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comportamento
Internet deu fôlego a lendas urbanas, diz pesquisador
BALELA Histórias como a da pessoa que acordou sem seus rins, contada desde o século 19, são adaptadas com o tempo
CÍNTIA ACAYABA
MATHEUS PICHONELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
A mensagem chega em tom
de alarde. É "urgente" ou "confidencial". Desodorante provoca câncer de mama. Jovem se
envolve com homens para espalhar o vírus da Aids. Mulher
de branco faz suas vítimas nos
estacionamentos dos shoppings da cidade.
As mensagens recebidas na
caixa de e-mail levaram um
pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) a dedicar
seu doutorado ao estudo de
lendas urbanas que, na internet, ganharam fôlego, velocidade e nova roupagem.
Durante dois anos, Carlos
Renato Lopes, formado em letras, recolheu e analisou mais
de 12 mil mensagens espalhadas pela internet -boa parte
delas pesquisada em um site
sobre o tema (www.snopes.com)- para seu estudo.
Concluiu que se tratam de
histórias sem autoria definida e
que envolvem, sempre, elementos do cotidiano das pessoas.
"Sempre tem algo inusitado,
quase absurdo, mas que soa como provável, como se tivesse
acontecido. Por isso as pessoas
ficam intrigadas e, na dúvida,
espalham e transmitem as
mensagens instantaneamente,
o que faz com que alguns boatos se espalhem rapidamente.
É como se a internet tivesse dado um novo fôlego às lendas urbanas, tradicionalmente passadas de forma oral ", afirma.
Um exemplo, diz Lopes, é a
do sujeito que bebeu além da
conta e acordou dopado, dentro de uma banheira cheia de
gelo; teve os rins e fígado retirados por traficantes. Segundo
ele, a história é contada desde
pelo menos o final do século 19.
Para o pesquisador, a internet assegura aos autores das
lendas, narradas quase sempre
em terceira pessoa, um anonimato que lhe permite "moldar"
a história à sua maneira.
Segundo ele, as histórias são
adaptadas a diversas cidades, e
versões distintas que podem
ser lidas em diferentes cenários, seja em Nova York, Paris
ou São Paulo. O que as une são
os assuntos do momento -medo de doenças, ataques, escândalos.
"O autor da mensagem coloca elementos de sua região, de
seu tempo, para fazer com que
a história ganhe tons reais."
Durante a pesquisa, Lopes
identificou os tipos mais comuns de pessoas que discutem
lendas urbanas em comunidades da internet: há quem tente
ajudar pessoas que pedem socorro nas mensagens (usadas
para aplicar golpes), há quem
acredite piamente e também
quem se mostre cético e se mobilize para desmentir as histórias.
O sucesso das lendas, porém,
está nos temas das histórias,
que delineiam contrastes entre
segurança e violência, risco e
conforto. "Tudo o que abala o
cotidiano tem mais impacto."
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