subsidiado e os juros não passam de 3% ao ano.

O programa de moradias mistas de Nova York foi institucionalizado em 1987 e, desde então, consumiu um investimento de US$ 8 bilhões. A prefeitura vende o terreno do qual é titular para construtoras pelo valor simbólico de até US$ 1 e o incorporador constrói a estrutura, reservando cerca de 20% dos apartamentos para famílias de baixa renda e 50% para famílias de renda média.

"Nós somos a prova de que pode haver diversidade nos bairros e espaço para famílias com uma larga diferença de renda e formação profissional", disse Mathew Wambua, chefe do HPD à Folha. "Isso é algo que outras cidades podem aprender com o exemplo de Nova York."

PROPINA

Casos de corrupção no setor existem e a prefeitura processou, no começo deste ano, um oficial do HPD que recebeu, desde 2008, mais de US$ 2,5 milhões em propinas.

Apesar de as áreas comuns do Kalahari serem iguais para todos os moradores, o acabamento dos apartamentos não é o mesmo. As unidades subdisiadas pelo governo têm assoalho mais barato, cozinhas menos aparelhadas (forno de microondas e máquina de lavar louça não estão incluídos) e um item que ainda gera certa controvérsia: a pintura do teto não é lisa, mas em estilo "popcorn" (acabamento em poliestireno que lembra farelos de isopor), famoso nos anos 1970 na cidade mas hoje considerado "kitsch" e de aspecto barato.

Outra diferença, essa para evitar abusos, é que os moradores das unidades subdisiadas precisam provar que aquela é a residência oficial deles, morar pelo menos seis meses no local e não alugar o apartamento por um período maior que dois anos.

Por 15 anos, o imóvel não pode ser vendido. "Esse é o único tópico que gera um certo ressentimento entre os dois grupos", explica a moradora Margi. "Mas esse é apenas um detalhe numa convivência que é geralmente harmoniosa e cria um clima de comunidade."

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