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MÚSICA AOS PEDAÇOS
Grupos experimentalistas rejeitam o conceito de propriedade intelectual
Som na rede é aberto a invenções
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A troca de arquivos musicais
pela internet foi a primeira grande
explosão do som pela rede. Mas
outras se seguem, usando a mesma filosofia de dividir, compartilhar e somar. Agora, a própria
criação é bafejada pelo espírito internético, e surgem grupos que
produzem músicas a partir de retalhos transmitidos pela rede.
Eles rejeitam a filosofia da propriedade intelectual, do copyright, a que opõem o "copyleft" e
o uso de programas de código
aberto. A música não é de ninguém e é de todos: trocando pedaços das canções, eles remixam,
adicionam gravações e trocam
andamentos. Um exemplo é o coletivo Re:Combo, que começou
em 2001 como "um grupo de música eletrônica que tinha como
ponto em comum o apreço pela
tecnologia e a falta de tempo", diz
o pernambucano H.D. Mabuse.
Foi ele quem, ao lado do DJ Tarzan, desenvolveu o conceito original. "Para combater essa falta de
tempo, escolhemos como modus
operandi a composição remota,
com troca de arquivos de computador entre seções de gravação em
casas diferentes, basicamente a
casa de DJ Tarzan e a minha."
Usando os programas Acid e
Fruity Loops, eles trocavam trechos musicais no formato WAV.
Depois de fechadas, as músicas
eram gravadas em MP3 e OGG (o
formato MP3 em sua versão de
código aberto, open source).
"Como decorrência natural do
projeto, e para evitar a troca dos
arquivos em CD-R, criamos um
site, onde as musicas eram oferecidas para download, em formatos abertos, dentro do espirito da
licença GPL (Licença Pública Genérica) do GNU", conclui.
O grupo reúne DJs, professores
de história, artistas plásticos, advogados, jornalistas, animadores,
programadores e músicos de todos os cantos do Brasil. Há pólos
na Bahia, no Rio Grande do Sul,
no Rio de Janeiro, em São Paulo,
no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. "Os participantes têm
um interesse em comum", explica
o coletivo no site, que é "a produção de obras livres das amarras da
propriedade intelectual."
Trabalhando com músicas inacabadas e pedaços soltos de gravações individuais, o processo de
criação é mais importante que o
fim em si. Não existem "músicas
prontas", uma vez que elas estão
sempre abertas a novas intervenções. "As versões acabam, mas a
música nunca acaba", diz o produtor.
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