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Alto custo freia adoção no Brasil
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O Kindle não deslancha no
Brasil por duas questões muito
simples: o alto custo do aparelho e a reduzida oferta de obras
disponíveis em português.
O preço salgado -algo em
torno de R$ 1.000 pela versão
mais barata do e-reader- se explica principalmente pela alta
carga de tributos. O depósito
que o site da Amazon exige para
cobrir o imposto de importação
é de US$ 266,32, valor superior
aos US$ 259 cobrados pelo próprio aparelho nos EUA.
Só que existem bons argumentos jurídicos para pleitear
na Justiça a eliminação dessa
taxa. O Kindle, ao contrário do
iPad, que reúne as funções de e-reader e de microcomputador,
é um instrumento que se destina unicamente à leitura de livros, os quais, nos termos do
art. 150, VI, "d" da Constituição, devem gozar de imunidade
tributária. Pelo menos uma liminar que acata essa tese já foi
concedida pela Justiça Federal.
Para reclamar a imunidade,
porém, é preciso constituir advogado e iniciar um processo
judicial. Alternativamente, pode-se torcer para que a própria
Amazon ou um órgão como o
Ministério Público o façam numa ação que tenha validade para todos os consumidores.
Conteúdo em português
A questão do idioma também
é complicada. Até a semana
passada, havia apenas 672 títulos em vernáculo -entre edições lusitanas, brasileiras e
obras sobre a língua portuguesa. Isso representa 0,14% dos
477.103 livros virtuais oferecidos pela Amazon.
Enquanto editores brasileiros e a direção da Amazon não
encontrarem uma forma de reduzir o preço do e-reader e aumentar significativamente o
estoque de livros em português, o Kindle vai ficar restrito
ao público de alto poder aquisitivo e que lê com fluência títulos em inglês, idioma da esmagadora maioria das obras.
E é justamente para o leitor
de textos estrangeiros residente no Brasil que o Kindle traz
mais vantagens. Além de as edições eletrônicas já serem mais
baratas que as impressas -por
razões mercadológicas, a maioria dos lançamentos custa US$
9,99 (R$ 18)-, o consumidor
ainda se livra do custo do frete
internacional, que, no mundo
em papel, costuma ficar entre
50% (entrega padrão) e 200%
(expressa) do valor de uma
obra típica (de uns US$ 15, ou
R$ 27). Mais importante: o livro chega no tempo de um
download. Não é mais necessário esperar semanas a fio pelo
pacote do correio.
No caso de leitores compulsivos, que comprem um livro "típico" por semana, o investimento em um Kindle carregado com todos os impostos "se
paga" em 43 semanas, o que
significa uns dez meses.
Para mim, que estou com um
Kindle adquirido nos EUA há
quase um ano, posso dizer que a
compra valeu a pena. Em meu
caso, a principal vantagem é a
instantaneidade, que me permite ter acesso a obras assim
que elas são lançadas.
Outra característica positiva
do e-reader é que a Amazon
disponibiliza, a título de amostra grátis, o índice e o primeiro
capítulo ou a introdução de todos os itens do catálogo. Especialmente em textos mais técnicos, você pode saber precisamente o que comprará antes de
desembolsar o dinheiro.
Quanto à leitura propriamente dita, a gente se acostuma. Ler através do aparelho
não é uma experiência dos sonhos, mas o desconforto inicial
é compensado por vantagens
como o dicionário inglês-inglês
acoplado -basta colocar o cursor sobre a palavra que a definição surge no pé da tela.
Também vale destacar a possibilidade de sublinhar trechos
e fazer pequenos apontamentos facilmente recuperáveis. Já
não é necessário dobrar o cantinho das páginas rabiscadas.
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