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Morar conforme a música
Regiões consideradas mico pela maioria das pessoas são escolhidas a dedo por quem quer comprar uma casa mais barata ou espera valorização do local
Renato Stockler/Folha Imagem
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Antonio José comprou um apartamento no largo do Arouche para ser vizinho do Teatro Municipal e da Sala São Paulo |
GIOVANNY GEROLLA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Casas perto de córregos que
já transbordam em dezembro
com as águas de março; prédios
sob rotas de aeroportos; residenciais com piscina, espaço
gourmet e sala de ginástica no
coração da "cracolândia".
São Paulo tem imóveis para
todos os bolsos e para qualquer
tipo de investimento. Mas
quem compra o que a maioria
considera um verdadeiro mico?
Para corretores e analistas de
mercado, são geralmente famílias jovens de renda média ou
baixa, que saem do aluguel ou
buscam mais um quarto para o
primeiro filho, profissionais liberais, solteiros, ou pessoas de
cidades vizinhas que trabalham
na metrópole e passam os finais
de semana no interior.
"A vantagem dessas ofertas é,
sem dúvida, o preço baixo",
avalia o presidente do Creci-SP
(conselho regional de corretores), José Augusto Viana Neto.
"Quem compra o imóvel em
lugares com problemas como
violência ou enchentes é porque só pode comprar aquilo ou
vê algum tipo de futuro no bairro", completa o consultor da
ABMM (Associação Brasileira
de Moradores e Mutuários)
Wilson Gomes, 38.
Algumas regiões da cidade,
hoje menos valorizadas, poderão ganhar mais status se estiverem em perímetro de operação urbana, por exemplo -regiões definidas pela prefeitura
para sofrerem melhorias urbanísticas nos próximos anos.
"Patinho feio"
No Rio Pequeno (zona oeste), uma melhoria no espaço
público transformou "patinhos
feios" imobiliários em "cisnes".
"Antes da construção da avenida Escola Politécnica, o córrego transbordava, e os imóveis
custavam de R$ 25 mil a R$ 30
mil. Hoje, após a canalização do
córrego, os mesmos valem até
R$ 90 mil", compara Gomes.
Em outra região alvo de promessas de reforma urbana -o
centro-, o compositor Antonio
José, 47, comprou um "zero-quilômetro" de dois quartos na
avenida Duque de Caxias, no
bairro de Campos Elíseos.
"Na região, onde há cinco
anos se encontrava uma quitinete por R$ 18 mil, hoje não se
vê por menos de R$ 35 mil",
afirma. "Para mim é importante estar perto do Teatro Municipal ou da Sala São Paulo, além
de morar ao lado do estúdio onde passo os dias", justifica.
O comerciante Daniel Bezerra de Carvalho, 49, que tem
uma filha de nove meses, será
vizinho do compositor pela expectativa de melhora do espaço
-"mais segurança e o fim da
"cracolândia'", diz.
Segundo o gerente de operações urbanas da Emurb-SP
(Empresa Municipal de Urbanização), Vladir Bartalini, 46, o
centro velho é uma área de possível adensamento.
"Há infra-estrutura, mas os
bairros estão degradados. A solução é criar espaços públicos
com características de uso residencial." Para ele, o vale do
Anhangabaú deveria ter áreas
verdes para passear "e não para
passar correndo".
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