São Paulo, quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ensaio

Corpo 2.0

Fotógrafa holandesa faz ensaio imaginando como a tecnologia pode vir a mudar as formas do corpo humano. "Por que o corpo não se molda às nossas necessidades?", questiona

DANIELA ARRAIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Tivesse o corpo humano a capacidade de se adaptar à tecnologia, veríamos pessoas deformadas caminhando de um lado para o outro. Pelo menos, na visão da fotógrafa holandesa Marcia Nolte, 26, autora de "Corpus 2.0", série de sete retratos que mostram como o corpo humano poderia se ajustar ao design de produtos que usamos no dia-a-dia.
Para quem passa o dia falando ao telefone, nada mais apropriado do que um ombro maior e mais proeminente. Para quem não tira o fone dos ouvidos, uma orelha que acomode o padrão universal de fones.
Confira a entrevista concedida à Folha por e-mail.

 

FOLHA - Como surgiu a série?
MARCIA NOLTE
- Em um dos meus projetos, trabalhei com massa de fazer pão. Eu estava sovando a massa enquanto amarrava cordas ao redor dela. Eu tentava dar uma forma, mas o material sempre encontrava uma maneira de fugir, dando novas e interessantes formas. Também estava interessada na teoria da evolução. Ela é sobre sobrevivência, mas agora você vê que as necessidades individuais são mais importantes. Quando olhei ao meu redor, percebi um grande desenvolvimento em tecnologia, fenômenos da moda, maneiras de viver que estão influenciando bastante essas necessidades do indivíduo. Os objetos relacionados a essas necessidades são sempre desenhados para o ser humano. Nesse ponto, perguntei a mim mesma: "Por que o corpo não se molda às nossas necessidades?". O bom design dos objetos, portanto, poderia permanecer do jeito que é.

FOLHA - Fale sobre as fotos.
NOLTE
- "Shoulderholder" é sobre o desenvolvimento da tecnologia sem fio. Por conta dela, é possível fazer mais coisas ao mesmo tempo, como telefonar e dirigir. O crescimento do "ombro segurador" vai tornar mais fácil segurar o telefone. Em "Touch-it Thumb", o garoto usa mensagens de texto como sua principal fonte de comunicação. Agora, ele tem mais flexibilidade e velocidade.

FOLHA - A edição das fotos foi digital ou analógica?
NOLTE
- Onde foi possível, fiz formas de silicone e as coloquei no corpo. Então tirei as fotos e retoquei digitalmente.

FOLHA - A tecnologia pode mudar nossas vidas não apenas social, mas também fisicamente. Em 20, 50 anos, o que deverá acontecer?
NOLTE
- Se as pessoas vão ter formas como essas, podemos pensar em um novo design. Alguém com um "ombro segurador" precisará de novas roupas -uma nova moda pode existir. Corpos deformadas já não são mais considerados feios, mas uma coisa completamente aceita e com um tipo especial de beleza. Uma nova linha de cirurgia plástica pode surgir.
Vamos nos comportar diferentemente, como crianças que não tocam a campainha com o dedo indicador, mas com o ombro, o que já acontece. Essa provavelmente vai ser a maior mudança. A mudança na forma nunca vai ganhar da velocidade da tecnologia, portanto a evolução vai ficar mais lenta. Eu apenas segui essa evolução um pouco e maximizei as direções potenciais para prevenir as pessoas: "E se?". Para olhar de um novo ponto de vista o design e deixar você pensando sobre a influência dele no mundo.


Texto Anterior: Metabuscador: Mecanismo pesquisa sites simultaneamente
Próximo Texto: Erros com o Photoshop produzem aberrações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.