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CIBERPAÍSES
Criação é hobby, exercício de política e forma de fazer amigos; mulheres são minoria no "país-modelismo'
Micronação sai do quarto para a Internet
da Redação
Em 26 de dezembro de 1979, Robert Ben Madison, 13, declarou a
independência de seu quarto e
criou, em Milwaukee, nos Estados
Unidos, o reino de Talossa.
Aos poucos, o rei Robert 1º conseguiu súditos entre os amigos da
rua e da escola. Em 1995, Talossa
entrou na Internet. Hoje, tem mais
de 50 netcidadãos, vários partidos
políticos -o deputado comunista
é brasileiro (leia texto nesta página)- e uma língua própria.
Muitos dos países virtuais -ou
micronações, como alguns preferem chamar- nasceram assim, da
decisão de um indivíduo. Outros
surgiram como uma espécie de
brincadeira-estudo, organizados
por grupos de amigos.
Mas todos os visitados pela reportagem têm uma rica "história"
e boa apresentação na Internet,
com várias páginas de esclarecimento, jornais, dicas e muitos
links direcionando o internauta
para outros micropaíses.
Afinal, é nessa vida internética,
do navegar entre páginas, que se
sustentam os países virtuais. Os
netcidadãos se comunicam por e-
mail ou usam programas de comunicação como o "ICQ" (pronuncia-se ai sic iú, que significa, em inglês, procuro por você).
Bobagem
Parece tudo uma grande bobagem, especialmente para quem
acha que não tem tempo a perder.
Francisco Russo, 19, estudante
de informática e presidente de
Porto Claro, afirma que não: "Numa micronação, o cidadão tem um
valor muito maior do que numa
nação real. Isso porque são poucos
os cidadãos e é necessário que cada
um deles participe do dia-a-dia da
nação. Em Porto Claro, um cidadão faz muita diferença".
"As pessoas se sentem importantes, não porque tenham "poder',
mas porque têm uma chance real
de construir algo valioso, juntamente com outras pessoas", diz
Thomas Leys, 17, um jovem belga
que criou o MicroWorld, espécie
de central de informações sobre os
países virtuais.
Falta de mulher
Pode ser, mas o certo é que essas
vantagens parecem não seduzir o
universo feminino. As netcidadãs
são uma minoria ainda menor do
que a de mulheres que navegam na
Internet.
Nos EUA, 41% dos internautas
são mulheres, segundo pesquisa
publicada pela revista "Business
Week". No Brasil, pesquisa Cadê/
Ibope aponta o índice de 25%.
Porto Claro, um dos países virtuais criados por brasileiros, tem
85 cidadãos -apenas dez deles
são mulheres. Todos os cibercidadãos de Talossa são homens, apesar de a micronação já ter tido até
duas primeiras-ministras.
Mulheres são "definitivamente
uma minoria" em Port Colice, mas
não são "significativamente sub-
representadas", diz o primeiro-
ministro Steve Kramer. Ele acredita que as internautas gostam do
jeito democrata de ser de Port Colice, em comparação com monarquias e ditaduras virtuais.
Já Nova Roma, que se dedica ao
estudo da Roma Antiga, orgulhosamente contabiliza um terço de
netcidadãs. As nova-romanas têm
direito de voto e de participação
política, administrativa e religiosa.
A questão financeira
De modo geral, todos fazem tudo
apenas por diversão, sem dinheiro
envolvido. Cada um financia seus
próprios gastos -basicamente, o
acesso à Internet.
Em alguns, há "paitrocínio".
"Meu pai dá a maior força e ajudou
a pagar a compra do domínio (o
nome que vem depois do www)",
diz Cláudio de Castro, 19, fundador do Sacro Império de Reunião.
As micronações preferem se
apresentar como reuniões de pessoas com os mesmos interesses.
"Não somos uma iniciativa comercial", proclama o primeiro-ministro de Port Colice. Nova Roma
vende camisetas, e Ben Madison
contabiliza "um pequeno lucro",
vendendo livros sobre Talossa.
E há casos de empresas que
criam países como forma de marketing -segundo publicado na
imprensa norte-americana, Cuervo seria parte da publicidade da tequila José Cuervo.
(RODOLFO LUCENA)
As entrevistas foram feitas por e-mail.
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