São Paulo, quarta-feira, 17 de março de 2010

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entretenimento

Enxurrada de som e vídeo

Eric Klinker, executivo-chefe da BitTorrent, fala do consagrado protocolo de compartilhamento de arquivos

AMANDA DEMETRIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Eric Klinker é o típico geek norte-americano. Simpático, meio sem jeito, mas bem-humorado, conversou com a Folha direto de San Francisco sobre o seu trabalho na BitTorrent (www.bittorrent.com).
A empresa mantém o protocolo de troca de arquivos de mesmo nome, que tem, pelo menos, 70 milhões de usuários ativos por mês, segundo Klinker.
O executivo chegou ao Brasil ontem e dá palestra amanhã no Web Expo Fórum (www.webexpoforum.com.br). Segundo ele, o assunto deve girar em torno das oportunidades criadas pelas mídias digitais.

 

FOLHA - Quais são as maiores ameaças ao BitTorrent atualmente?
ERIC KLINKER -
Somos um negócio pequeno e, nesses casos, várias coisas podem dar errado, mas não acho que existam ameaças específicas. Nós queremos nos assegurar de que continuaremos inovando e melhorando a tecnologia. A inovação tecnológica é uma ameaça para todos os negócios que existem, mas nós também estamos entre duas grandes indústrias, a de provedores de internet e a de mídia. Nós tivemos grandes progressos com a indústria de provedores no último ano, reconstruindo o protocolo de transporte do BitTorrent para que ele seja mais amigável para a rede. Agora, estamos focados em dar oportunidades para a indústria do entretenimento e das mídias.

FOLHA - Melhorou a relação de vocês com a Justiça e os artistas?
KLINKER -
A relação com a Justiça e com os artistas melhorou. Nos esforçamos bastante para criar um diálogo com a indústria produtora de conteúdo. Ao longo do processo, desenvolvemos boas relações com grandes estúdios de Hollywood e fomos apresentados a novos produtores, como a indústria de games. Cada vez mais, vários artistas veem uma oportunidade no BitTorrent e não uma ameaça, ou eles reconhecem que existe um desafio a ser superado. Isso é bom. As relações melhoraram, mas não quer dizer que elas sejam ótimas.

FOLHA - Você tem números de quantas pessoas usam o formato BitTorrent para compartilhar?
KLINKER -
Nós sabemos de uma parcela pequena do que ocorre, porque existem vários clientes de BitTorrent espalhados pelo mundo. No geral, temos aproximadamente 70 milhões de usuários ativos todo mês. E isso está espalhado. É um mercado grande na Europa, na América do Sul, na América do Norte. Na Ásia, é menor.

FOLHA - Como a empresa lida com as questões de direitos autorais?
KLINKER -
A tecnologia é o meio de tráfego de dados e os direitos autorais são uma camada acima disso. A tecnologia não sabe, não pode distinguir. O desafio para os direitos autorais está nos sites que publicam e disponibilizam conteúdo ilegal, e não no protocolo.

FOLHA - Qual sua aposta para o futuro da indústria da diversão?
KLINKER -
Eu acho que os modelos de negócio vão se adaptar às realidades da internet. É muito difícil controlar uma mídia, uma vez que ela tenha sido lançada. Estão surgindo modelos de negócio criativos que separam distribuição e monetização. Os jogos on-line são um bom exemplo, nos quais as pessoas são livres para jogar, mas existem oportunidades de ganhar dinheiro dentro da experiência. Eu acho que outros formatos vão seguir essa direção no processo de fazer os produtos de mídias mais populares do que nunca.

FOLHA - Qual porcentagem do uso do site de vocês envolve troca de arquivos legítima (dentro da lei)?
KLINKER -
Não sabemos, temos muito cuidado com questões de privacidade. Isso seria como se o seu navegador monitorasse tudo o que você faz e guardasse os dados.

FOLHA - Como você vê o futuro do compartilhamento de arquivos? A música por streaming é um adversário do BitTorrent?
KLINKER -
Talvez. Existem vários novos serviços, mas, por agora, parece existir algo atraente em fazer o download e poder consumir o objeto no tocador e quando o usuário escolher. Mas não há dúvidas de que existem mais opções de entretenimento do que nunca, incluindo categorias novas como as redes e os games sociais.

FOLHA - Quais são os desafios a serem superados no desenvolvimento do protocolo BitTorrent?
KLINKER -
Olhando para o futuro, nós precisamos continuar explorando jeitos de tornar o protocolo mais amigável para a rede. Se isso depende de algum tipo de política de mecanismo ou algo do tipo, ainda precisamos saber. Os operadores das redes deveriam buscar maneiras de estimular esse desenvolvimento. Algo como descontos no serviço de internet, talvez.
Também procurando maneiras de dar valor aos criadores de conteúdo de outra forma, além do desafio tecnológico. Novos modelos de negócio estão evoluindo e estou encorajado pelo progresso feito por alguns experimentalistas como a banda Radiohead. Outros seguirão.

FOLHA - Você sabe quanto a tecnologia BitTorrent move pela rede?
KLINKER -
Nossa tecnologia move mais de um Exabyte de dados a cada mês. Já que 1 Gbyte é algo como 1 bilhão de bytes, estamos falando de aproximadamente 1 bilhão de Gbytes durante o mês.

FOLHA - Recentemente, administradores de um site de BitTorrent grego foram presos. Qual o posicionamento da empresa?
KLINKER -
Tenho que confessar que não estou tão familiarizado com as questões específicas desse caso. Como eu não sou um advogado, eu não teria a opinião mais informada. No geral, acho que a lei tem dificuldades de acompanhar a inovação.


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