São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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comportamento

Internet deu fôlego a lendas urbanas, diz pesquisador

BALELA Histórias como a da pessoa que acordou sem seus rins, contada desde o século 19, são adaptadas com o tempo

CÍNTIA ACAYABA
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA

A mensagem chega em tom de alarde. É "urgente" ou "confidencial". Desodorante provoca câncer de mama. Jovem se envolve com homens para espalhar o vírus da Aids. Mulher de branco faz suas vítimas nos estacionamentos dos shoppings da cidade.
As mensagens recebidas na caixa de e-mail levaram um pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) a dedicar seu doutorado ao estudo de lendas urbanas que, na internet, ganharam fôlego, velocidade e nova roupagem.
Durante dois anos, Carlos Renato Lopes, formado em letras, recolheu e analisou mais de 12 mil mensagens espalhadas pela internet -boa parte delas pesquisada em um site sobre o tema (www.snopes.com)- para seu estudo.
Concluiu que se tratam de histórias sem autoria definida e que envolvem, sempre, elementos do cotidiano das pessoas.
"Sempre tem algo inusitado, quase absurdo, mas que soa como provável, como se tivesse acontecido. Por isso as pessoas ficam intrigadas e, na dúvida, espalham e transmitem as mensagens instantaneamente, o que faz com que alguns boatos se espalhem rapidamente. É como se a internet tivesse dado um novo fôlego às lendas urbanas, tradicionalmente passadas de forma oral ", afirma.
Um exemplo, diz Lopes, é a do sujeito que bebeu além da conta e acordou dopado, dentro de uma banheira cheia de gelo; teve os rins e fígado retirados por traficantes. Segundo ele, a história é contada desde pelo menos o final do século 19.
Para o pesquisador, a internet assegura aos autores das lendas, narradas quase sempre em terceira pessoa, um anonimato que lhe permite "moldar" a história à sua maneira.
Segundo ele, as histórias são adaptadas a diversas cidades, e versões distintas que podem ser lidas em diferentes cenários, seja em Nova York, Paris ou São Paulo. O que as une são os assuntos do momento -medo de doenças, ataques, escândalos.
"O autor da mensagem coloca elementos de sua região, de seu tempo, para fazer com que a história ganhe tons reais."
Durante a pesquisa, Lopes identificou os tipos mais comuns de pessoas que discutem lendas urbanas em comunidades da internet: há quem tente ajudar pessoas que pedem socorro nas mensagens (usadas para aplicar golpes), há quem acredite piamente e também quem se mostre cético e se mobilize para desmentir as histórias.
O sucesso das lendas, porém, está nos temas das histórias, que delineiam contrastes entre segurança e violência, risco e conforto. "Tudo o que abala o cotidiano tem mais impacto."


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