São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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Morar conforme a música

Regiões consideradas mico pela maioria das pessoas são escolhidas a dedo por quem quer comprar uma casa mais barata ou espera valorização do local

Renato Stockler/Folha Imagem
Antonio José comprou um apartamento no largo do Arouche para ser vizinho do Teatro Municipal e da Sala São Paulo


GIOVANNY GEROLLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Casas perto de córregos que já transbordam em dezembro com as águas de março; prédios sob rotas de aeroportos; residenciais com piscina, espaço gourmet e sala de ginástica no coração da "cracolândia".
São Paulo tem imóveis para todos os bolsos e para qualquer tipo de investimento. Mas quem compra o que a maioria considera um verdadeiro mico?
Para corretores e analistas de mercado, são geralmente famílias jovens de renda média ou baixa, que saem do aluguel ou buscam mais um quarto para o primeiro filho, profissionais liberais, solteiros, ou pessoas de cidades vizinhas que trabalham na metrópole e passam os finais de semana no interior.
"A vantagem dessas ofertas é, sem dúvida, o preço baixo", avalia o presidente do Creci-SP (conselho regional de corretores), José Augusto Viana Neto.
"Quem compra o imóvel em lugares com problemas como violência ou enchentes é porque só pode comprar aquilo ou vê algum tipo de futuro no bairro", completa o consultor da ABMM (Associação Brasileira de Moradores e Mutuários) Wilson Gomes, 38.
Algumas regiões da cidade, hoje menos valorizadas, poderão ganhar mais status se estiverem em perímetro de operação urbana, por exemplo -regiões definidas pela prefeitura para sofrerem melhorias urbanísticas nos próximos anos.

"Patinho feio"
No Rio Pequeno (zona oeste), uma melhoria no espaço público transformou "patinhos feios" imobiliários em "cisnes".
"Antes da construção da avenida Escola Politécnica, o córrego transbordava, e os imóveis custavam de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Hoje, após a canalização do córrego, os mesmos valem até R$ 90 mil", compara Gomes.
Em outra região alvo de promessas de reforma urbana -o centro-, o compositor Antonio José, 47, comprou um "zero-quilômetro" de dois quartos na avenida Duque de Caxias, no bairro de Campos Elíseos.
"Na região, onde há cinco anos se encontrava uma quitinete por R$ 18 mil, hoje não se vê por menos de R$ 35 mil", afirma. "Para mim é importante estar perto do Teatro Municipal ou da Sala São Paulo, além de morar ao lado do estúdio onde passo os dias", justifica.
O comerciante Daniel Bezerra de Carvalho, 49, que tem uma filha de nove meses, será vizinho do compositor pela expectativa de melhora do espaço -"mais segurança e o fim da "cracolândia'", diz.
Segundo o gerente de operações urbanas da Emurb-SP (Empresa Municipal de Urbanização), Vladir Bartalini, 46, o centro velho é uma área de possível adensamento.
"Há infra-estrutura, mas os bairros estão degradados. A solução é criar espaços públicos com características de uso residencial." Para ele, o vale do Anhangabaú deveria ter áreas verdes para passear "e não para passar correndo".

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