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São Paulo, domingo, 30 de novembro de 2003

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ESCRITÓRIOS

Tese da USP revela que decadência do centro coincide com migração de empresas para a região da Berrini

Marketing "inventou" núcleo comercial da marginal Pinheiros

Fernando Moraes/Folha Imagem
Prédios comerciais na marginal Pinheiros, nas proximidades da av. Engenheiro Luiz Carlos Berrini


BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A ocupação da região da marginal Pinheiros (zona oeste de São Paulo) por megaempreendimentos comerciais é fruto de uma estratégia de marketing da indústria imobiliária. A afirmação é de uma tese da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo).
Segundo o estudo, que analisou a localização das sedes das 70 maiores empresas de São Paulo de 1975 a 1998, o crescimento da marginal em importância coincide com o início da decadência do centro e com a migração de companhias e de instituições públicas.
A ação de promotores imobiliários teria sido decisiva para que o endereço escolhido fosse a marginal -vendida como "centro metropolitano do futuro"- e não outros centros como as avenidas Paulista e Brigadeiro Faria Lima.
O levantamento, feito pelo professor Eduardo Alberto Nobre, revelou que, em 1975, 54% tinham como endereço o centro, 14%, a avenida Paulista, e 11%, a marginal. Em 1998, 41% delas já estavam na marginal, 21%, na Paulista, e apenas 18%, na área central.
Nobre analisou o discurso de incorporadoras e concluiu que a "insegurança" foi destacada para criar "uma imagem negativa do centro" e "atrair o cliente corporativo para outras regiões".

Prédios ociosos
A migração ocorreu principalmente até 2000, quando a marginal passou a ter prédios ociosos. Segundo a Aecom (associação de escritórios comerciais), o problema só começou a ser superado no terceiro trimestre deste ano, quando o estoque de escritórios padrão A em toda a cidade caiu de 210 mil m2 para 130 mil m2.
Na marginal, os espaços vagos se concentram em prédios antigos, diz a incorporadora Bratke-Collet. Reformas e baixo preço são as estratégias de ocupação.
Em 93, a mudança da Nestlé do centro para a marginal foi vista como marco do poder atrativo da área. Os motivos alegados pela empresa, porém, referem-se não ao local, mas ao tamanho do prédio e a facilidades tecnológicas.

"Balão de ensaio"
Em 1971, a marginal não tinha obras de drenagem e abrigava moradias de média renda e pequenos focos industriais. O arquiteto Carlos Bratke, 61, autor dos primeiros prédios na região, conta que chegou a estudar a Barra Funda, mas escolheu a marginal pelo baixo custo dos terrenos, por ser próxima ao Morumbi, pela topografia plana e pelos projetos viários que seriam construídos.
Ele diz que o início foi como um "balão de ensaio". "Compramos um terreno e deu certo, compramos mais um e deu certo." Mas reconhece a importância dos "formadores de opinião" nas fases seguintes da ocupação. "É muito importante que se lance a coisa. Alguém influente tem de chegar e dizer "o chique é a marginal". É assim que acontece."


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