|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
HISTÓRIA
Nascida na universidade, rede brasileira ganha as ruas
MARIANA BARROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A internet é global, mas desde
que chegou por aqui foi marcada
pelo chamado "jeitinho brasileiro". A rede, que já teve caráter militar, na década de 60, e acadêmico, nas décadas de 70 e de 80, conquistou o mundo na década de 90,
quando surgiu a internet comercial. Os brasileiros logo aproveitaram a novidade, que este mês comemora uma década.
"A internet brasileira é rica em
conteúdo nacional", diz Demi
Getschko, consultor do Comitê
Gestor da Internet no Brasil
(www.cg.org.br). "Tivemos participação imediata dos órgãos de
mídia, como provedores e fornecedores de conteúdo, o que levou
ao crescimento do conteúdo em
português e à popularização do
registro .br", explica Getschko.
As primeiras redes brasileiras se
desenvolveram no meio acadêmico, mas não havia um protocolo
que as unificasse, como veio a
acontecer com a chegada do
TCP/IP -conjunto de regras que
permitiu a comunicação global.
"Era preciso realizar truques para
mandar e-mails. A feitiçaria era
parte do negócio", lembra Alexandre Grojsgold, diretor de operações da Rede Nacional de Pesquisas (RNP, www.rnp.br).
Foi o Instituto Brasileiro de
Análises Sócio-Econômicas (Ibase, www.ibase.org.br) que abriu a
rede ao cidadão comum. Em
1989, foi criada a Alternex, com
correio eletrônico e grupos de discussão. "Duas ligações diárias de
DDI transmitiam a informação
compactada", diz Carlos Afonso,
responsável pela iniciativa.
A rede foi mais bem organizada
em 1992, por conta da ECO-92, no
Rio de Janeiro. Universidades e
organizações montaram uma estrutura capaz de informar ao
mundo o que ocorria no evento.
Em 1995, surgiu a internet comercial. "No Brasil os pequenos
provedores eram sufocados pela
Embratel, que, apesar de não ter
dado importância para a rede nos
primeiros anos, tinha agora pretensões de monopolizar o serviço", conta Antonio Tavares, presidente da Associação Brasileira
dos Provedores de Acesso (Abranet, www.abranet.org).
Foi a portaria 004/95 do Ministério das Comunicações que permitiu a competição. Empresas de
telefonia ficaram proibidas de
fornecer o serviço ao usuário final, podendo fazê-lo apenas aos
provedores. Foi criado também o
Comitê Gestor da Internet no
Brasil, que gerencia o registro .br.
Estima-se que em 1995 já houvesse 20 provedores e 120 mil
usuários. "Logo, a internet foi capa das revistas "Time", "Veja" e "IstoÉ", tema de novela, de música
do Gilberto Gil, enfim, uma esculhambação", brinca Alexandre
Grojsgold, da RNP.
Universidades como a USP tornaram-se referência. "Éramos a
maior central de profissionais da
web, todos com 19 anos", conta o
professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP (www.lsi.usp.br), Marcelo Zuffo. O computador de Zuffo se tornou, de
improviso, o primeiro servidor da
USP, em 1993. Apelidado de Jaguar, tinha oito processadores de
40 MHz. "Funciona até hoje", garante o professor, que ainda nos
anos 80 foi chamado pela reitoria
para explicar uma conta telefônica no valor de US$ 10 mil -gasta
em discagens para conexão.
Outro pioneiro foi o jornalista
Sérgio Charlab, responsável por
uma das primeiras versões on-line de um jornal brasileiro, o "Jornal do Brasil" (www.jb.com.br).
"A diretoria me achava um professor Pardal", diz, referindo-se
ao personagem inventor. Ele escaneava reportagens publicadas,
colocava-as na internet e mostrava aos autores. "Quando o site oficial estreou, o meu já estava no ar
há seis meses", conta Charlab.
"Meu lema era como o slogan da
Nike: "Just do it" (em versão livre,
"simplesmente aja')", diz.
Apesar do início quixotesco, a
internet brasileira cresceu e conquistou o público -no final do
ano passado, 31,9 milhões de brasileiros tinham acesso à rede, segundo o Ibope/NetRatings.
"Houve investimentos e captação
de profissionais de várias áreas",
diz Alexandre Barreto, diretor do
iBest, que premia anualmente os
melhores sites nacionais.
Texto Anterior: Hugo
Próximo Texto: Frase Índice
|