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DIÁLOGO COM NEGROPONTE
Sobre clonagem de mentes e apelidos reveladores em chat
Pergunta - Será que em algum
dia poderemos produzir clones
eletrônicos de nós mesmos?
Existe um sistema nervoso digital?
soareslazer@yahoo.com
Resposta - Não tenho dúvida
de que as gerações futuras vão encontrar maneiras de clonar mentes humanas e produzir fac símiles de inteligência. Talvez até consigam fazer com que as cópias sejam cumulativas, para que uma
mente clonada possa aprender
com outra. Mas não acredito que
isso vá acontecer logo -portanto
não fique na expectativa.
Já a expressão "sistema nervoso
digital", pelo contrário, diz respeito a algo que está bem mais
perto de nós. O termo foi cunhado
por Bill Gates para designar a
"batida cardíaca" de uma empresa plugada na Internet. No sentido superficial, significa operar
sem papel. Em um sentido mais
profundo, diz respeito a um metabolismo corporativo que é on line, global e se conserva sempre
plugado.
Pergunta - Você não acha que
a evolução de uma "meganet internacional" assinala o começo
do fim dos Estados nacionais? Se
uma organização de Nova York
pode vender um serviço que será
feito por pessoas na América do
Sul e será pago, com cartão de
crédito, a uma conta corrente
em Andorra, como os governos
nacionais vão poder regulamentar tudo isso?
elderbra@uol.com.br (Brasil)
Resposta - Os governos nacionais não podem regulamentar tudo isso. A economia digital será
bem mais parecida com uma economia clandestina, baseada no
dinheiro vivo, do que com uma
economia regulamentada. O papel dos governos nacionais vai
mudar. Na realidade, será reduzido. Hoje uma cidade-estado como Andorra, por exemplo, constitui uma anomalia, mas talvez represente um modelo melhor do
futuro do que os países grandes
que temos hoje.
Acredito que dentro de 20 anos
seremos governados muito mais
do que hoje em nível local e, ao
mesmo tempo, quem sabe, os assuntos que dizem respeito ao
mundo todo serão muito mais
bem dirigidos em nível global.
Hoje existem cerca de 220 países
no mundo ou um pouco mais. Até
2020, acredito que talvez tenhamos mais de mil.
Pergunta - Qual é o futuro dos
sistemas de mainframe (computador de grande porte)? As empresas já interromperam por
completo o desenvolvimento
nessa área?
krishna@aexp.com (Índia)
Resposta - Em 1967 tive a oportunidade de usar um IBM 360,
modelo 65, durante uma hora por
dia, sozinho e para minhas próprias finalidades. Eu literalmente
operei esse gigante de ferro sozinho. Ele ocupava cerca de 400
metros quadrados e usava toneladas de ar-condicionado. Para
aquele momento e sob aquelas
condições, por mais incomuns
que pudessem ter sido, aquele
mainframe foi meu computador
pessoal de fato, exatamente como
é meu laptop hoje.
Dou esse exemplo para mostrar
que um mainframe é mais uma
metáfora sobre o uso que você faz
dele do que um tipo específico de
máquina. No jargão da informática, mainframe acabou virando
sinônimo de coisa antiquada, e
seus usuários são vistos como desatualizados. Na verdade, porém,
as máquinas grandes vivem em
todas as partes da Internet e estão
mais presentes do que nunca.
Embora o mainframe possa
não ser uma configuração clássica de computador, ele representa
"salas cheias" de discos, roteadores e PCs. Essas instalações muitas vezes guardam uma semelhança surpreendente com as salas de computadores mainframe,
com suas paredes de vidro e seu
ar-condicionado, como a máquina que usei mais de 30 anos atrás.
Pergunta - É possível descobrir
quem são as pessoas que se escondem por trás dos apelidos
que usam nas salas de bate-papo, estudando a forma e o conteúdo de suas mensagens?
jbillas@aol.com
Resposta - É verdade que a forma e o conteúdo de nossas mensagens carregam uma assinatura,
mas ela é facilmente falsificável, e
é difícil usá-la para identificar as
pessoas. A polícia analisou detalhadamente as mensagens enviadas pelo Unabomber, na esperança de identificar padrões que pudessem ser comparados a redações escolares e cartas pessoais
(mas, em vez disso, o Unabomber
acabou sendo delatado por uma
pessoa de sua família). Não imagino que essa técnica possa ajudar muito a apontar a identidade
real das pessoas que se escondem
por trás dos apelidos usados nas
salas de bate-papo.
Nicholas Negroponte é autor de "Vida Digital" e diretor do Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology.
Tradução de Clara Allain.
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