São Paulo, quarta-feira, 02 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

futuro

Interface confere "sexto sentido" a celular

REALIDADE AUMENTADA SixthSense transforma superfícies em telas para navegar na rede e traduz gestos em comandos

VIKAS BAJAJ
DO "NEW YORK TIMES"

Muitos indianos compraram seu primeiro telefone celular antes de ter o seu primeiro contato com um computador pessoal. Pranav Mistry acredita que a maioria dessas pessoas pode ignorar também os teclados e os mouses e passar direto às interfaces mais intuitivas e interativas.
Durante a conferência TED India, Mistry, 28, pesquisador assistente do Media Lab no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) fez uma demonstração do que pode vir a ser essa forma de interface. O evento ocorreu no mês passado, em Mysore (Índia), cidade que fica cerca de três horas a oeste de Bangalore.
O pesquisador deu-lhe o nome de SixthSense (sexto sentido), e o dispositivo utiliza uma câmera e um projetor mantidos juntos por um pingente usado ao redor do pescoço.
O protótipo dele, e o software responsável pelo processamento dos dados, funcionam em smartphones e conseguem transformar paredes, folhas de papel e outras superfícies em telas para, suponhamos, navegar na rede.
A câmera traduz gestos em comandos -é possível, por exemplo, manter as duas mãos levantadas com a finalidade de enquadrar uma cena e pressionar o polegar para tirar uma foto. Basta apontar o dispositivo para um cartão de embarque de avião, e o projetor exibe a situação do seu próximo voo. Mistry até demonstrou um modo fácil de copiar e colar textos a partir de uma página impressa.
Segundo Mistry, a melhor parte disso é o fato de o dispositivo poder ser fabricado por apenas US$ 350, usando componentes comuns e o próprio código-fonte dele, algo que ele pretende disponibilizar em um modelo de código aberto.
"O que realmente me interessa é a forma como podemos combinar os dois mundos -o mundo físico e o mundo digital", disse Mistry, um ex-funcionário da Microsoft formado pelo Instituto de Tecnologia da Índia, em Mumbai.
O dispositivo quase se parece com algo bom demais para ser verdade, e ele reconhece que a tecnologia deverá levar algum tempo até chegar ao mercado.
Segundo o pesquisador, empresas que patrocinam o Media Lab, como a LG e a Samsung, têm demonstrado interesse pela interface. Porém, ainda não se sabe ao certo quando estará pronto um dispositivo apto a ser comercializado.

Videogame
O SixthSense também lembra o Natal, uma tecnologia na qual a equipe da Microsoft responsável pelo Xbox vem trabalhando. Nesse dispositivo, uma câmera acompanha os comandos do usuário a fim de que ele não precise usar controles de jogo. A tecnologia deve ser lançado no próximo ano. Porém, mais do que um produto para crianças de países ricos, Mistry diz ver o SixthSense como um dispositivo desenvolvido para as populações de países pobres como a Índia, onde o índice de alfabetização é baixo e muitas pessoas nunca usaram um teclado ou um mouse.
A interface pode também se tornar um sucesso de vendas na Índia devido ao fato de funcionar em telefones celulares -no momento, ela opera em smartphones com o sistema Windows Mobile, da Microsoft, ou o Android, do Google. Mas, segundo Mistry, é possível adaptá-la para telefones mais baratos fabricados pela Nokia e por outras empresas que são comuns aqui [na Índia].
"O dispositivo é mais importante para esse mundo do que para o mundo desenvolvido", disse ele.
Mistry, criado em uma pequena cidade no Estado de Gujarat (oeste da Índia), encantou o público presente na TED India, que o aplaudiu de pé várias vezes durante a sua apresentação. Na sexta-feira, ele me disse que, quando esteve pela primeira vez no MIT, três anos atrás, falava pouco inglês porque havia estudado em uma escola na qual as aulas eram dadas na língua gujarati.
Ele parece ter tido contato com o mundo das invenções ainda bem jovem. Quando tinha 5 anos, seu pai, um arquiteto, construiu para ele um videogame eletrônico porque a família não tinha condições de comprar um videogame Atari. O aparelho rústico, que tinha as suas partes eletrônicas expostas, era bastante instrutivo, disse Mistry. E isso porque toda vez que ele encostava o dedo em uma peça que não devia, uma corrente elétrica o acertava bem em cheio.

Realidade aumentada
Em termos de tecnologia visual chamativa, Mistry não estava sozinho na TED India. Na sexta-feira, Ramachandra Budihal, um pesquisador da Wipro Technologies, mostrou um protótipo inicial de um sistema de realidade aumentada que transmite informações ao usuário por meio de um par de óculos adaptado que possui uma câmera instalada nas lentes. Estas funcionavam por meio de um mecanismo acondicionado na mochila que Budihal usou durante a sua apresentação.
Durante essa demonstração, o pesquisador apresentou um vídeo no qual a tecnologia era usada durante um passeio pelas ruínas de Karnataka Samrajya, a antiga capital do Estado de Karnataka, local onde fica Bangalore [o Vale do Silício da Índia]. Por meio do sistema, ele conseguia ver no display informações sobre vários fatos relacionados às ruínas.


Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS


Texto Anterior: Para todas as idades
Próximo Texto: Aproveite melhor a tela do netbook
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.