São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

reportagem de capa

"A internet vai ficar mais pessoal"

ENTREVISTA EXCLUSIVA Chris DeWolfe, um dos fundadores do MySpace, fala sobre o futuro da rede

ENVIADO ESPECIAL A BEVERLY HILLS

Criador do portal MySpace, em 2004, ao lado do amigo Tom Anderson, Chris DeWolfe, 42, segura uma latinha de energético light enquanto fala à Folha na segunda mesa de sua sala, na sede do MySpace, em Beverly Hills, Califórnia. A empresa foi vendida em 2005 para o grupo News Corporation, de Rupert Murdoch, por US$ 580 milhões. Desde então, DeWolfe e Anderson atuam como presidentes-executivos do MySpace, que tem 110 milhões de usuários ativos no mundo. De cabelo grisalho, anéis nas mãos e roupa social sem gravata, ele fala sobre o futuro das redes sociais e sobre os planos da empresa para o Brasil -que incluem, segundo a Folha apurou, negociações de conteúdo com Globo, Record e SBT. (DANIEL BERGAMASCO)

FOLHA - Como vê o fenômeno do Orkut no Brasil? Você tem perfil no site?
CHRIS DEWOLFE -
Não sou usuário, o Orkut não é grande aqui nos Estados Unidos. Eu sei que é um fenômeno cultural no Brasil e espero um dia ser tão grande quanto eles [no país], maior do que eles. Estamos procurando deixar o MySpace Brasil mais local. Tendo gente local, que entende a cultura brasileira e como os brasileiros usam a internet, isso nos dá uma grande perna [para ultrapassar a concorrência].

FOLHA - No escritório em São Paulo há apenas sete pessoas contratadas. É o modelo de negócios da internet?
DEWOLFE -
Não, isso é porque acabamos de abrir. Teremos mais gente. O Brasil é estrategicamente importante para nós. É muito grande, e a economia, na última vez em que eu chequei, estava crescendo muito rapidamente. A base de usuários de internet e de acesso à banda larga está crescendo rapidamente, é um país-chave.

FOLHA - Quantas pessoas contratará?
DEWOLFE -
Ainda não sei. No escritório do Reino Unido, temos 200 pessoas. Na China, temos 70. No Japão, temos 70. Crescendo como está crescendo, adicionaremos mais gente, não sei se serão mais 20, 50 ou cem, vamos ver a velocidade em que crescemos no país.

FOLHA - O que é preciso para trabalhar no MySpace?
DEWOLFE -
Nós só contratamos gente que é grande usuária do MySpace e apaixonada pelo produto. Quem não está no MySpace não conseguiria entender direito a dor de um recurso não funcionando direito, por exemplo...

FOLHA - Qual é o futuro do MySpace?
DEWOLFE -
Eu prefiro falar sobre o futuro da internet e as três tendências que vejo. A primeira é a internet se tornando mais pessoal, com as pessoas custumizando sua experiência on-line. Temos algumas respostas para essa tendência. Primeiro, criando um novo tipo de página de perfil, com diferentes visões do usuário baseadas em quem está visitando sua página. Você pode categorizar seus amigos. Minha mãe, minha avó são minha família; quando entrarem na minha página, verão fotos da família reunida. E terei meus amigos de festa, que verão as fotos de eventos da balada das últimas noites.

FOLHA - A personalização termina aí?
DEWOLFE -
As pessoas apaixonadas pelo MySpace entram no site cinco, seis vezes por dia. Mas elas são apaixonadas por outras coisas na internet também. Queremos possibilitar que as pessoas coloquem no MySpace tudo aquilo de que gostam na internet. Agora, por exemplo, tem um recurso onde você pode colocar seu Gmail e ler no seu perfil do MySpace. Então você abre seu e-mail no MySpace. Eu quero trazer tempo, notícias, resultados de esporte, informações financeiras, para que você tenha tudo isso em seu MySpace.

FOLHA - E o que mais?
DEWOLFE -
A segunda tendência é a internet se tornando mais portátil, com recursos para celular, por exemplo. A terceira área é a internet se tornando mais colaborativa.

FOLHA - Duas greves paralisaram recentemente Hollywood e Broadway, enquanto a internet colocava no ar produtos de entretenimento de sucesso feitos por amadores. A internet vai acabar com as empresas de entretenimento?
DEWOLFE -
A mudança que aconteceu no mercado de música está acontecendo agora na área de vídeo. Você vê novos videomakers surgindo, produzindo porções de conteúdo sem muito custo e tendo também sua base de fãs. Pode ser um caminho para testar um show de televisão e cinema. É tão caro criar um piloto hoje em dia, mas é barato criar cinco episódios de três minutos de um novo show para internet e ver se as pessoas gostam. Hoje, apenas 10% dos pilotos acabam rendendo algo que vai ao ar. E você vê a mudança que aconteceu agora com as eleições [primárias, para presidente dos EUA]. Todos os candidatos têm um perfil no MySpace.
Nós tivemos o candidato Barack Obama no MySpace [em eventos on-line] antes de Iowa e New Hampshire, então não nos surpreendemos quando ele foi bem [em Iowa, onde venceu], porque antes ele havia vencido a primária no MySpace [em enquete].

FOLHA - E em cinema, o que muda?
DEWOLFE -
Eu não acho que as pessoas querem se sentar em frente ao MySpace e ver um filme de duas horas. Acho que é mais uma plataforma promocional. E também que pode ter grande impacto para produtores independentes. Eu soube de um produtor independente que perdeu seu profissional de pós-produção e, navegando no MySpace, conseguiu um substituto e pôde finalizar o filme.


O jornalista DANIEL BERGAMASCO viajou a convite do MySpace.


Texto Anterior: A força da turma
Próximo Texto: Reportagem de capa: Presença de amigos determina utilização
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.