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ENTREVISTA
Para Gordon Moore, fundador da Intel, a informática isola as pessoas, mas esse "sacrifício" é compensador
PC obsoleto é preço do avanço tecnológico
DO "THE NEW YORK TIMES"
Junto a um colega, Gordon
Moore criou em 1957 a Fairchild
Semiconductor, empresa que desenvolvia componentes eletrônicos. Dez anos depois, Moore fundou a Intel, que se tornaria o
maior fabricante de microprocessadores para PCs. Ele também desenvolveu um conceito que hoje é
chamado de "lei de Moore" e diz
que a velocidade dos processadores dobra, em média, a cada 18 ou
24 meses.
Aos 72 anos, Moore se considera "um empreendedor acidental",
mas é um dos pioneiros da computação: sob seu comando, a Intel
alcançou faturamento anual de
quase US$ 34 bilhões. Algumas
semanas atrás, Moore anunciou
sua intenção de se aposentar no
final de maio. Em entrevista por
telefone, ele comentou o avanço
da informática e sua influência na
vida das pessoas.
Pergunta - Uma das consequências do avanço tecnológico e, talvez, da "lei de Moore", é que os
consumidores às vezes sentem que
o seu PC está ultrapassado logo depois de comprá-lo. Como resolver
essa frustração?
Gordon Moore - Isso é um problema. As empresas de informática estabeleceram que, se você esperar um ano para comprar um
PC, conseguirá um micro mais rápido e mais barato. Mas, se você
fizer isso, nunca aproveitará a tecnologia que já chegou ao mercado. Essa sensação é um efeito colateral do avanço tecnológico; a
solução seria conter o progresso,
o que eu acho errado.
Pergunta - Como a aceleração do
progresso tecnológico afeta as nossas vidas? O dia-a-dia das pessoas
está mais agitado por causa da tecnologia? Isso é bom ou ruim?
Moore - Certamente as coisas estão mais rápidas, mas eu não sei
dizer se isso é bom ou não. Atualmente, a única força constante é a
mudança, e isso certamente pressiona as pessoas.
Para quem não suporta mudar,
o avanço deve ser um grande problema. Provavelmente, o setor de
informática é quem mais lida com
a mudança, e nós que trabalhamos nele aprendemos a conviver
com isso.
O resultado geral da evolução
tecnológica é bem amplo e positivo, de modo geral. Se você observar a influência do progresso, verá
que, hoje, nós aprendemos mais
rápido, nossa medicina é melhor,
os automóveis são mais confiáveis -e tudo isso é resultado da
aceleração tecnológica.
Pergunta - Como vê o futuro da
Intel e o seu legado?
Moore - São duas coisas diferentes. A Intel é uma grande empresa
que atua num ramo onde as mudanças são muito rápidas. Enquanto nós conseguirmos antecipar tendências e tomar decisões
corretas, a empresa crescerá, mas,
num setor tão dinâmico, a possibilidade de erros é grande. Então é
isso que precisamos fazer: evitar
grandes erros. Quanto ao meu legado, por ridículo que isso me pareça hoje, ele deverá ser a "lei de
Moore".
Pergunta - O sr. vê efeitos ruins
na popularização dos PCs? O que
pensa do efeito que eles têm ao separar fisicamente as pessoas, por
exemplo? Alguma coisa faz o sr. se
preocupar ou perder o sono?
Moore - O que me faz perder o
sono é cuidar do meu e-mail. Não
fico acordado por preocupações.
Tudo o que muda dramaticamente a nossa maneira de fazer as coisas requer o abandono de hábitos
que podem ter sido agradáveis.
Eu me surpreendo ao ver quantos funcionários da Intel costumavam trabalhar em grupo, mas
hoje trabalham apertando botões
de computador. Eu acho que isso
produz, sim, um certo isolamento, mas é um jeito eficiente de trabalhar, que envolve algum sacrifício. Eu não sei se o sacrifício é
maior do que o introduzido pela
adoção das linhas de montagem
automotivas, por exemplo, em
que os trabalhadores podem se
ver mas não podem conversar.
Pergunta - Na sua opinião, quais
são as maiores ameaças à liderança
econômica dos EUA no futuro?
Moore - Eu acho que os Estados
Unidos não estão educando uma
parcela suficiente da sua população de forma a manter liderança
tecnológica. As nossas universidades, que são invejadas em todo
o mundo, estão educando estrangeiros, que voltam para seus países de origem. As nossas empresas de tecnologia contratam bons
profissionais de outros países,
mas corremos o risco de exportar
avanços tecnológicos porque não
estamos formando profissionais
suficientes aqui, nos EUA.
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