São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

reportagem de capa

Falso Pasquale dá orientações na internet

NOSSA LÍNGUA >> Usuário corrige erros alheios e responde a dúvidas; para linguista, há uma "fissura excessiva" com grafia

DA REPORTAGEM LOCAL

Pasquale Cipro Neto, professor de português e colunista da Folha, não está no Twitter.
Mas um fake seu (twitter.com/Fake_Pasquale), que corrige erros gramaticais e responde a dúvidas, acumula mais de 34 mil seguidores -o número estava próximo de 60 mil, mas diminuiu, segundo o verdadeiro Pasquale, depois de ele ter pedido à sua agente que "tomasse providências".
"A ideia de criar o fake nasceu num dia em que vi um renomado músico, do qual sou fã, escrever "pesquiza" no Twitter. Pensei: "Preciso fazer alguma coisa'", afirma o responsável pela conta, Ener Silva, 37, que trabalha em uma agência de publicidade em Curitiba.
O objetivo de Silva era corrigir erros de português de outros tuiteiros, mas ele começou a receber mensagens com dúvidas. "Coisas que nem eu sabia acabei aprendendo também".
Na opinião de Sírio Possenti, professor de linguística da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), há uma "fissura excessiva" com os problemas de grafia.
"Acho que isso se deve ao fato de que essa é a única coisa, a rigor, que a maioria das pessoas sabe corrigir", afirma Possenti. "Se elas leem um texto e veem um cê-cedilha que não deveria estar ali, dizem: "Esse texto está errado". Mas não se dão conta, frequentemente, se o texto é incoerente, contraditório, incompleto ou se o argumento é uma droga".
Possenti não considera uma afronta à língua as abreviações comuns na internet e ainda mais intensas no Twitter, que tem limite de 140 caracteres. "Isso não é nem uma ameaça à língua -a língua nem fica sabendo disso- e muito provavelmente não é uma ameaça nem à escolaridade daqueles que fazem isso. Nada garante que quem escreve dessa forma no Twitter escreve assim em outros lugares".
Para Pasquale Cipro Neto, o verdadeiro, a pessoa precisa ter consciência do território em que está. "Se ela está escrevendo nesse ambiente, naturalmente vai se valer desses recursos [abreviações] para atender às suas necessidades", afirma. "Agora, se ela achar que pode fazer isso a vida inteira, aí é que começa o problema. O sujeito não pode ter um código só. Quem tem um código só não tem nenhum".
Leia as entrevistas com Possenti e com @Fake_Pasquale na íntegra em www.folha.com.br/circuitointegrado. (RAFAEL CAPANEMA)


Texto Anterior: Prévia do novo Internet Explorer pode ser testada
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.