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reportagem de capa
"A internet vai ficar mais pessoal"
ENTREVISTA EXCLUSIVA Chris DeWolfe, um dos fundadores do MySpace, fala sobre o futuro da rede
ENVIADO ESPECIAL A BEVERLY HILLS
Criador do portal MySpace,
em 2004, ao lado do amigo Tom
Anderson, Chris DeWolfe, 42,
segura uma latinha de energético light enquanto fala à Folha
na segunda mesa de sua sala, na
sede do MySpace, em Beverly
Hills, Califórnia.
A empresa foi vendida em
2005 para o grupo News Corporation, de Rupert Murdoch,
por US$ 580 milhões. Desde
então, DeWolfe e Anderson
atuam como presidentes-executivos do MySpace, que tem
110 milhões de usuários ativos
no mundo.
De cabelo grisalho, anéis nas
mãos e roupa social sem gravata, ele fala sobre o futuro das
redes sociais e sobre os planos
da empresa para o Brasil -que
incluem, segundo a Folha apurou, negociações de conteúdo
com Globo, Record e SBT.
(DANIEL BERGAMASCO)
FOLHA - Como vê o fenômeno do Orkut
no Brasil? Você tem perfil no site?
CHRIS DEWOLFE - Não sou usuário, o Orkut não é grande aqui
nos Estados Unidos. Eu sei que
é um fenômeno cultural no
Brasil e espero um dia ser tão
grande quanto eles [no país],
maior do que eles. Estamos
procurando deixar o MySpace
Brasil mais local. Tendo gente
local, que entende a cultura
brasileira e como os brasileiros
usam a internet, isso nos dá
uma grande perna [para ultrapassar a concorrência].
FOLHA - No escritório em São Paulo há
apenas sete pessoas contratadas. É o
modelo de negócios da internet?
DEWOLFE - Não, isso é porque
acabamos de abrir. Teremos
mais gente. O Brasil é estrategicamente importante para nós.
É muito grande, e a economia,
na última vez em que eu chequei, estava crescendo muito
rapidamente. A base de usuários de internet e de acesso à
banda larga está crescendo rapidamente, é um país-chave.
FOLHA - Quantas pessoas contratará?
DEWOLFE - Ainda não sei. No escritório do Reino Unido, temos
200 pessoas. Na China, temos
70. No Japão, temos 70. Crescendo como está crescendo,
adicionaremos mais gente, não
sei se serão mais 20, 50 ou cem,
vamos ver a velocidade em que
crescemos no país.
FOLHA - O que é preciso para trabalhar
no MySpace?
DEWOLFE - Nós só contratamos
gente que é grande usuária do
MySpace e apaixonada pelo
produto. Quem não está no
MySpace não conseguiria entender direito a dor de um recurso não funcionando direito,
por exemplo...
FOLHA - Qual é o futuro do MySpace?
DEWOLFE - Eu prefiro falar sobre o futuro da internet e as
três tendências que vejo. A primeira é a internet se tornando
mais pessoal, com as pessoas
custumizando sua experiência
on-line.
Temos algumas respostas
para essa tendência. Primeiro,
criando um novo tipo de página
de perfil, com diferentes visões
do usuário baseadas em quem
está visitando sua página. Você
pode categorizar seus amigos.
Minha mãe, minha avó são
minha família; quando entrarem na minha página, verão fotos da família reunida. E terei
meus amigos de festa, que verão as fotos de eventos da balada das últimas noites.
FOLHA - A personalização termina aí?
DEWOLFE - As pessoas apaixonadas pelo MySpace entram no
site cinco, seis vezes por dia.
Mas elas são apaixonadas por
outras coisas na internet também. Queremos possibilitar
que as pessoas coloquem no
MySpace tudo aquilo de que
gostam na internet. Agora, por
exemplo, tem um recurso onde
você pode colocar seu Gmail e
ler no seu perfil do MySpace.
Então você abre seu e-mail no
MySpace. Eu quero trazer tempo, notícias, resultados de esporte, informações financeiras,
para que você tenha tudo isso
em seu MySpace.
FOLHA - E o que mais?
DEWOLFE - A segunda tendência
é a internet se tornando mais
portátil, com recursos para celular, por exemplo. A terceira
área é a internet se tornando
mais colaborativa.
FOLHA - Duas greves paralisaram recentemente Hollywood e Broadway,
enquanto a internet colocava no ar
produtos de entretenimento de sucesso feitos por amadores. A internet vai
acabar com as empresas de entretenimento?
DEWOLFE - A mudança que
aconteceu no mercado de música está acontecendo agora na
área de vídeo. Você vê novos videomakers surgindo, produzindo porções de conteúdo sem
muito custo e tendo também
sua base de fãs. Pode ser um caminho para testar um show de
televisão e cinema. É tão caro
criar um piloto hoje em dia,
mas é barato criar cinco episódios de três minutos de um novo show para internet e ver se
as pessoas gostam. Hoje, apenas 10% dos pilotos acabam
rendendo algo que vai ao ar.
E você vê a mudança que
aconteceu agora com as eleições [primárias, para presidente dos EUA]. Todos os candidatos têm um perfil no MySpace.
Nós tivemos o candidato Barack Obama no MySpace [em
eventos on-line] antes de Iowa
e New Hampshire, então não
nos surpreendemos quando ele
foi bem [em Iowa, onde venceu], porque antes ele havia
vencido a primária no MySpace
[em enquete].
FOLHA - E em cinema, o que muda?
DEWOLFE - Eu não acho que as
pessoas querem se sentar em
frente ao MySpace e ver um filme de duas horas. Acho que é
mais uma plataforma promocional. E também que pode ter
grande impacto para produtores independentes. Eu soube de
um produtor independente
que perdeu seu profissional de
pós-produção e, navegando no
MySpace, conseguiu um substituto e pôde finalizar o filme.
O jornalista DANIEL BERGAMASCO viajou a
convite do MySpace.
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