São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010 |
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reportagem de capa Site mostra pelados e poucas mulheres CARA A CARA >> Dois repórteres da Folha relatam os seus encontros aleatórios via webcam com internautas no Chatroulette
DANIELA ARRAIS Dois repórteres da Folha passaram algumas horas no Chatroulette e contam suas experiências abaixo.
DANIELA - Sabe quando você entrava no mIRC para encontrar desconhecidos? A internet era discada, você digitava e esperava ansiosamente a resposta que vinha de lugares distantes. No Chatroulette, o objetivo é o mesmo. A diferença é que do fim dos anos 1990 para 2010 a internet evoluiu, é rápida e permite que você converse com gente de qualquer parte do mundo por meio de webcam -sem engasgos de imagem.
RAFAEL - Para não ser identificado, uso uma camiseta que cobre minha boca e meus olhos. Na cabeça, um short de pijama. "Capitão Cueca, eu presumo?", diz o primeiro interlocutor, um cachorro de plástico. E desconecta. Next!
DANIELA - Um garoto em um quarto escuro pergunta de onde eu sou. A reposta Brasil é acompanhada por "Samba". Samba, só samba. Sem caipirinha, feijoada ou Ronaldo. No Chatroulette, todos parecem ser lacônicos. A conversa é simples, não é intermediada por links de veja isso, ouça aquilo. No máximo, há sugestões de "me passa seu MSN?".
RAFAEL - Aparecem um homem e uma mulher juntos. Pergunto se são um casal. "Sim, e não vamos transar com você", avisam. "Não quero transar com vocês", tranquilizo-os. Pergunto qual a pessoa mais interessante que eles haviam encontrado no Chatroulette. "Você!", respondem, e desconectam logo depois. Devia ser mentira.
DANIELA - Visto uma peruca loira de Carnaval e coloco óculos escuros. Uma cara vestido só de roupão diz pra mim: "Você está a cara da Lady Gaga". Dou uma risadinha e clico em Next.
RAFAEL - Ao longo de uma hora e meia, encontrei cerca de 80 usuários. Quatro ou cinco eram mulheres. Todas desconectaram imediatamente.
DANIELA - Depois de seis homens, aparece uma mulher. Ou eu achava que era uma mulher. Após saber que a pessoa mora no sul da França e trabalha com advocacia, a surpresa: chama-se Bryan. Ah, a escuridão...
RAFAEL - Um homem aparentando 35 anos parece simpático. "Você está aqui pelas garotas?", pergunto. "Pelos garotos". "O Chatroulette é um bom lugar para conhecer homens?". "Sim, tive várias relações significativas nos últimos três dias". Ele perde a paciência com a entrevista e vai ao que interessa (para ele): "Se você vai esconder seu rosto, deveria pelo menos tirar a roupa". Agradeço o convite, mas declino e desejo-lhe boa sorte.
DANIELA - Depois de falar com 12 pessoas, meu interlocutor é um pênis. Sim, chegou a hora da pornografia. "Olá, você é uma graça", me diz. "Mostre seus peitos". Next! Engraçado que parece haver algum algoritmo que emenda a conversa com outra do mesmo o tipo. Mais um falo, dessa vez guardado na cueca. Mas não por muito tempo. Percebo os malabarismos do cara se masturbando e digitando no modo "catando milho". Next!
RAFAEL - Presencio uma cena rara no Chatroulette: erotismo feminino. Uma garota ameaça tirar a blusa. A cabeça está fora do quadro. "Você é de verdade?", pergunto -é possível enganar o Chatroulette colocando um vídeo qualquer no lugar da webcam. Ela não responde e desconecta 15 segundos depois.
DANIELA - No tédio ou na solidão da internet, você pode passar horas procurando desconhecidos aleatórios. Se daí vão surgir histórias reais, só o tempo vai dizer. Depois de uma hora e meia, clico em Pause. Para não voltar tão cedo. Texto Anterior: Vitrine Próximo Texto: Site captura fotos e indica localização aproximada dos usuários Índice |
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