São Paulo, Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2000


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ESTHER DYSON

Bem-vindos à coluna Release 3.0

Bem-vindo à Release 3.0! Quero aproveitar esta oportunidade para me apresentar e lhe dar uma idéia do que você pode esperar ver aqui e o que estou tentando realizar.
Em primeiro lugar vou explicar o nome estranho. Quase 20 anos atrás comecei a escrever um boletim informativo mensal chamado "Release 1.0", assim chamado em função do conceito que existe na indústria da informática da versão 1.0 -ou seja, a primeira versão completa de um produto, pronta para ir às lojas.
Os criadores do projeto podem ter passado meses ou anos trabalhando para chegar a esse ponto, possivelmente passando pelas versões 0.1 -o simples conceito-, 0.5 -meio caminho andado-, 0.8 -que acaba revelando também não passar de meio caminho andado-, 0.9 -chegando perto, muito perto... Então sai a versão 0.91 e, finalmente, a versão 1.0.

Versão perfeita
O mundo todo espera que a 1.0 seja perfeita, mas acabam aparecendo alguns probleminhas, e pouco depois já é lançada a versão 1.1. Se tudo correr bem, o produto sobreviverá até ser reescrito por completo, sendo relançado como versão ou release 2.0.
"Release 1.0" me pareceu um ótimo título para um boletim informativo, dando a idéia de que cada edição seria nova, sempre almejando a perfeição, mas nunca alcançando-a por completo. Também seria um bom nome para uma coluna -mas já há outra coluna com esse nome. O boletim informativo continua firme, escrito por meu parceiro Kevin Werbach e editado por mim.
Quando chegou a hora de eu escrever um livro, resolvi intitulá-lo "Release 2.0" para alcançar uma platéia maior do que a dos entendidos em informática, que já eram leitores do "Release 1.0". Era um produto diferente, que dedicava mais atenção às implicações sociais e políticas da tecnologia do que o boletim.
E agora, a coluna Release 3.0: mais uma tentativa de explicar o impacto da tecnologia sobre nosso cotidiano social e político, mas de maneira mais imediata e direta do que é possível fazer num livro.
Quero que esta coluna seja repleta de exemplos, um comentário contínuo sobre as coisas maravilhosas, preocupantes, engraçadas e curiosas às quais a tecnologia conduz.
A coluna não lhe dirá que produtos comprar, nem como usar a tecnologia, mas espero que o faça refletir sobre ela: analisar suas próprias escolhas e as consequências políticas, econômicas e educacionais dessas escolhas.
Como passo muito tempo fora dos Estados Unidos, espero tirar exemplos dos mais variados países, analisando semelhanças e diferenças em diversas situações geográficas e culturais.
Para isso, minha idéia é falar de empresas e pessoas interessantes e sobre o que estão tentando realizar (quando forem empresas nas quais tenho investimentos, vou anunciar o fato).
Em minhas viagens pelo mundo, conheço muitas pessoas interessantes: desde o vice-prefeito de Barcelona, que criou uma das cidades mais centradas na Internet no mundo, até um militar aposentado, que visita sua mãe idosa com uma passagem comprada pela Priceline; desde um empreendedor em série que acaba de lançar sua quarta empresa até um cientista que se indaga como encontrar a primeira aplicação comercial para uma idéia.
Também sou usuária de tecnologia. Quando viajo pelo mundo, mantenho contato com meu escritório por e-mail, anotando complicações e custos de se conectar fora dos EUA, do impacto que isso tem sobre meu uso do telefone, do impacto que exerce sobre o sentimento que as pessoas têm de estar conectadas, do papel da Internet na vida de ativistas nos Bálcãs e adolescentes na Polônia.
Será a Internet, na realidade, uma outra forma de televisão, ou algo mais significativo do que isso? Será que ela realmente confere mais liberdade às pessoas? Ou não passa de uma mídia de marketing de alta qualidade?
Em um nível pouco menos elevado, quero estudar seu impacto sobre a economia, nos EUA e no mundo: será que ela realmente cria toda uma nova economia? Acho que não, mas não há dúvida de que modifica o equilíbrio de poder entre consumidores e comerciantes.
O que é mais interessante é que a Internet facilita o caminho dos indivíduos que querem tornar-se produtores, como consultores, free-lancers, trabalhadores ocasionais ou empreendedores. É provável que seu impacto seja ainda maior fora da economia relativamente livre dos EUA, em países onde a determinação dos preços dos produtos é vista mais como questão moral ou legal do que propriamente econômica.
O leste europeu teve a queda do Muro de Berlim. A Europa ocidental terá a ascensão da Internet, proporcionando escolhas às pessoas e sublevando instituições consolidadas. Os deslocamentos poderão os maiores já vistos.
Também há a questão da tecnologia em si: que coisas novas vamos ser capazes de fazer?

Universo paralelo
Nos últimos 20 ou 30 anos, criamos um universo paralelo de informações -sistemas contábeis, bancos de dados, esquemas de horários de aviões on line.
Com certeza você alguma vez já esteve em um aeroporto e observou a discrepância entre as informações expostas nos monitores e as multidões de passageiros que se aglomeram em função de um vôo atrasado. Sua bagagem pode já ter sido examinada por raio X e etiquetada, mas ainda não está onde deveria estar.
A conexão entre os mundos real e virtual ainda é tênue, mas isso vai mudar nos próximos anos. Ônibus escolares, geladeiras, sistemas de inventário e coisas afins, nós vamos saber o que está acontecendo e divulgar informações confiáveis a respeito.
Esses são apenas alguns exemplos dos assuntos que quero tratar. Permita-me acrescentar apenas mais uma coisa: a essência da Internet é a comunicação em duas mãos. Nesse espírito, espero poder aprender com esta coluna e com você, leitor. Por favor, sinta-se à vontade para me escrever no endereço edyson@edventure.com.


Esther Dyson fundou o popular boletim informativo sobre tecnologia "Release 1.0" e é autora do best seller "Release 2.0". Também é presidente do conselho da Icann (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers). Tradução de Clara Allain.


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