São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Na periferia

LAN houses espalham-se por bairros afastados e atraem pessoas atrás de serviços, jogos e socialização

CAMILA RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Orkut, o mensageiro instantâneo MSN e os jogos são os principais atrativos que motivam moradores da periferia a criar o hábito de navegar na internet. Essa foi a constatação da Folha ao visitar as periferias de Curitiba e Recife e quatro bairros nas extremidades da cidade de São Paulo: Tremembé, na zona norte; Raposo Tavares, na zona oeste; Guaianases, na zona leste; e Grajaú, na zona sul, além do centro.
A maioria dos usuários são crianças e adolescentes que ou acessam a rede mundial nos pontos de acesso gratuito ou pagam cerca de R$ 2 por hora. Na região do Itaim Bibi, em São Paulo, o preço da hora na internet pode passar de R$ 6.
Esses estabelecimentos têm até dez computadores conectados à banda larga e, normalmente, também oferecem outros serviços e produtos: são salão de beleza, papelaria ou bomboneira. Isso porque a aposta no serviço de internet é recente e, por enquanto, não é suficiente para garantir o sustento de seus proprietários.


30,1% dos internautas utilizam centro público de acesso pago (LAN house e cibercafés), enquanto 3,49% acessam centro público de acesso gratuito (telecentros), informou pesquisa do Cetic.br, publicada em 2007


Todas as LAN houses visitadas em São Paulo ficam próximas de um ou mais telecentros da prefeitura, que oferecem acesso de graça e contêm, em média, 20 computadores cada um. O curioso é que as mesmas pessoas que freqüentam as salas de informática públicas vão às LAN houses. O motivo: ou porque a internet é mais rápida ou porque há jogos -o mais popular é o Counter Strike, de tiro.
Devido a esse cenário, o Ibict (Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia) e a ABCID (Associação Brasileira dos Centros de Inclusão Digital) querem incluir LAN houses e cibercafés no MID (Mapa da Inclusão Digital). O projeto, iniciado em 2006 e acessível pelo inclusao.ibict.br, levantou quais são as salas dos projetos de inclusão digital das três esferas de governo.
"A LAN house está onde o governo não está", constata Anaísa Caminha Gaspar, coordenadora técnica do MID. O problema, segundo ela, é que, pela falta de legislação adequada e de incentivos, a maioria dos estabelecimentos são irregulares.
A estimativa da ABCID é que o índice de informalidade seja superior a 85%, afirma Mário Brandão, presidente da associação. "Reprimir a atividade é reprimir o acesso das camadas menos favorecidas à informação e à tecnologia. Os donos dessas LANs não são ex-presidiários fugitivos. São pessoas comuns, como os jornaleiros, os donos de padarias e de qualquer outro negócio."

Legalização
Na semana passada, a Polícia Civil fechou 335 estabelecimentos e apreendeu 2.339 computadores em São Paulo por falta de alvará de funcionamento ou porque ofereciam jogos de azar. A polícia verificou também se os jogos em que os usuários se conectam em rede são pirateados.
Em relação a legalização, um dono de LAN house disse que seus jogos são originais, mas admitiu que, por enquanto, o Windows não é; por isso, já está providenciando o Linux para substituí-lo. "O bicho tá pegando", disse enquanto assistia à noticia sobre o fechamento das empresas, na última sexta. "Não dá para ficar pagando R$ 500 a licença para cada computador, sem contar o Office", diz. "Na periferia, você não vai encontrar uma 100% legalizada".


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