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REPORTAGEM DE CAPA
Viciados conversam para superar doença
Raimundo Rocco/Folha Imagem
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Equipe de psicologia da Clínica da PUC, capitaneada pela professora Rosa Farah (ao centro), especializada em casos de internet |
TRATAMENTO Troca da vida real por excesso de tempo on-line e traições virtuais são alguns dos problemas mais comuns
DA REPORTAGEM LOCAL
O Proad e a clínica da PUC
tratam de pacientes por linhas
diferenciadas. Na entidade
mantida pela Unifesp, os tratamentos são presenciais. Na clínica da PUC, a maior parte dos
atendimentos é realizado via e-mail, mantendo o anonimato
dos pacientes. Entretanto ambas tem um ponto em comum:
atendem gratuitamente quem
procura ajuda.
O Proad, inicialmente, tratava de casos como vício em jogos, compulsão para sexo e para
compras, todos enquadrados
no quesito dependências comportamentais. Há cerca de um
ano, percebendo que havia um
problema crescente ligado às
novas tecnologias, a entidade
incluiu em seus quadros o auxílio a viciados em internet.
Atualmente, há dois pacientes sendo tratados devido ao
problema. No total, quatro já
passaram pelo programa que,
por meio de psicoterapia, tenta
reverter a situação dos doentes.
A psicoterapia é um tipo de tratamento da psicologia que
abrange diferentes métodos. A
comunicação verbal e não-verbal e a relação do paciente com
o psicoterapeuta, entretanto,
estão presentes em qualquer tipo de psicoterapia. Esse modo
de auxílio pode ser realizado individualmente, com casais, famílias ou em grupo, como ocorre na clínica.
"As sessões reúnem dependentes da internet e pessoas
com outros vícios", contou
Aderbal Vieira Júnior, que
coordena o programa de atendimento. "Os grupos são de até
oito pessoas e, em geral, há melhora inicial depois dos primeiros três meses de terapia."
Embora o tratamento coletivo de pacientes passe a impressão, em um primeiro contato,
de ser igual ao que ocorre com
grupos de auxílio a outros viciados, como o A.A. (Alcoólicos
Anônimos), Júnior explica que
a psicoterapia é diferente. Em
comum, ambos os processos só
tem o fato de serem eventos
realizados coletivamente.
"Na psicoterapia, todo o tratamento é monitorado por profissionais", conta o psicólogo.
Já em grupos como o A.A., a base do auxílio é formada pelas
experiências dos próprios viciados, que contam suas histórias pessoais e tentam se apoiar
no problema comum para alcançar a cura.
PUC
Na clínica da PUC, às segundas-feiras e quintas-feiras, oito
psicólogos voluntários se reúnem e debatem assuntos ligados à psicologia e informática.
Os estudos renderam um livro
("Psicologia e Informática - O
ser humano diante das novas
tecnologias", vários autores,
editora Oficina do Livro).
Além da troca de experiências, eles se dedicam a atender
pacientes por e-mail. Durante o
auxílio eletrônico, eles não pedem quaisquer dados pessoais
do paciente, nem mesmo nome
ou sexo.
O atendimento eletrônico
não exclui o atendimento pessoal, mas o grupo revela que pacientes com problemas ligados
a internet preferem se manter
no anonimato e enviar e-mails.
"Se a pessoa chegar à clínica,
poderemos atender, mas o forte mesmo é o auxílio eletrônico
realizado por e-mail", informou a professora Rosa Farah,
coordenadora do projeto.
"Muitas vezes, quem entra
em contato conosco são amigos
e parentes da pessoa com problemas, pedindo orientações."
O grupo trabalha com assuntos relacionados com tecnologia desde 1995 e já respondeu a
cerca de 5.400 e-mails em todos esses anos de atividade. Os
casos variam de acordo com a
época, mas a maior parte tem
relação com traições on-line,
jogos digitais e, claro, o excesso
de tempo que pessoas passam
na rede.
"Quando há preocupação
com o tempo que alguém fica
conectado, dificilmente é o
próprio doente, mas alguém
próximo que entra em contato
conosco", conta Rosa. "Não há
um padrão de ajuda. Cada caso
reportado é avaliado de forma
individual, e recebe um tratamento diferenciado."
(SV)
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