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reportagem de capa
Vencido o medo, idoso aproveita o micro
AULAS >> Em cursos, usuários mais velhos acham ritmo próprio de aprendizado e usam a internet para falar com a família
DA REPORTAGEM LOCAL
"Tenho medo de explodir o
computador". "Será que não vai
dar curto-circuito se eu mexer
nele?". "E se eu apagar os documentos que alguém fez antes
de mim?". É com frases assim
que vários idosos chegam ao
primeiro dia de aula do Oldnet,
projeto de inclusão digital da
ONG Aprendiz, em São Paulo.
Quem conta é a coordenadora Izabel Marques, acrescentando que, vencido o terror inicial -que vai do simples receio
ao pavor absoluto-, eles mostram um interesse enorme em
aprender. "A motivação deles é
se atualizar. Eles dizem que se
sentem excluídos, analfabetos,
sem saber o que acontece."
Alunos a partir de 60 anos recebem apoio de instrutores
com idades entre 14 e 18 anos. O
projeto, que existe há nove
anos, propõe o intercâmbio entre as gerações. "Os adolescentes ensinam aos mais velhos, o
que ajuda a quebrar estereótipos, pois eles vêem que os idosos podem aprender, mesmo
com um pouco de dificuldade,
em outro ritmo", diz.
O curso, que é gratuito e tem
duração de um ano (saiba mais
em www.oldnet.com.br), não
segue um programa específico,
mas sim o tempo e a necessidade de cada aluno.
"Em comum, os alunos têm a
vontade de se comunicar com
parentes que moram em outros Estados, outros países",
afirma Izabel.
Experiência
Falar com a família que mora
longe foi um dos motivos que
levaram a bibliotecária aposentada Gildê de Castro Dourado,
62, a procurar um curso sobre
internet. Três, quatro anos depois de começar a freqüentar a
Oldnet, Gildê é usuária constante do Skype.
"Antes eu me sentia fora do
contexto da sociedade, ponto
fora. Agora, me sinto ponto
com", diverte-se.
Além de usar o computador
no curso, Gildê também aproveita para se conectar de casa,
onde compra passagens aéreas,
declara imposto de renda, conhece novas cidades. "A internet me facilita tudo. Se quero
ver um endereço, vou lá. Se vejo
algum assunto, vou pesquisar e
ler mais. É uma coisa que alegrou a minha vida", conta.
Bê-a-bá
Ao contrário da Oldnet, que
não tem um programa fechado,
o Senac (Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial;
www.senac.br) oferece dois
cursos: um para familiarizar os
idosos com o computador e outro para introduzi-los à rede.
"Os alunos têm um tempo
particular de familiarização
com o equipamento. A maior
dificuldade deles é lidar com o
mouse. A gente percebe que esse movimento é difícil. Eles
olham para a tela, olham para a
mão, tentam entender. Já a digitação, apesar de lenta, não é
uma dificuldade", afirma Maurício Schorsch, coordenador do
curso "Internet 7.0".
Benefícios
Usar a internet ajuda os idosos não só no aspecto de integração social, mas também estimula o cérebro.
O Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) desenvolve um trabalho com idosos que têm problemas
de memória, estimulando o raciocínio por meio do uso do micro. "Conseguimos saber como
está a memória a partir do que
eles conseguem aprender",
afirma Luiz Roberto Ramos,
que dirige a equipe, em atividade desde 2003 -por lá, já passaram cerca de 300 alunos.
O centro trabalha na construção de um site de interação
para idosos, que irá avaliar a capacidade cognitiva deles, ao
mesmo tempo em que irá prescrever exercícios que envolvam
computador.
(DANIELA ARRAIS)
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