|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ensaio
Corpo 2.0
Fotógrafa holandesa faz ensaio imaginando como a tecnologia pode vir a mudar as formas
do corpo humano. "Por que o corpo não se molda às nossas necessidades?", questiona
DANIELA ARRAIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Tivesse o corpo humano a capacidade de se adaptar à tecnologia, veríamos pessoas deformadas caminhando de um lado
para o outro. Pelo menos, na visão da fotógrafa holandesa
Marcia Nolte, 26, autora de
"Corpus 2.0", série de sete retratos que mostram como o
corpo humano poderia se ajustar ao design de produtos que
usamos no dia-a-dia.
Para quem passa o dia falando ao telefone, nada mais apropriado do que um ombro maior
e mais proeminente. Para
quem não tira o fone dos ouvidos, uma orelha que acomode o
padrão universal de fones.
Confira a entrevista concedida à Folha por e-mail.
FOLHA - Como surgiu a série?
MARCIA NOLTE - Em um dos
meus projetos, trabalhei com
massa de fazer pão. Eu estava
sovando a massa enquanto
amarrava cordas ao redor dela.
Eu tentava dar uma forma, mas
o material sempre encontrava
uma maneira de fugir, dando
novas e interessantes formas.
Também estava interessada
na teoria da evolução. Ela é sobre sobrevivência, mas agora
você vê que as necessidades individuais são mais importantes. Quando olhei ao meu redor, percebi um grande desenvolvimento em tecnologia, fenômenos da moda, maneiras de
viver que estão influenciando
bastante essas necessidades do
indivíduo.
Os objetos relacionados a essas necessidades são sempre
desenhados para o ser humano.
Nesse ponto, perguntei a mim
mesma: "Por que o corpo não se
molda às nossas necessidades?". O bom design dos objetos, portanto, poderia permanecer do jeito que é.
FOLHA - Fale sobre as fotos.
NOLTE - "Shoulderholder" é sobre o desenvolvimento da tecnologia sem fio. Por conta dela,
é possível fazer mais coisas ao
mesmo tempo, como telefonar
e dirigir. O crescimento do
"ombro segurador" vai tornar
mais fácil segurar o telefone.
Em "Touch-it Thumb", o garoto usa mensagens de texto como sua principal fonte de comunicação. Agora, ele tem mais
flexibilidade e velocidade.
FOLHA - A edição das fotos foi digital ou analógica?
NOLTE - Onde foi possível, fiz
formas de silicone e as coloquei
no corpo. Então tirei as fotos e
retoquei digitalmente.
FOLHA - A tecnologia pode mudar
nossas vidas não apenas social, mas
também fisicamente. Em 20, 50
anos, o que deverá acontecer?
NOLTE - Se as pessoas vão ter
formas como essas, podemos
pensar em um novo design. Alguém com um "ombro segurador" precisará de novas roupas
-uma nova moda pode existir.
Corpos deformadas já não são
mais considerados feios, mas
uma coisa completamente
aceita e com um tipo especial
de beleza. Uma nova linha de
cirurgia plástica pode surgir.
Vamos nos comportar diferentemente, como crianças que
não tocam a campainha com o
dedo indicador, mas com o ombro, o que já acontece. Essa
provavelmente vai ser a maior
mudança. A mudança na forma
nunca vai ganhar da velocidade
da tecnologia, portanto a evolução vai ficar mais lenta. Eu apenas segui essa evolução um
pouco e maximizei as direções
potenciais para prevenir as
pessoas: "E se?". Para olhar de
um novo ponto de vista o design e deixar você pensando sobre a influência dele no mundo.
Texto Anterior: Metabuscador: Mecanismo pesquisa sites simultaneamente Próximo Texto: Erros com o Photoshop produzem aberrações Índice
|