São Paulo, domingo, 16 de maio de 2004

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SÃO PAULO EM ZONAS - NORTE

Especialistas apontam perda de poder de compra como grande vilão; maior desvalorização foi a das unidades de dois quartos

Preço médio do metro quadrado cai 14%

Divulgação
Perspectiva do Neo Freguesia do Ó, vendido a partir de junho


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O preço do metro quadrado dos imóveis na zona norte caiu 14% no período de 1999 a 2003, em oposição ao que aconteceu com a média da cidade -elevação de 12%. Segundo os especialistas do setor, isso ocorreu, sobretudo, por razões macroeconômicas.
Pontualmente nos anos ímpares, o mercado imobiliário apresentou decréscimo da velocidade de vendas, o que foi justificado, em 1999, pela desvalorização do Real, em 2001, pelos atentados terroristas de 11 de setembro e pelo apagão e, em 2003, por falta de financiamentos e por perda do poder de compra da classe média.
E é justamente a classe média que predomina na zona norte, diz Adriana Falleiros, 34, gerente da incorporadora Kallas, uma das que mais atuaram na zona norte no período analisado. "A região não comporta preços mais altos", corrobora João Ceglauskis, da incorporadora Tenda. "O mercado não é grande, e a concorrência é muito acirrada."
Antonio Claudio Fonseca, vice-presidente do IAB, pondera que, se o preço não chegar perto da capacidade de compra, o incorporador não consegue viabilizar o produto. "A classe média empobreceu, e a perda real de ganho é muito grande", justifica.
"A zona norte particularmente está no oposto do vetor principal de desenvolvimento, que é o sudoeste, região onde se desenvolve a "cidade rica'", diz. "De qualquer forma, pela ótima acessibilidade e pela presença do metrô, constitui um subcentro importante."
De acordo com análise do Datafolha, a desvalorização na região norte é fruto do lançamento de um maior número de apartamentos de dois dormitórios -56% do total. Esse tipo de imóvel foi o que mais teve redução do preço médio do metro quadrado -30%.

Financiamento
Os terrenos mais baratos também viabilizam o menor valor para o comprador final, lembra Maurilio Scacchetti, gerente comercial da Rossi.
Outro fator que ajuda a explicar o decréscimo do preço médio do metro quadrado é a forma de pagamento predominante. "A maioria dos empreendimentos é financiada pela Caixa Econômica Federal", afirma Ceglauskis.
"Isso faz com que caiam os valores das prestações e aumente a velocidade de vendas", explica Henrique Cambiaghi, 53, presidente da Asbea (associação de escritórios de arquitetura). "Os gastos dos incorporadores com publicidade então diminuem, bem como o custo final do produto."
Além disso, diz o arquiteto, as construtoras tendem a simplificar o acabamento das unidades. "Usam material menos luxuoso e otimizam as instalações hidráulicas", exemplifica.

Periféricos
Basílio Jafet, 46, vice-presidente de incorporações do Secovi-SP (sindicato da habitação) e sócio da incorporadora Evolução, lança mão de um argumento geográfico para justificar a queda do preço.
"Em 2003, houve maior número de lançamentos em distritos mais periféricos da zona norte, onde o preço do metro quadrado é tradicionalmente menor que o de Santana", contabiliza. "Isso puxou a média para baixo."
"Os lançamentos mais recentes de quatro-dormitórios são compactos e surgiram em áreas mais baratas", analisa o diretor da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio), Luiz Paulo Pompéia. "Seus preços estão comprimidos. A qualidade do produto caiu, e tem sido atendido um segmento de demanda menos rico que aquele de cinco anos atrás", avalia.
O único tipo de apartamento que encareceu (28%) no período analisado pelo Datafolha, na zona norte, foi o de um dormitório. "Eles se concentram em bairros mais valorizados", diz Jafet.
O valor médio do metro quadrado das coberturas caiu 20%. As de dois dormitórios sofreram a maior desvalorização, de 58%; na média da cidade, contudo, foram justamente as que tiveram o maior aumento de preço (42%). As com mais de quatro quartos, por sua vez, registraram elevação de 5% na zona norte.
(EDSON VALENTE E ELENITA FOGAÇA)


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