Recurso à trapaça é considerado comum na jogatina, e proliferam na rede serviços que oferecem dicas para que usuários possam superar misssões mais complexas

LISA BAERTLEIN
DA REUTERS

Alguém convencido de que os trapaceiros nunca vencem é, certamente, alguém que não gosta de videogames.
Trapacear é muitas vezes a chave do sucesso para entusiastas da diversão eletrônica e pode levar alguém até mesmo a ser banido de jogos coletivos.
Isso inibe um pouco a prática, mas, nos jogos individuais, dar um jeitinho, buscando dicas em sites especializados, parece ser um comportamento menos raro.
"A única coisa que vale para todo o universo dos games é que todo mundo, uma hora ou outra, chega a um ponto além do qual não consegue avançar", afirmou Sam Kennedy, que comandou o lançamento, no ano passado, do site MyCheats.com, do Ziff Game Group.
"Se alguém paga US$ 60 por um jogo, essa pessoa deseja ver seu dinheiro render. Os jogos formam hoje mundos imensos e não há somente uma forma de atravessá-los", completa.
Esse hábito fez nascerem dezenas de sites sobre o assunto, entre os quais o GameFAQ.com, o CheatPlanet.com, o CheatCodes.com, o CheatCC.com e as seções especializadas dos sites IGN.com e GameSpy.com.
Kennedy considera, porém, que vários sites do gênero parecem saídos da época do Atari 2600 -baseiam-se em documentos de texto difíceis de navegar. "Nada mudou no mundo das trapaças, até agora", afirmou Kennedy, que incorporou as mais recentes ferramentas de troca de informação ao MyCheats.com.
Esses novos sites seriam uma mistura de comunidades do tipo MySpace.com e sites cujo conteúdo é elaborado pelos usuários, como a Wikipedia.org, o Digg.com e o Craiglist.org.
"Os jogadores realmente gostam de compartilhar sua paixão e seus conhecimentos, afirmou Kennedy, observando ainda que os usuários de videogame são pessoas inclinadas a adotar rapidamente as novas tecnologias, tendo, por exemplo, recorrido aos blogs muito antes de esse formato ganhar popularidade.
O MyCheats.com convida seus usuários a enviar e a editar conteúdo do banco de dados do site, que contém recursos de trapaça, e dos seus superguias de estratégia. Os usuários também têm a chance de dar nota aos diferentes conteúdos. As informações com melhores avaliações recebem destaque no site.
Os códigos de fraude são séries especiais de botões que permitem aos que desenvolvem os games testar esses programas e pular um nível ou outro.
Os fabricantes de jogos começaram a deixar os códigos no produto final e a divulgá-los com o passar do tempo, diretamente para os compradores ou por meio de sites, revistas e livros.
Algumas vezes, porém, os códigos de fraude são falhas descobertas pelos jogadores e que podem melhorar a performance deles nos games.
Outros são "ovos de Páscoa" (easter eggs, em inglês) escondidos propositalmente nos códigos dos jogos para que os usuários os encontrem.
Esses códigos podem, por exemplo, permitir que um personagem readquira seu nível máximo de energia, que comece uma fase com uma arma mais potente ou que ganhe mais dinheiro dentro do jogo.
Empresas de videogames, como a Electronic Arts e a Ubisoft, se servem há muito tempo desses códigos para despertar novamente o interesse por jogos lançados meses antes. E, cada vez mais, estão usando esses códigos em campanhas de publicidade.
O estudante Jonathan Jakes-Schauer, da Universidade do Norte da Flórida, afirmou que os sites de trapaça ferem seus princípios. Mas isso enquanto não empacar em algo óbvio ou se não está jogando pela segunda vez um game do qual deseja aproveitar todos os recursos.
"Descobrir como fazer as coisas é parte da diversão", afirmou, admitindo ter "infringido um pouco" seus princípios quando jogava o Kingdom Hearts, um jogo de RPG da Square Enix.

Tradução de RODRIGO CAMPOS CASTRO


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