São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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INCORPORADORAS

Compra direta se populariza, mas é opção mais cara

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Ainda que mais cara, a aquisição de imóveis direto com a incorporadora se mostrou mais popular que o financiamento bancário em 2003. Pesquisa do Secovi-SP (sindicato da habitação) revela que, diferentemente do que ocorreu nos anos de 2001 e de 2002, as vendas das 26.247 unidades lançadas no ano passado foram feitas por meio de incorporadoras em 53% dos casos, contra 46% via financiamento pelo SFH -restando 1% para outras modalidades.
"O comprador gosta porque pode quitar o imóvel em dois terços do tempo que levaria pelo SFH", afirma o vice-presidente do Sinduscon e responsável pela área econômica do órgão, Eduardo Zaidan. Além disso, enumera ele, "o sistema bancário é excessivamente regrado" e financia, em média, apenas 60% do valor do imóvel (avaliado pelo agente financeiro). "Eles têm milhões de regrinhas", diz.
A popularidade da compra direta, porém, não é sinônimo de segurança total na transação. Das reclamações a respeito do setor imobiliário registradas pelo Procon-SP (Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor), "a maioria tem como motivo o atraso na entrega da obra", diz Sonia Cristina Amaro, assistente de direção.
Outro item campeão de queixas é o valor das prestações. "O consumidor tem muitas dúvidas sobre a aplicação dos juros", conta.
Foi o caso da designer Ana Cristina de Almeida, 34, que comprou um apartamento financiado direto com a incorporadora na planta.
O contrato que ela assinou previa correção pelo IGP-M e juros pela Tabela Price. "Paguei seis anos, porém a parcela ficou muito alta. Tentei negociar quatro vezes. Como não consegui, procurei a ABMH [Associação Brasileira de Mutuários da Habitação]."
Cálculo refeito, foi constatado, na visão da ABMH, que a aplicação dos juros estava errada. "Entrei com ação em dezembro", afirma a designer. Desde então, ela vem depositando sua mensalidade em juízo. O valor, que era de pouco mais de R$ 700 no início do plano, havia subido para R$ 2.300. Agora, ela deposita R$ 1.420 por mês. "Se eu soubesse que os juros se acumulariam dessa maneira, talvez não tivesse assinado o contrato", argumenta.
O taxista Vagner Cardoso Dias, 36, não conseguiu manter os pagamentos quando foi demitido de um emprego como fiscal e precisou transferir seu financiamento para outra pessoa. "A prestação foi aumentando e eu não consegui mais pagar. Tentei fazer acordo com a construtora, mas não tive sucesso. Perdi tudo o que paguei durante um ano inteiro, pois não recebi nada de volta", conta ele.
Depois disso, ele resolveu trabalhar como taxista. Entrou na Justiça para reaver o dinheiro das prestações pagas, mas o caso se arrasta até hoje. "Queria receber pelo menos uma parte do investimento", explica.
A jornalista Aline Tolentino, 22, já pagou dois condomínios, mas ainda não entrou no apartamento que comprou na planta. E nem vai entrar. "Cancelei o contrato e vou brigar para receber meu dinheiro de volta", diz.
Na época da compra, ela se interessou pela unidade de três quartos por custar quase o mesmo que a de dois. Na entrega das chaves, porém, quando foi financiar o restante do contrato na CEF, descobriu que os juros da de três eram maiores. "Deveria ter lido o contrato com calma."


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