São Paulo, Quarta-feira, 24 de Novembro de 1999


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIÁLOGO COM NEGROPONTE

Sobre clonagem de mentes e apelidos reveladores em chat

Pergunta - Será que em algum dia poderemos produzir clones eletrônicos de nós mesmos? Existe um sistema nervoso digital? soareslazer@yahoo.com
Resposta
- Não tenho dúvida de que as gerações futuras vão encontrar maneiras de clonar mentes humanas e produzir fac símiles de inteligência. Talvez até consigam fazer com que as cópias sejam cumulativas, para que uma mente clonada possa aprender com outra. Mas não acredito que isso vá acontecer logo -portanto não fique na expectativa.
Já a expressão "sistema nervoso digital", pelo contrário, diz respeito a algo que está bem mais perto de nós. O termo foi cunhado por Bill Gates para designar a "batida cardíaca" de uma empresa plugada na Internet. No sentido superficial, significa operar sem papel. Em um sentido mais profundo, diz respeito a um metabolismo corporativo que é on line, global e se conserva sempre plugado.

Pergunta - Você não acha que a evolução de uma "meganet internacional" assinala o começo do fim dos Estados nacionais? Se uma organização de Nova York pode vender um serviço que será feito por pessoas na América do Sul e será pago, com cartão de crédito, a uma conta corrente em Andorra, como os governos nacionais vão poder regulamentar tudo isso?
elderbra@uol.com.br (Brasil)
Resposta
- Os governos nacionais não podem regulamentar tudo isso. A economia digital será bem mais parecida com uma economia clandestina, baseada no dinheiro vivo, do que com uma economia regulamentada. O papel dos governos nacionais vai mudar. Na realidade, será reduzido. Hoje uma cidade-estado como Andorra, por exemplo, constitui uma anomalia, mas talvez represente um modelo melhor do futuro do que os países grandes que temos hoje.
Acredito que dentro de 20 anos seremos governados muito mais do que hoje em nível local e, ao mesmo tempo, quem sabe, os assuntos que dizem respeito ao mundo todo serão muito mais bem dirigidos em nível global.
Hoje existem cerca de 220 países no mundo ou um pouco mais. Até 2020, acredito que talvez tenhamos mais de mil.

Pergunta - Qual é o futuro dos sistemas de mainframe (computador de grande porte)? As empresas já interromperam por completo o desenvolvimento nessa área?
krishna@aexp.com (Índia)
Resposta
- Em 1967 tive a oportunidade de usar um IBM 360, modelo 65, durante uma hora por dia, sozinho e para minhas próprias finalidades. Eu literalmente operei esse gigante de ferro sozinho. Ele ocupava cerca de 400 metros quadrados e usava toneladas de ar-condicionado. Para aquele momento e sob aquelas condições, por mais incomuns que pudessem ter sido, aquele mainframe foi meu computador pessoal de fato, exatamente como é meu laptop hoje.
Dou esse exemplo para mostrar que um mainframe é mais uma metáfora sobre o uso que você faz dele do que um tipo específico de máquina. No jargão da informática, mainframe acabou virando sinônimo de coisa antiquada, e seus usuários são vistos como desatualizados. Na verdade, porém, as máquinas grandes vivem em todas as partes da Internet e estão mais presentes do que nunca.
Embora o mainframe possa não ser uma configuração clássica de computador, ele representa "salas cheias" de discos, roteadores e PCs. Essas instalações muitas vezes guardam uma semelhança surpreendente com as salas de computadores mainframe, com suas paredes de vidro e seu ar-condicionado, como a máquina que usei mais de 30 anos atrás.

Pergunta - É possível descobrir quem são as pessoas que se escondem por trás dos apelidos que usam nas salas de bate-papo, estudando a forma e o conteúdo de suas mensagens?
jbillas@aol.com
Resposta
- É verdade que a forma e o conteúdo de nossas mensagens carregam uma assinatura, mas ela é facilmente falsificável, e é difícil usá-la para identificar as pessoas. A polícia analisou detalhadamente as mensagens enviadas pelo Unabomber, na esperança de identificar padrões que pudessem ser comparados a redações escolares e cartas pessoais (mas, em vez disso, o Unabomber acabou sendo delatado por uma pessoa de sua família). Não imagino que essa técnica possa ajudar muito a apontar a identidade real das pessoas que se escondem por trás dos apelidos usados nas salas de bate-papo.


Nicholas Negroponte é autor de "Vida Digital" e diretor do Laboratório de Mídia do Massachusetts Institute of Technology.

Tradução de Clara Allain.


Texto Anterior: Pioneiro se "veste" com micro há 7 anos
Próximo Texto: Segurança: "Melissa" deve atacar no Natal
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.