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Câmera ligada à rede salvou vida de família durante assalto
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora Verônica Patricia
Eguia Pereira Soares, 25, diretora
de uma escola de ensino médio
em Araçatuba (530 km a noroeste
de São Paulo), foi salva pela internet. Mais precisamente por uma
webcam que ela acabara de instalar em seu computador com o auxílio de um sobrinho.
Planejava na noite de quinta-feira, dia 10, fazer uma surpresa a
um amigo de Montevidéu, que
conhecera pela rede. Até então a
comunicação entre os dois limitava-se ao e-mail e aos programas
de mensagens rápidas.
Verônica Soares havia perdido a
hora para o ciberencontro com
seu amigo. Marcaram para as 21h
daquela noite, mas, por desencontros e falhas na instalação do
programa, ela deixou para falar
com Mauricio (não quis revelar
seu sobrenome) mais tarde.
"A webcam de nossa casa somente tinha sido usada para tirar
fotos de meus dois filhos e colocá-las na internet", disse a professora
à Folha, em entrevista por telefone. "Não fazia a menor idéia de
como se usava para fazer videoconferência."
Dez minutos depois das 23h,
Verônica Soares entrou na rede,
encontrou Mauricio e anunciou a
surpresa. "Você vai poder conhecer meus pais, que estão chegando da escola neste momento." Enquanto Mauricio aguardava no
Uruguai, ela e o sobrinho escutaram o ruído do carro dos pais se
aproximando de casa.
Assim que a mãe abriu a garagem, a professora assustou-se.
"Minha mãe começou a gritar.
Pensei que ela havia escorregado
na entrada e corri para a porta de
casa." Dois ladrões armados e encapuzados haviam rendido seus
pais e invadido a casa.
Ao chegar ao cômodo onde se
encontrava o microcomputador,
os assaltantes viram uma tela preta. Podem ter pensado que o equipamento estava desligado.
Na verdade, o protetor de tela
(screen saver) havia entrado em
ação e apagado a luz do monitor
(esse recurso pode ser habilitado
no Windows e permite que, depois de alguns minutos em desuso, a tela seja apagada; para acioná-la novamente, basta encostar
em qualquer tecla ou no mouse).
Por cerca de 40 minutos, Mauricio assistiu a tudo a mais de 2.000
quilômetros de distância. Aflito,
ele tentou ligar para a Polícia Federal no Brasil, mas não foi bem-sucedido. Apelou para em São
Paulo, que conseguiu acionar a
Polícia Militar de Araçatuba. Em
dez minutos, mais de 15 carros
chegaram ao local com 60 policiais da PM para uma negociação,
que durou mais de uma hora e
meia até a rendição dos ladrões.
Verônica Soares e sua família
são do Uruguai e estão há mais de
20 anos em Araçatuba. Nunca haviam ouvido falar de assaltos à
mão armada na cidade. Para todos os seus familiares, "foi uma
surpresa a internet ter servido de
ferramenta para acabar com um
assalto".
"Na hora não imaginei que
Mauricio estivesse assistindo a tudo. A tela estava preta e, como tinha de manter a calma naquela situação, não pensei em nada, só
torci para que meus filhos não
acordassem durante aquele pesadelo, que durou horas."
Verônica Soares acredita que a
internet tenha salvado sua vida e
que seu amigo Mauricio tenha sido seu anjo da guarda. Na opinião
da professora, "o que está escrito
vai acontecer, pois está escrito".
Ela está lendo o livro "Maktub"
(ed. Rocco), do escritor Paulo
Coelho. "Maktub" é um verbete
em árabe. Em tradução livre, significa "o destino quis assim" ou
"assim estava escrito".
Até o dia do assalto, "durante a
semana, raramente eu entrava na
rede à noite; somente aos sábados
e domingos é que eu me conectava. Foi uma casualidade", disse.
De dia, ela usa a rede para abrir sites de educação.
(MZ)
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