São Paulo, quarta-feira, 23 de julho de 2008

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ecologia

Câmeras e software monitoram espécies

PRESERVAÇÃO HIGH-TECH >> Projeto de reconhecimento de pingüins usa tecnologia para estudar animais de ilha africana

LISSA HARRIS
DA "TECHNOLOGY REVIEW"

Cientistas, para estudarem uma colônia de pingüins raros em uma ilha da África do Sul, estão utilizando um complexo software reconhecedor de figuras geométricas que identifica e rastreia animais individualmente -um método que acreditam ser capaz de transformar os trabalhos na área de conservação.
O software, desenvolvido originalmente para reconhecer rostos humanos, tem evoluído rapidamente nos últimos anos.
O Projeto de Reconhecimento de Pingüins, conduzido pela Universidade de Bristol, da Inglaterra, é o primeiro, em grande escala, a aplicar essa tecnologia para catalogar e monitorar uma população inteira de animais em seu habitat natural.
A ilha de Robben abriga aproximadamente 20 mil pingüins africanos, uma espécie ameaçada de extinção que sofreu uma redução populacional de 90% no último século. Os cientistas de Bristol instalaram diversas câmeras ao longo das rotas mais usadas pelos pingüins.
O software captura os diferentes padrões de penas brancas e pretas, o que equivale às impressões digitais das aves, e usa esses padrões para identificar cada animal. Com o constante rastreamento, os cientistas poderão descobrir mais sobre quanto tempo os pingüins vivem, com que freqüência estão se reproduzindo e em que épocas do ano se mostram mais vulneráveis.
"Há muitas pessoas trabalhando com visão computacional a fim de tentar identificar objetos em imagens", disse o físico Peter Barham, um dos pesquisadores do projeto. Segundo ele, o método pode ser usado no monitoramento de qualquer espécie que apresente padrões visuais únicos. Muitos animais, desde baleias jubarte até girafas, possuem distintos padrões individuais de coloração.
As técnicas convencionais para monitoramento de populações animais costumam ser caras e complicadas, além de causarem estresse nos indivíduos pesquisados. A maioria desses estudos depende da captura e da marcação dos animais, ou do acompanhamento para que cada indivíduo seja fotografado e catalogado manualmente em um banco de dados.
Esse projeto, sem esbarrar nessas dificuldades, faz o mesmo e obtém dados melhores. "Nós podemos descobrir as taxas mensais de sobrevivência dos pingüins. Não anuais -mensais", disse Barham. "Pode-se obter uma quantidade assustadora de informações."
Com o uso de uma extensa coleção de fotografias de pingüins, Tilo Burghardt, cientista computacional da Universidade de Bristol, ensinou o software a identificar um objeto com forma de pingüim a partir do desenho do tórax e da listra presente ali, uma faixa preta de formato característico.
Os pingüins são reconhecidos por seu padrão exclusivo de marcas no tórax, cada uma das quais é descrita no sistema por meio da sua distância em relação a todas as outras.
Os componentes são bem econômicos: câmeras de segurança comuns conectadas a laptops que se comunicam por meio de uma rede sem fio. Com uma fonte de energia e uma conexão para transmitir os dados a um servidor, pode-se operar o sistema em campo com pouca interferência humana.

Ciência e engenharia
Sophie Grange, da Universidade Wits, na África do Sul, que pesquisa a biologia das zebras, está otimista com a tecnologia e, atualmente, trabalha com Burghardt e sua equipe no desenvolvimento de um sistema semelhante para empregá-lo na sua área de pesquisa.
Burghardt acredita que as pesquisas biológicas na área de preservação estão prontas para as inovações tecnológicas. "Demoramos muito para perceber que a mesma tecnologia é capaz de solucionar problemas aparentemente muito diferentes", salientou. "Abrimos um novo campo de cooperação entre a ciência e a engenharia."


Tradução de FABIANO FLEURY DE SOUZA CAMPOS

PROGRAMA UTILIZA ALGORITMO INTELIGENTE
Ao aumentar o seu banco de dados, o software se torna cada vez mais eficiente. "O padrão de um animal pode ser codificado de modo mais eficaz do que o de um rosto humano", explica Tilo Burghardt, um dos cientistas do projeto.


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