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TORRE DE BABEL
Encontro detecta falta de sites em línguas de países em desenvolvimento; África do Sul usa tecnologia de voz
Preconceito dificulta expansão global da internet
ANICK JESDANUN
DA ASSOCIATED PRESS
Rahul Dewan digitou "Índia" na
caixa de buscas de um serviço de
banco de fotos, esperando encontrar imagens digitais de seu país
de origem. Ele encontrou apenas
três -todas de bandeiras.
Dewan então digitou "Suíça",
um país menor do que o dele, e
encontrou 33, enquanto "Estados
Unidos" deu 72 resultados.
Essa demonstração destaca o
principal desafio em conseguir
acessar o mundo em desenvolvimento on-line: mesmo com o
acesso, a internet continua sendo
inexpressiva para a maioria da
população. A maior parte dos sites está em inglês, o que reflete
uma tendência ocidental.
Dewan, que é diretor-gerente da
empresa de software Srijan Technologies, em Nova Deli, finalmente teve de aceitar faces e mãos ocidentais em seu site, depois de tentar em vão encontrar imagens de
indianos que ele pudesse usar ou
um serviço de banco de fotos direcionado a indianos.
"Provavelmente pensam que
esta empresa pertence a alguém
nos EUA", lamentou Dewan na
Cúpula de Tecnologia da Informação das Nações Unidas, realizada no final do ano passado. As
pessoas e as organizações que trabalham para conectar aldeias e escolas em todo o mundo dizem
que estão apenas iniciando seus
esforços para prover acesso à internet e ensinar as pessoas como
usar computadores.
É preciso haver informações nas
línguas nativas e obedecer a tradições e diferenças locais.
"Entregar tecnologia para as
pessoas é uma coisa. Conseguir
que elas usem essa tecnologia é a
chave", disse Daniel Wagner, diretor do International Literacy
Institute (Instituto Internacional
de Alfabetização), da Universidade da Pensilvânia.
A maior parte da rede atual é
constituída por empreendimentos privados e direcionados para
onde eles acreditam que o dinheiro está: o mundo industrializado.
Consequentemente, há poucas
informações específicas de países
em desenvolvimento que, em
grande parte, permanecem fora
da rede. Segundo a União Internacional de Telecomunicações
das Nações Unidas, 1,5 bilhão de
localidades não têm nenhum
acesso a telefones ou internet, e
70% dos usuários da internet vivem em países que perfazem apenas 16% da população mundial.
Adama Samassekou, ex-ministro da educação de Mali, disse que
os idiomas falados por milhões de
africanos, incluindo mandingo e
kiswahili, não existem on-line.
Com mais de 95% da base de alfabetizados do Paquistão em urdu, a rede é relevante apenas para
a elite de 5% do país, disse Awais
Ahmad Khan Leghari, ministro
de Informação e Tecnologia.
Para resolver o problema do
analfabetismo, a África do Sul
vem desenvolvendo tecnologias
de reconhecimento de voz, de texto para fala e outras tecnologias,
iniciando pelo zulu.
Sherrin Issac, um diretor de políticas do Departamento de Ciência e Tecnologia da África do Sul,
disse que muitas das tecnologias
ocidentais existentes são inadequadas -um algoritmo de compressão de voz produz alguns "cliques" nas conversas, mudando o
significado das palavras.
A Bulgária, a Coréia do Sul e outros países estão produzindo sites
governamentais em suas línguas
nativas. Mas os usuários da rede
frequentemente precisam digitar
em inglês para encontrá-los.
O órgão regulador da internet
também vem estudando nomes
de domínios inteiramente em caracteres não ingleses.
Ainda restam desafios. O governo canadense ainda precisa adaptar seu mecanismo interno de
busca para acomodar textos em
inuktitut, a língua dos inuit. Nos
últimos meses, a Microsoft iniciou um programa de linguagem
local para ajudar universidades e
governos a adaptar o seu software
a mais línguas. Enquanto isso,
King Letsie 3º, do Lesoto, está desenvolvendo um software gratuito e de código aberto para permitir que os países adaptem ferramentas às suas necessidades.
Também existe o desejo de assegurar que os sites sejam culturalmente relevantes -não limitados
a rostos brancos, dólares americanos e valores ocidentais. Isso poderia significar artigos apoiando o
casamento entre primos, uma
união rejeitada no Ocidente.
Até então, a tarefa de diversificar conteúdos tem estado em
grande parte a cargo de grupos
como o Viva Rio, que treinou residentes das favelas urbanas no
Brasil para que escrevessem sobre
si mesmos, rebatendo as notícias
sobre crimes e outros problemas
nos mercados ocidentais.
Tradução de Angela Caracik
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