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ESTHER DYSON
Bem-vindos à coluna Release 3.0
Bem-vindo à Release 3.0! Quero
aproveitar esta oportunidade para me apresentar e lhe dar uma
idéia do que você pode esperar ver
aqui e o que estou tentando realizar.
Em primeiro lugar vou explicar
o nome estranho. Quase 20 anos
atrás comecei a escrever um boletim informativo mensal chamado
"Release 1.0", assim chamado em
função do conceito que existe na
indústria da informática da versão 1.0 -ou seja, a primeira versão completa de um produto,
pronta para ir às lojas.
Os criadores do projeto podem
ter passado meses ou anos trabalhando para chegar a esse ponto,
possivelmente passando pelas versões 0.1 -o simples conceito-,
0.5 -meio caminho andado-,
0.8 -que acaba revelando também não passar de meio caminho
andado-, 0.9 -chegando perto,
muito perto... Então sai a versão
0.91 e, finalmente, a versão 1.0.
Versão perfeita
O mundo todo espera que a 1.0
seja perfeita, mas acabam aparecendo alguns probleminhas, e
pouco depois já é lançada a versão 1.1. Se tudo correr bem, o produto sobreviverá até ser reescrito
por completo, sendo relançado como versão ou release 2.0.
"Release 1.0" me pareceu um
ótimo título para um boletim informativo, dando a idéia de que
cada edição seria nova, sempre almejando a perfeição, mas nunca
alcançando-a por completo. Também seria um bom nome para
uma coluna -mas já há outra
coluna com esse nome. O boletim
informativo continua firme, escrito por meu parceiro Kevin Werbach e editado por mim.
Quando chegou a hora de eu escrever um livro, resolvi intitulá-lo
"Release 2.0" para alcançar uma
platéia maior do que a dos entendidos em informática, que já
eram leitores do "Release 1.0". Era
um produto diferente, que dedicava mais atenção às implicações
sociais e políticas da tecnologia do
que o boletim.
E agora, a coluna Release 3.0:
mais uma tentativa de explicar o
impacto da tecnologia sobre nosso
cotidiano social e político, mas de
maneira mais imediata e direta
do que é possível fazer num livro.
Quero que esta coluna seja repleta de exemplos, um comentário contínuo sobre as coisas maravilhosas, preocupantes, engraçadas e curiosas às quais a tecnologia conduz.
A coluna não lhe dirá que produtos comprar, nem como usar a
tecnologia, mas espero que o faça
refletir sobre ela: analisar suas
próprias escolhas e as consequências políticas, econômicas e educacionais dessas escolhas.
Como passo muito tempo fora
dos Estados Unidos, espero tirar
exemplos dos mais variados países, analisando semelhanças e diferenças em diversas situações
geográficas e culturais.
Para isso, minha idéia é falar de
empresas e pessoas interessantes e
sobre o que estão tentando realizar (quando forem empresas nas
quais tenho investimentos, vou
anunciar o fato).
Em minhas viagens pelo mundo, conheço muitas pessoas interessantes: desde o vice-prefeito de
Barcelona, que criou uma das cidades mais centradas na Internet
no mundo, até um militar aposentado, que visita sua mãe idosa
com uma passagem comprada pela Priceline; desde um empreendedor em série que acaba de lançar sua quarta empresa até um
cientista que se indaga como encontrar a primeira aplicação comercial para uma idéia.
Também sou usuária de tecnologia. Quando viajo pelo mundo,
mantenho contato com meu escritório por e-mail, anotando complicações e custos de se conectar
fora dos EUA, do impacto que isso
tem sobre meu uso do telefone, do
impacto que exerce sobre o sentimento que as pessoas têm de estar
conectadas, do papel da Internet
na vida de ativistas nos Bálcãs e
adolescentes na Polônia.
Será a Internet, na realidade,
uma outra forma de televisão, ou
algo mais significativo do que isso? Será que ela realmente confere
mais liberdade às pessoas? Ou não
passa de uma mídia de marketing
de alta qualidade?
Em um nível pouco menos elevado, quero estudar seu impacto
sobre a economia, nos EUA e no
mundo: será que ela realmente
cria toda uma nova economia?
Acho que não, mas não há dúvida
de que modifica o equilíbrio de
poder entre consumidores e comerciantes.
O que é mais interessante é que
a Internet facilita o caminho dos
indivíduos que querem tornar-se
produtores, como consultores,
free-lancers, trabalhadores ocasionais ou empreendedores. É
provável que seu impacto seja
ainda maior fora da economia relativamente livre dos EUA, em
países onde a determinação dos
preços dos produtos é vista mais
como questão moral ou legal do
que propriamente econômica.
O leste europeu teve a queda do
Muro de Berlim. A Europa ocidental terá a ascensão da Internet, proporcionando escolhas às
pessoas e sublevando instituições
consolidadas. Os deslocamentos
poderão os maiores já vistos.
Também há a questão da tecnologia em si: que coisas novas vamos ser capazes de fazer?
Universo paralelo
Nos últimos 20 ou 30 anos,
criamos um universo paralelo de
informações -sistemas contábeis, bancos de dados, esquemas
de horários de aviões on line.
Com certeza você alguma vez já
esteve em um aeroporto e observou a discrepância entre as informações expostas nos monitores e
as multidões de passageiros que se
aglomeram em função de um vôo
atrasado. Sua bagagem pode já
ter sido examinada por raio X e
etiquetada, mas ainda não está
onde deveria estar.
A conexão entre os mundos real
e virtual ainda é tênue, mas isso
vai mudar nos próximos anos.
Ônibus escolares, geladeiras, sistemas de inventário e coisas afins,
nós vamos saber o que está acontecendo e divulgar informações
confiáveis a respeito.
Esses são apenas alguns exemplos dos assuntos que quero tratar. Permita-me acrescentar apenas mais uma coisa: a essência da
Internet é a comunicação em
duas mãos. Nesse espírito, espero
poder aprender com esta coluna e
com você, leitor. Por favor, sinta-se à vontade para me escrever no
endereço edyson@edventure.com.
Esther Dyson fundou o popular boletim informativo sobre tecnologia "Release 1.0" e é autora do best seller "Release 2.0". Também
é presidente do conselho da Icann (Internet
Corporation for Assigned Names and Numbers). Tradução de Clara Allain.
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