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primeiras impressões
Corretor deixa de marcar termos errados
PORTUGUÊS Programa falha por não seguir o "Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa'; revisão gramatical é deficiente
THAIS NICOLETI DE CAMARGO
CONSULTORA DE LÍNGUA PORTUGUESA
A euforia em torno do Novo
Acordo Ortográfico e a perspectiva de não precisar aprender as novas regras devem estimular a venda de programas de
correção automática.
Um deles é o recém-lançado
Novo Corretor Aurélio, que
promete ajustar os textos ao
novo padrão ortográfico do
português. Para que isso ocorresse de fato, porém, seria necessário que tivesse sido usada
a base de dados do "Volp" ("Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa"), da ABL (Academia Brasileira de Letras), documento que estabelece a grafia oficial das palavras.
As mudanças que não estavam tão claras no texto oficial,
mas que estão no "Volp", não
foram incorporadas ao Novo
Corretor Aurélio. Assim, expressões como "mão de obra",
"pai de santo" ou "calcanhar de
aquiles" perderam os hifens,
mas o revisor não consegue detectar essa mudança.
O mesmo vale para as palavras iniciadas pelo prefixo
"não" ("não índio"), para os adjetivos compostos ligados por
conjunção ("preto e branco",
"verde e amarelo") e para as palavras iniciadas por quase
("quase contrato"). Há, portanto, um grande de número de
termos cuja grafia atual o programa desconhece.
O programa é eficiente para
acentuar as palavras. O velho
acento de "idéia" é retirado automaticamente, assim como o
de "vôo" e outros. Já os diferenciais nem sempre recebem um
alerta para conferência do texto. Numa frase como "Decidiu
por as ideias no lugar", a forma
"por" não recebeu nenhum sinal de que poderia ser confundida com outra, a correta "pôr".
No teste, o programa não
percebeu a falta de acento em
uma forma como "espera-la".
Termos como "papeis" ou
"fieis" (formas verbais) recebem grifo verde, pois podem estar sendo confundidos com
"papéis" ou "fiéis".
Os termos latinos "deficit",
"superavit" e "quorum" perderam o acento, mas o corretor
não reconhece isso. As grafias
"coerdeiro" (nova) e "co-herdeiro" (antiga) são apontadas
como erradas. O corretor sugere "cordeiro" e outros termos.
A forma "benfeito", que substituiu "bem-feito", é considerada errada. O mesmo vale para
"antifumo", grafia correta. Termos onomatopaicos ganharam
hifens ("ziguezague" agora se
escreve "zigue-zague"), mudança que o corretor não identifica. Reconhece as grafias "subumano" e "sub-humano", mas
não identifica "carbo-hidrato",
uma das grafias possíveis.
O diacronismo "benção"
continua figurando na base de
dados, o que impede a correção
para a forma atual "bênção".
Gramática e estilo
O programa, que promete
corrigir a gramática e até o estilo, aponta erro no plural de "haver" e em uma estrutura como
"nós vai", mas uma construção
como "a gente vamos" tem seu
estilo aprovado. Aponta erro
em alguns acentos indicadores
de crase (à ela, à todos), mas
não resolve casos mais sutis.
As grafias de "porque" e as
diferenças de significado entre
termos parecidos ("infligir as
regras de trânsito", "iminente
senador", "seção de cinema")
escapam do crivo da análise
gramatical do Novo Aurélio.
Diante da grafia incorreta da
forma verbal na construção
"ele intermedia", o programa
faz a correção automática para
"intermédia", quando o esperado seria "ele intermedeia", que
não aparece nem como sugestão. Não consegue perceber a
correta conjugação dos irregulares no subjuntivo (se eu
"transpor" em vez de "transpuser"). Numa frase como "Todos
dias fazia a mesma coisa", não
acusa a falta do artigo ("todos
os dias") e sugere que o verbo
vá para o plural ("faziam").
Defeitos de regência como
preferir uma coisa "do que" outra passam despercebidos. Parece que a língua portuguesa e
suas sutilezas continuam desafiando a tecnologia.
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