São Paulo, quarta, 5 de agosto de 1998

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CIBERPAÍSES
Criação é hobby, exercício de política e forma de fazer amigos; mulheres são minoria no "país-modelismo'
Micronação sai do quarto para a Internet

da Redação

Em 26 de dezembro de 1979, Robert Ben Madison, 13, declarou a independência de seu quarto e criou, em Milwaukee, nos Estados Unidos, o reino de Talossa.
Aos poucos, o rei Robert 1º conseguiu súditos entre os amigos da rua e da escola. Em 1995, Talossa entrou na Internet. Hoje, tem mais de 50 netcidadãos, vários partidos políticos -o deputado comunista é brasileiro (leia texto nesta página)- e uma língua própria.
Muitos dos países virtuais -ou micronações, como alguns preferem chamar- nasceram assim, da decisão de um indivíduo. Outros surgiram como uma espécie de brincadeira-estudo, organizados por grupos de amigos.
Mas todos os visitados pela reportagem têm uma rica "história" e boa apresentação na Internet, com várias páginas de esclarecimento, jornais, dicas e muitos links direcionando o internauta para outros micropaíses.
Afinal, é nessa vida internética, do navegar entre páginas, que se sustentam os países virtuais. Os netcidadãos se comunicam por e- mail ou usam programas de comunicação como o "ICQ" (pronuncia-se ai sic iú, que significa, em inglês, procuro por você).

Bobagem
Parece tudo uma grande bobagem, especialmente para quem acha que não tem tempo a perder.
Francisco Russo, 19, estudante de informática e presidente de Porto Claro, afirma que não: "Numa micronação, o cidadão tem um valor muito maior do que numa nação real. Isso porque são poucos os cidadãos e é necessário que cada um deles participe do dia-a-dia da nação. Em Porto Claro, um cidadão faz muita diferença".
"As pessoas se sentem importantes, não porque tenham "poder', mas porque têm uma chance real de construir algo valioso, juntamente com outras pessoas", diz Thomas Leys, 17, um jovem belga que criou o MicroWorld, espécie de central de informações sobre os países virtuais.

Falta de mulher
Pode ser, mas o certo é que essas vantagens parecem não seduzir o universo feminino. As netcidadãs são uma minoria ainda menor do que a de mulheres que navegam na Internet.
Nos EUA, 41% dos internautas são mulheres, segundo pesquisa publicada pela revista "Business Week". No Brasil, pesquisa Cadê/ Ibope aponta o índice de 25%.
Porto Claro, um dos países virtuais criados por brasileiros, tem 85 cidadãos -apenas dez deles são mulheres. Todos os cibercidadãos de Talossa são homens, apesar de a micronação já ter tido até duas primeiras-ministras.
Mulheres são "definitivamente uma minoria" em Port Colice, mas não são "significativamente sub- representadas", diz o primeiro- ministro Steve Kramer. Ele acredita que as internautas gostam do jeito democrata de ser de Port Colice, em comparação com monarquias e ditaduras virtuais.
Já Nova Roma, que se dedica ao estudo da Roma Antiga, orgulhosamente contabiliza um terço de netcidadãs. As nova-romanas têm direito de voto e de participação política, administrativa e religiosa.

A questão financeira
De modo geral, todos fazem tudo apenas por diversão, sem dinheiro envolvido. Cada um financia seus próprios gastos -basicamente, o acesso à Internet.
Em alguns, há "paitrocínio". "Meu pai dá a maior força e ajudou a pagar a compra do domínio (o nome que vem depois do www)", diz Cláudio de Castro, 19, fundador do Sacro Império de Reunião.
As micronações preferem se apresentar como reuniões de pessoas com os mesmos interesses. "Não somos uma iniciativa comercial", proclama o primeiro-ministro de Port Colice. Nova Roma vende camisetas, e Ben Madison contabiliza "um pequeno lucro", vendendo livros sobre Talossa.
E há casos de empresas que criam países como forma de marketing -segundo publicado na imprensa norte-americana, Cuervo seria parte da publicidade da tequila José Cuervo.
(RODOLFO LUCENA)


As entrevistas foram feitas por e-mail.



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