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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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MÚSICA AOS PEDAÇOS

Grupos experimentalistas rejeitam o conceito de propriedade intelectual

Som na rede é aberto a invenções

ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A troca de arquivos musicais pela internet foi a primeira grande explosão do som pela rede. Mas outras se seguem, usando a mesma filosofia de dividir, compartilhar e somar. Agora, a própria criação é bafejada pelo espírito internético, e surgem grupos que produzem músicas a partir de retalhos transmitidos pela rede.
Eles rejeitam a filosofia da propriedade intelectual, do copyright, a que opõem o "copyleft" e o uso de programas de código aberto. A música não é de ninguém e é de todos: trocando pedaços das canções, eles remixam, adicionam gravações e trocam andamentos. Um exemplo é o coletivo Re:Combo, que começou em 2001 como "um grupo de música eletrônica que tinha como ponto em comum o apreço pela tecnologia e a falta de tempo", diz o pernambucano H.D. Mabuse.
Foi ele quem, ao lado do DJ Tarzan, desenvolveu o conceito original. "Para combater essa falta de tempo, escolhemos como modus operandi a composição remota, com troca de arquivos de computador entre seções de gravação em casas diferentes, basicamente a casa de DJ Tarzan e a minha."
Usando os programas Acid e Fruity Loops, eles trocavam trechos musicais no formato WAV. Depois de fechadas, as músicas eram gravadas em MP3 e OGG (o formato MP3 em sua versão de código aberto, open source).
"Como decorrência natural do projeto, e para evitar a troca dos arquivos em CD-R, criamos um site, onde as musicas eram oferecidas para download, em formatos abertos, dentro do espirito da licença GPL (Licença Pública Genérica) do GNU", conclui.
O grupo reúne DJs, professores de história, artistas plásticos, advogados, jornalistas, animadores, programadores e músicos de todos os cantos do Brasil. Há pólos na Bahia, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, em São Paulo, no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. "Os participantes têm um interesse em comum", explica o coletivo no site, que é "a produção de obras livres das amarras da propriedade intelectual."
Trabalhando com músicas inacabadas e pedaços soltos de gravações individuais, o processo de criação é mais importante que o fim em si. Não existem "músicas prontas", uma vez que elas estão sempre abertas a novas intervenções. "As versões acabam, mas a música nunca acaba", diz o produtor.


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