São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2008

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mercado

Crise econômica chega ao Vale do Silício

DRAMA - Depois de demitido, engenheiro de testes volta à empresa onde trabalhava e, segundo a polícia, mata três ex-chefes

BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM BERKELEY


Na manhã do dia 14 de novembro, Jing Hua Wu, engenheiro de testes de 47 anos, era mais um trabalhador a perder o emprego em uma empresa em Santa Clara, cidade ao sul de San Francisco onde muitas empresas de tecnologia estão instaladas.
Às três da tarde do mesmo dia, Hua Wu voltou ao ex-local de trabalho e convocou uma reunião com três de seus superiores para discutir o seu futuro. Menos de uma hora depois, ele executou a tiros à queima-roupa, com uma pistola 9 mm, os dois homens e a mulher que participavam da reunião.
Com os sinais de que a crise econômica mundial já afeta as empresas do Vale do Silício, os assassinatos revelam a tensão pela qual a região tem passado nas últimas semanas.
O crime ocorreu no mesmo dia em que a Sun Microsystems, fabricante de computadores que tem como grandes clientes empresas em Wall Street, anunciou que vai eliminar entre 5.000 e 6.000 empregos no próximo ano. Alguns dias antes, duas empresas de chips haviam anunciado demissões que afetarão entre 330 e 1.800 trabalhadores.
Yahoo! e eBay revelaram planos de demissão em massa que devem afetar 10% de seus trabalhadores. Já a HP anunciou, em setembro, que deve demitir 24.600 pessoas em todo o mundo nos próximos três anos.
"As pessoas estão começando a pensar em como vão arcar com as despesas do Natal, como vão pagar as parcelas do financiamento de suas casas ano que vem", diz Lou McKellar, 47, ex-funcionário de uma empresa de semicondutores que está oficialmente desempregado há três meses, após 12 anos de casa. Ele atuava em um segmento que deve sofrer bastante, segundo indicam alguns números.

Números e esperança
No dia 12, a Intel anunciou que suas vendas podem cair 19% no último trimestre do ano. A Applied Material, uma das empresas de chips com planos de demissão em massa, revelou queda de 45% nos lucros no quarto trimestre do ano. A AMD anunciou um plano para demitir 500 funcionários. A Cisco Systems, grande produtora de roteadores, projeta quedas de 10% em suas vendas.
A queda também é esperada nas compras feitas pelo consumidor comum. Dados preliminares de agências de pesquisa de mercado apontam recuo nas vendas de PCs no último trimestre deste ano e no início de 2009. E as vendas do comércio on-line dos EUA também devem ser menores.
Apesar das evidências, as empresas tentam acalmar clientes, trabalhadores e investidores. No último dia 17, Shantanu Narayen, diretor-executivo da Adobe, disse ao jornal "San Francisco Chronicle" que sua empresa está "forte", apesar da recessão.
De fato, até mesmo a SiPort, empresa onde ocorreram os assassinatos, foi rápida em declarar que não tem planos para realizar demissões em massa e que o atirador havia perdido o emprego devido ao seu fraco desempenho no trabalho.


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