|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
reportagem de capa
Falso Pasquale dá orientações na internet
NOSSA LÍNGUA >> Usuário corrige erros alheios e responde a dúvidas; para linguista, há uma "fissura excessiva" com grafia
DA REPORTAGEM LOCAL
Pasquale Cipro Neto, professor de português e colunista da
Folha, não está no Twitter.
Mas um fake seu (twitter.com/Fake_Pasquale), que
corrige erros gramaticais e responde a dúvidas, acumula mais
de 34 mil seguidores -o número estava próximo de 60 mil,
mas diminuiu, segundo o verdadeiro Pasquale, depois de ele
ter pedido à sua agente que "tomasse providências".
"A ideia de criar o fake nasceu num dia em que vi um renomado músico, do qual sou fã,
escrever "pesquiza" no Twitter.
Pensei: "Preciso fazer alguma
coisa'", afirma o responsável
pela conta, Ener Silva, 37, que
trabalha em uma agência de
publicidade em Curitiba.
O objetivo de Silva era corrigir erros de português de outros tuiteiros, mas ele começou
a receber mensagens com dúvidas. "Coisas que nem eu sabia
acabei aprendendo também".
Na opinião de Sírio Possenti,
professor de linguística da Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), há uma "fissura
excessiva" com os problemas
de grafia.
"Acho que isso se deve ao fato de que essa é a única coisa, a
rigor, que a maioria das pessoas
sabe corrigir", afirma Possenti.
"Se elas leem um texto e veem
um cê-cedilha que não deveria
estar ali, dizem: "Esse texto está
errado". Mas não se dão conta,
frequentemente, se o texto é
incoerente, contraditório, incompleto ou se o argumento é
uma droga".
Possenti não considera uma
afronta à língua as abreviações
comuns na internet e ainda
mais intensas no Twitter, que
tem limite de 140 caracteres.
"Isso não é nem uma ameaça à
língua -a língua nem fica sabendo disso- e muito provavelmente não é uma ameaça
nem à escolaridade daqueles
que fazem isso. Nada garante
que quem escreve dessa forma
no Twitter escreve assim em
outros lugares".
Para Pasquale Cipro Neto, o
verdadeiro, a pessoa precisa ter
consciência do território em
que está. "Se ela está escrevendo nesse ambiente, naturalmente vai se valer desses recursos [abreviações] para atender às suas necessidades", afirma. "Agora, se ela achar que
pode fazer isso a vida inteira, aí
é que começa o problema. O sujeito não pode ter um código
só. Quem tem um código só
não tem nenhum".
Leia as entrevistas com Possenti e com @Fake_Pasquale
na íntegra em www.folha.com.br/circuitointegrado.
(RAFAEL CAPANEMA)
Texto Anterior: Prévia do novo Internet Explorer pode ser testada Próximo Texto: Frase Índice
|