São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2004

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VALOR DO PASSE

Desvalorização pode chegar a 30%; moradores reclamam de trânsito, barulho e brigas entre torcidas

Estádio joga contra na venda da casa

Fernando Moraes/Folha Imagem
O corintiano Márcio Villar, 27, que diz gostar de morar perto do estádio do Morumbi porque vai aos jogos


EDSON VALENTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Domingos de futebol como o de hoje, em que Brasil e Bolívia se enfrentam pelas eliminatórias da Copa do Mundo, são motivo de alegria para quem vai ao es- tádio. Mas para aqueles que moram perto dele o espetáculo é um transtorno que leva até à desvalorização do imóvel.
Engarrafamento, brigas entre torcidas e barulho excessivo são gols contra na hora da venda. Os imóveis localizados no raio de um quilômetro de distância dos campos costumam sofrer uma perda de valor que varia de 10% a 30%, conforme a proximidade, segundo o especialista Miguel Giacummo, 41, gerente comercial da consultoria Binswanger Brasil.
Tomando por base os maiores estádios da cidade -Morumbi, Pacaembu e Parque Antarctica-, essa perda de valor é mais crítica nos dois últimos, na avaliação de Mauro Miranda, 42, coordenador do Programa de Investimentos Imobiliários do GVPec, da FGV-Eaesp (Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas).
"Em áreas urbanas mais consolidadas, a situação fica mais delicada", avalia Miranda. "No Morumbi há mais espaços e não existem prédios residenciais bem em frente ao campo de futebol."
Para João d'Avila Neto, sócio da Amaral d'Avila Engenharia de Avaliações, o Morumbi é o bairro que mais se ressente da presença de um campo de futebol que reúne um grande número de pessoas, justamente porque seu entorno é predominantemente residencial.
"Os preços praticados nas ruas mais próximas ao estádio são sensivelmente inferiores." A solução para comercializar é diminuir os valores em 20% ou 25%, opina Lineu Mattoso, 53, gerente de negócios da imobiliária Camargo Dias, uma das maiores na região.

Urbanismo
Mas não é só a distância que tem impacto sobre o valor do bem. As características urbanísticas também pesam. No Parque Antarctica, o adensamento populacional do entorno é maior, o que pode aumentar os engarrafamentos na região em horários críticos. Em contrapartida, nos arredores do Morumbi, não há estação de metrô: antes e depois dos jogos, os torcedores se locomovem de carro ou ônibus, piorando o trânsito.
"O fluxo nas vias obriga o morador a saber a que horas chegar e sair em dia de jogo", diz Giacummo, que também chama a atenção para a acomodação dos veículos. "Os torcedores não respeitam guias e param os carros até em frente às garagens das casas."
A relações-públicas Samantha Simon, 25, que mora com os pais há 12 anos em uma rua paralela à avenida Pacaembu, não gosta que sua garagem sirva de estacionamento. "Já cheguei a furar pneus para empurrar os carros que param na frente da casa."
Outra reclamação freqüente dos moradores é o barulho, que perturba sobretudo quando o jogo, ou show, termina muito tarde. Há também os que temem pela segurança, que fica comprometida pela presença de ambulantes nos arredores. E, por fim, o lixo gerado pelo evento costuma ser removido só nos dias seguintes.

Passagem de som
Mas nem sempre os jogos de futebol são a principal dor de cabeça de quem mora perto de estádios como o Morumbi e o Pacaembu. "Não suporto o barulho dos shows", reclama Samantha Simon. "Outro dia, em um sábado, ouvi os primeiros acordes da passagem de som às 7h30. É um desrespeito, considerando que pago um IPTU alto."
A promotora de vendas Cristina Corrêa, 42, que mora em outra rua próxima, afirma que "jamais mudaria de bairro", mas confessa que se assustou com a cena que presenciou após um show gratuito há cerca de uma semana. "Vi muitas pessoas correndo", descreve. "Houve uma espécie de arrastão. Foi muito violento, pior do que torcida organizada."


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