São Paulo, quarta-feira, 27 de setembro de 2000

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ANTITUDO
Rede abriga de sites antipersonalidades a páginas contra a globalização; manifestações segregacionistas também aparecem
Sites do contra proliferam pela Internet

ALEXANDRE VERSIGNASSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Ninguém escapa ileso às críticas e protestos em sites da rede mundial. Por seu espírito livre, a Internet tornou-se um espaço aberto para depositar ódios e desafetos contra quem quer que seja.
De megaempresas como Microsoft e Coca-Cola a singelas cantoras como Sandy e Britney Spears, todos podem ser achincalhados.
Em uma busca com o AltaVista, aparecem 615 menções à expressão "Anti Britney Spears". Ela está, porém, longe do grupo Hanson, um dos mais odiados, com 1.362 referências.
A rede antitudo começou a ganhar corpo no Brasil, em 98, com uma página que pregava a morte da personagem Eduarda, da novela global "Por Amor". Apesar de desatualizado, o site está no ar, em www.geocities.com/hollywood/Studio/4698.
Com 250 milhões de internautas, aumentou o número de sites de protesto, atendendo a todos os gostos.
Para a psicóloga Elisa Sayeg, que coordena estudos envolvendo psicanálise e informática, a proliferação dessas páginas é um reflexo de como as pessoas vêem a rede. "Elas têm uma relação lúdica com personagens de outras mídias e colocam isso na Internet."
Mas nem sempre os sites contra algo ou alguém ficam no campo da ilusão. Vários deles são armas para a propagação de ideais.
Há desde os que incitam ódio contra minorias étnicas e sexuais até aqueles criados por grupos que usam a Internet para fortalecer movimentos contrários a governos e instituições financeiras.
É o caso do Inpeg (Iniciativa Contra a Globalização Econômica). Esse grupo organizou o protesto público, previsto para ontem em Praga, capital da República Tcheca, durante uma reunião do FMI com o Banco Mundial.
Para amealhar mais gente para seu ato, o Inpeg lançou mão de alguns recursos da Internet.
A página da organização (http://inpeg.ecn.cz), por exemplo, não se restringia a pregar mensagens antiglobalização. Ela trouxe, além disso, uma série de informações para quem quisesse se dirigir a Praga para o protesto.
Entre elas, estavam dicas de documentação necessárias para que estrangeiros não fossem barrados na fronteira da República Tcheca. Havia também lista de locais para hospedagem em Praga e onde alugar um telefone celular.
"Para nós, a Internet não é , já que procuramos mobilizar pessoas de países pobres, como os da África e da América do Sul, onde a maioria das pessoas não tem acesso a um computador", diz Ted Caim, membro do Inpeg, um dos responsáveis por montar a estrutura de apoio aos manifestantes que se dirigiram a Praga.
"De qualquer maneira, a rede vem sendo uma boa ferramenta para nós", afirma Caim.
Outra colaboração da Internet para o movimento foi servir como veículo para o site anticorporativo IMC (Centro de Mídia Independente). Por ele, uma série de jornalistas desvinculados de empresas midiáticas mostra reportagens sobre o ato de Praga e outros protestos similares.

Antigovernos
Em países onde a liberdade de expressão é tolhida por governos ditatoriais, a Internet pode funcionar como uma válvula de escape. Nesses lugares, os sites antigoverno são tão clandestinos quanto jornais e programas de TV que tenham essa posição política.
Mas, como eles ficam hospedados em servidores distantes de seus países de origem, os governos atingidos não conseguem evitar sua veiculação.
Um exemplo disso está na Iugoslávia. Lá uma rádio contrária ao governo, a B92, foi fechada pelo presidente Slobodan Milosevic, mas pode ser ouvida pela rede, no endereço www.freeb92.net. Já em Cuba, é o endereço www.cubapolidata.com/ach/ach.html que transmite o conteúdo de rádios clandestinas. E até o Afeganistão, com um dos regimes mais fechados do planeta, tem sites antigovernistas. É o caso do www.afghanistans.com, em que afegães trocam idéias livremente.


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