São Paulo, quarta-feira, 08 de maio de 2002

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SOFTWARE

Presidente da Linux International diz que sistema ajudará países emergentes a participar da revolução digital

Linux quer ganhar força no mundo do PC

FRANCISCO MADUREIRA
EDITOR DE INFORMÁTICA DA FOLHA ONLINE

O sistema operacional gratuito e de código-fonte aberto Linux, um dos concorrentes mais fortes do Microsoft Windows, ajudará o Brasil e os países emergentes a participarem mais ativamente da revolução informática. Essa é a opinião de Jon "Maddog" Hall, presidente da Linux International e um dos maiores gurus do sistema no mundo.
Para ele, o Linux começará a chegar com força aos PCs domésticos ainda neste ano. Em entrevista por e-mail, Hall, que participou, na semana passada, do 3º Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, foi duro com a Microsoft e disse ver o software livre como forma de equilibrar o jogo entre países desenvolvidos e emergentes.
Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Folha - O Linux já ameaça o Windows em crescimento no mercado corporativo. Você vê o mesmo movimento no mercado doméstico?
John "Maddog" Hall -
Não com a mesma intensidade, porque os usuários domésticos costumam ignorar o suporte das grandes vendedoras de software. Quem usa computador em casa pede ajuda para os vizinhos, para os filhos ou amigos da igreja. A densidade desse mecanismo de ajuda e troca de informação ainda não se formou para o Linux. No entanto, com mais e mais estudantes e profissionais utilizando Linux fora de casa, o sistema também crescerá no ambiente doméstico.

Folha - Se o Linux realmente pode atingir o mercado doméstico, quanto tempo falta para isso?
Hall -
Dois anos atrás, dizíamos que em 2002 ou 2003 o Linux começaria a crescer drasticamente nos computadores pessoais. Eu continuo apostando nisso.
O Linux é o sistema que mais cresce nos servidores corporativos, segundo o IDC. Ele também se destaca em projetos de sistemas embutidos, frente a frente com o Windows CE. Só nos computadores pessoais ele ainda não está presente com força.

Folha - O Linux é melhor que o Windows? Por quê?
Hall -
O Linux é infinitamente melhor que o Windows 3.1 e que a família 9x do sistema da Microsoft por causa de sua arquitetura, que oferece mais estabilidade, segurança, capacidade e melhor gerenciamento de hardware.
Já o Windows NT, no qual foram baseados o Windows 2000 e o XP, é baseado numa arquitetura diferente, que lhe confere características semelhantes às do Linux. Mas isso não significa que a Microsoft tire proveito completo dessas vantagens.
Só para demonstrar, há exemplos documentados de sistemas corporativos que rodam Linux e, nos últimos dois anos, não precisaram ser reiniciados uma vez sequer. Até mesmo o Windows mais robusto precisa ser reiniciado a cada mês, no máximo.

Folha - Bill Gates recentemente disse que adotar o Linux seria acabar com o emprego na indústria do software. É verdade? Por quê?
Hall -
O software de código aberto é uma tecnologia revolucionária, não uma evolução. Isso porque ele é o sinal do fim da era do software de código fechado, produzido em massa para gerar lucros enormes, como os de Bill Gates. Essa tecnologia abre as portas para centenas ou milhares de pequenos negócios.
A Microsoft gerou o homem mais rico do mundo (que tem mais dinheiro que muitos governos) e tem US$ 40 bilhões em ativos. Ela fez isso com um processo de desenvolvimento de software que foi criado antes da era da internet e da comunicação global. Eu vejo com o que o sr. Gates se preocupa. Essa nova era pode ser uma ameaça para sua indústria, porque coloca em choque esse modelo de produção em massa e outro, o do software feito a mão e disponível gratuitamente.

Folha - Quais são as perspectivas do Linux em países em desenvolvimento como o Brasil? E nos países desenvolvidos?
Hall -
O Linux e os programas de código aberto darão a chance para que economias emergentes, como a do Brasil, possam participar mais ativamente da revolução da informática. Como essa revolução é controlada por Redmond [cidade em que fica a sede da Microsoft, nos EUA", países como Brasil, Reino Unido, Alemanha e outros serão sempre considerados como passageiros de classe econômica. O código aberto equilibra o jogo novamente. Dá oportunidades para todos, ainda mais com o mercado global que a internet formou.

Folha - Há quem pense duas vezes antes de migrar para o Linux por causa da falta de software.
Hall -
É claro que o Windows é o sistema com o maior número de aplicações. Mas a maioria delas é especializada, e muitas são redundantes. Quantos programas diferentes de mapas o mercado realmente precisa? Quantos programas para desenhar uma casa? Quantos programas as pessoas realmente usam em casa e quais são eles? Essas são as perguntas que devemos fazer.



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