São Paulo, quarta-feira, 17 de setembro de 2008

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entretenimento

E-zine Cardosonline completa dez anos

PRECURSOR >> Fanzine por e-mail chegou a ter 5.000 assinantes e revelou escritores como Clarah Averbuck e Daniel Galera

DANIELA ARRAIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Eles dizem que inventaram a internet. E até registraram um domínio para não deixar isso passar em branco: www.inventamosainternet.com.
Há dez anos, quando grande parte das conexões à internet era discada, e blogs e redes sociais ainda começavam a engatinhar, uma turma de estudantes se reunia virtualmente para fazer uma publicação também virtual, de ares culturais, que era distribuída por e-mail.
Em três anos de atividade, o Cardosonline, ou COL, chegou ao expressivo número de 5.000 assinantes. Foram 278 edições, cada uma com o equivalente a 70 páginas de texto, feitas por oito pessoas.
"[Inventamos a internet] aos 20 e poucos, sem querer, de madrugada, em roupas de baixo, sob o efeito de substâncias divertidas, em porões, sótãos e quartos escuros quase sempre localizados na casa de nossos pais", lembra André Czarnobai, o Cardoso que dava nome ao mailzine -de estudante de jornalismo na época, ele se transformou em consultor criativo e escritor, com o livro "Cavernas & Concubinas".

Prepotência juvenil
"Sendo jovens desocupados e vanguardistas, resolvemos dar vazão à nossa prepotência usando aquele incrível meio de comunicação que permitia enviar egotrips para o mundo inteiro sem a necessidade de tirar centenas de fotocópias, grampeá-las no formato de fanzine [espécie de revista autoral] e enviar pelo correio", completa Marcelo Träsel, então estudante de farmácia e hoje professor de comunicação digital e consultor em novas mídias.
Para Daniel Pellizzari, o Mojo, escritor e tradutor, o COL foi precursor de alguns elementos da web 2.0, em que o usuário não apenas consome conteúdo, mas também o produz.
"Fomos precursores do senso de comunidade e de interação entre produtores e consumidores de conteúdo, que a partir de determinado momento se tornaram uma coisa só."
"Foi basicamente uma questão de mídia, não de estilo", completa Guilherme Caon, professor universitário.
Guilherme Pilla, que hoje trabalha com produção de vídeos, reconhece que existiam outras iniciativas do gênero na internet, mas ressalta o "fenômeno de massa" que era o zine.
Foi no COL que alguns escritores da nova geração, como Daniel Galera e Clarah Averbuck -que costumam ser classificados por críticos e jornalistas como "de internet"-, começaram a publicar seus textos para um público maior.
"A gente sacou, antes de todo mundo, que a internet era o meio ideal para autores iniciantes divulgarem seus textos", afirma Galera, que teve seus livros transpostos para o cinema com "Cão Sem Dono", de Beto Brant. "Ainda não existiam blogs. Aprimoramos o modelo de publicação via e-mail para levar a cabo o que hoje tanta gente por meio de Blogger, WordPress, MySpace e tal."
Clarah Averbuck, que teve textos de blogs e livros usados no filme "Nome Próprio", de Murillo Salles, rebate a relação entre literatura e internet. "Escritor é escritor. Pode escrever na internet, em papel de pão, em máquina de escrever. Escritor escreve."
Mas um integrante do COL dá razão ao rótulo. "Não há como negar que o meio influenciou a mensagem neste caso: escritores saídos da rede são, sim, um produto dela. Mas essa transformação é muito mais abrangente", diz o jornalista Hermano Freitas.
Para comemorar os dez anos do COL, Cardoso e turma preparam uma edição especial para 999 assinantes. Uma possível volta é descartada por todos. "Esse negócio de se reunir depois do fim é coisa de banda precisando de dinheiro pra comprar mais drogas. Errado", diz Clarah.


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