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entretenimento
E-zine Cardosonline completa dez anos
PRECURSOR >> Fanzine por e-mail chegou a ter 5.000 assinantes e revelou escritores como Clarah Averbuck e Daniel Galera
DANIELA ARRAIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles dizem que inventaram a
internet. E até registraram um
domínio para não deixar isso
passar em branco: www.inventamosainternet.com.
Há dez anos, quando grande
parte das conexões à internet
era discada, e blogs e redes sociais ainda começavam a engatinhar, uma turma de estudantes se reunia virtualmente para
fazer uma publicação também
virtual, de ares culturais, que
era distribuída por e-mail.
Em três anos de atividade, o
Cardosonline, ou COL, chegou
ao expressivo número de 5.000
assinantes. Foram 278 edições,
cada uma com o equivalente a
70 páginas de texto, feitas por
oito pessoas.
"[Inventamos a internet] aos
20 e poucos, sem querer, de
madrugada, em roupas de baixo, sob o efeito de substâncias
divertidas, em porões, sótãos e
quartos escuros quase sempre
localizados na casa de nossos
pais", lembra André Czarnobai,
o Cardoso que dava nome ao
mailzine -de estudante de jornalismo na época, ele se transformou em consultor criativo e
escritor, com o livro "Cavernas
& Concubinas".
Prepotência juvenil
"Sendo jovens desocupados e
vanguardistas, resolvemos dar
vazão à nossa prepotência
usando aquele incrível meio de
comunicação que permitia enviar egotrips para o mundo inteiro sem a necessidade de tirar
centenas de fotocópias, grampeá-las no formato de fanzine
[espécie de revista autoral] e
enviar pelo correio", completa
Marcelo Träsel, então estudante de farmácia e hoje professor
de comunicação digital e consultor em novas mídias.
Para Daniel Pellizzari, o Mojo, escritor e tradutor, o COL foi
precursor de alguns elementos
da web 2.0, em que o usuário
não apenas consome conteúdo,
mas também o produz.
"Fomos precursores do senso de comunidade e de interação entre produtores e consumidores de conteúdo, que a
partir de determinado momento se tornaram uma coisa só."
"Foi basicamente uma questão de mídia, não de estilo",
completa Guilherme Caon,
professor universitário.
Guilherme Pilla, que hoje
trabalha com produção de vídeos, reconhece que existiam
outras iniciativas do gênero na
internet, mas ressalta o "fenômeno de massa" que era o zine.
Foi no COL que alguns escritores da nova geração, como
Daniel Galera e Clarah Averbuck -que costumam ser classificados por críticos e jornalistas como "de internet"-, começaram a publicar seus textos
para um público maior.
"A gente sacou, antes de todo
mundo, que a internet era o
meio ideal para autores iniciantes divulgarem seus textos",
afirma Galera, que teve seus livros transpostos para o cinema
com "Cão Sem Dono", de Beto
Brant. "Ainda não existiam
blogs. Aprimoramos o modelo
de publicação via e-mail para
levar a cabo o que hoje tanta
gente por meio de Blogger,
WordPress, MySpace e tal."
Clarah Averbuck, que teve
textos de blogs e livros usados
no filme "Nome Próprio", de
Murillo Salles, rebate a relação
entre literatura e internet. "Escritor é escritor. Pode escrever
na internet, em papel de pão,
em máquina de escrever. Escritor escreve."
Mas um integrante do COL
dá razão ao rótulo. "Não há como negar que o meio influenciou a mensagem neste caso:
escritores saídos da rede são,
sim, um produto dela. Mas essa
transformação é muito mais
abrangente", diz o jornalista
Hermano Freitas.
Para comemorar os dez anos
do COL, Cardoso e turma preparam uma edição especial para 999 assinantes. Uma possível volta é descartada por todos. "Esse negócio de se reunir
depois do fim é coisa de banda
precisando de dinheiro pra
comprar mais drogas. Errado",
diz Clarah.
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