São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2010

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Alto custo freia adoção no Brasil

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Kindle não deslancha no Brasil por duas questões muito simples: o alto custo do aparelho e a reduzida oferta de obras disponíveis em português.
O preço salgado -algo em torno de R$ 1.000 pela versão mais barata do e-reader- se explica principalmente pela alta carga de tributos. O depósito que o site da Amazon exige para cobrir o imposto de importação é de US$ 266,32, valor superior aos US$ 259 cobrados pelo próprio aparelho nos EUA.
Só que existem bons argumentos jurídicos para pleitear na Justiça a eliminação dessa taxa. O Kindle, ao contrário do iPad, que reúne as funções de e-reader e de microcomputador, é um instrumento que se destina unicamente à leitura de livros, os quais, nos termos do art. 150, VI, "d" da Constituição, devem gozar de imunidade tributária. Pelo menos uma liminar que acata essa tese já foi concedida pela Justiça Federal.
Para reclamar a imunidade, porém, é preciso constituir advogado e iniciar um processo judicial. Alternativamente, pode-se torcer para que a própria Amazon ou um órgão como o Ministério Público o façam numa ação que tenha validade para todos os consumidores.

Conteúdo em português
A questão do idioma também é complicada. Até a semana passada, havia apenas 672 títulos em vernáculo -entre edições lusitanas, brasileiras e obras sobre a língua portuguesa. Isso representa 0,14% dos 477.103 livros virtuais oferecidos pela Amazon.
Enquanto editores brasileiros e a direção da Amazon não encontrarem uma forma de reduzir o preço do e-reader e aumentar significativamente o estoque de livros em português, o Kindle vai ficar restrito ao público de alto poder aquisitivo e que lê com fluência títulos em inglês, idioma da esmagadora maioria das obras.
E é justamente para o leitor de textos estrangeiros residente no Brasil que o Kindle traz mais vantagens. Além de as edições eletrônicas já serem mais baratas que as impressas -por razões mercadológicas, a maioria dos lançamentos custa US$ 9,99 (R$ 18)-, o consumidor ainda se livra do custo do frete internacional, que, no mundo em papel, costuma ficar entre 50% (entrega padrão) e 200% (expressa) do valor de uma obra típica (de uns US$ 15, ou R$ 27). Mais importante: o livro chega no tempo de um download. Não é mais necessário esperar semanas a fio pelo pacote do correio.
No caso de leitores compulsivos, que comprem um livro "típico" por semana, o investimento em um Kindle carregado com todos os impostos "se paga" em 43 semanas, o que significa uns dez meses.
Para mim, que estou com um Kindle adquirido nos EUA há quase um ano, posso dizer que a compra valeu a pena. Em meu caso, a principal vantagem é a instantaneidade, que me permite ter acesso a obras assim que elas são lançadas.
Outra característica positiva do e-reader é que a Amazon disponibiliza, a título de amostra grátis, o índice e o primeiro capítulo ou a introdução de todos os itens do catálogo. Especialmente em textos mais técnicos, você pode saber precisamente o que comprará antes de desembolsar o dinheiro.
Quanto à leitura propriamente dita, a gente se acostuma. Ler através do aparelho não é uma experiência dos sonhos, mas o desconforto inicial é compensado por vantagens como o dicionário inglês-inglês acoplado -basta colocar o cursor sobre a palavra que a definição surge no pé da tela.
Também vale destacar a possibilidade de sublinhar trechos e fazer pequenos apontamentos facilmente recuperáveis. Já não é necessário dobrar o cantinho das páginas rabiscadas.


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