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MUNDOS VIRTUAIS
A nova modalidade de mão-de-obra barata consiste em pular etapas e vender personagens de games
Jogar vira emprego para jovens chineses
DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES"
Uma das mais novas "fábricas"
da China funciona no porão de
um antigo armazém. Há pôsteres
do World of Warcraft e do Magic
Land nas paredes. Um bando de
jovens grudados às telas de seus
computadores ganha dinheiro
usando seus teclados.
As pessoas que trabalham neste
local clandestino são chamadas
de "fazendeiros do ouro". Todos
os dias, em turnos de 12 horas,
eles "brincam" com jogos de
computador, matando monstros
e vencendo batalhas, colhendo
moedas de ouro artificial e outros
bens virtuais que, como descobriu-se agora, podem virar dinheiro de verdade. Trata-se da
terceirização da jogatina.
De Seul a San Francisco, jogadores endinheirados -e sem
tempo nem paciência para chegar aos níveis mais avançados
dos games- estão dispostos a
pagar aos jovens chineses para
que prossigam nas etapas dos jogos.
Trabalho
"Meus amigos e eu matamos
monstros 12 horas por dia, sete
dias por semana", diz um jogador de 23 anos que trabalha numa "fábrica" provisória, conhecido virtualmente como Wandering (Errante). "Ganho cerca de
US$ 250 por mês, o que é bastante se comparado com meus empregos anteriores. E posso jogar
durante o dia inteiro."
Ele e seus colegas acabaram
criando mais um negócio que usa
mão-de-obra barata chinesa. Estão infiltrados nos "massively
multiplayer online games"
(MMOGs), nos quais são criados
personagens que vivem em reinos medievais ou em galáxias
distantes. Os contratados são na
maioria homens jovens como
Luo Gang, um universitário de 28
anos que tomou emprestado de
seu pai US$ 25 mil para abrir uma
LAN house que acabou virando
uma "fazenda de ouro", na periferia de Chongqing, na região
central da China.
Luo tem 23 funcionários e paga
a cada um deles cerca de US$ 75
por mês. "Se não trabalhassem
aqui, seriam garçons em restaurantes baratos, ajudariam seus
pais nas fazendas ou vagariam
pelas ruas, desempregados", diz
ele.
Os trabalhadores têm uma participação pequena nos lucros e
são supervisionados por chefes
que fornecem computadores,
softwares e conexões de banda
larga para que matem trolls, gnomos e ogros. "Recrutamos funcionários com anúncios em jornais", diz o proprietário que é
apenas um pouco mais velho do
que funcionários, cujas idades
variam entre 18 e 25 anos. "Todos
sabem jogar bem, mas não querem trabalhar demais", diz.
Propaganda
A internet está cheia de anúncios de empresas -muitas delas
chinesas- que promovem leilões de personagens, chamados
avatares, em troca de dinheiro de
verdade, coisa que alguns jogadores fazem há alguns anos para
sustentar seu hobby.
"Vendo conta com Xamã no
nível 60", diz o anúncio de um jogador de codinome Silver Fire,
que usa o QQ, um popular programa de mensagens instantâneas da China. "Se quiser mais
detalhes, fale comigo no QQ".
A economia virtual está apagando a linha entre fantasia e realidade. Há poucos anos, alguns
jogadores começaram a competir
on-line com outros de outras
partes do mundo. Não demorou
para que jogadores ocasionais repassassem tarefas, pedindo a outros que cuidassem de suas contas ou jogassem por eles.
Isso resultou na criação de centenas -ou talvez de milhares-
de "fábricas de jogadores". Segundo estimativas, há mais de
100 mil jovens chineses trabalhando como jogadores em LAN
houses, armazéns abandonados,
escritórios ou mesmo em casa.
A maioria deles ganha menos de
R$ 0,50 por hora, mas tem casa,
comida e jogos disponíveis em
sua "escravidão virtual".
Para muitos, a questão não é
simplesmente jogar. Em vez disso, buscam a espada mais sofisticada, o encanto mais potente ou
procuram atalhos para chegar ao
nível mais avançado. Tudo isso
em troca de algum dinheiro.
"O negócio ganhou proporções
inimagináveis", diz Chen Yu, 27,
que emprega 20 jogadores. "Nos
jogos mais populares, de 40% a
50% dos jogadores são "fazendeiros" chineses". Empreendedor
ambicioso, Yu vislumbra um cenário promissor. "Meu objetivo é
entrar no ramo de comércio exterior via internet", diz. "Os jogos
on-line são apenas meu primeiro
passo no mundo dos negócios",
afirma em seu precário escritório,
com um cofre debaixo da mesa.
Tradução de Flávio da Rocha Silveira
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