São Paulo, quarta-feira, 30 de maio de 2001

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ENTREVISTA

Para Gordon Moore, fundador da Intel, a informática isola as pessoas, mas esse "sacrifício" é compensador

PC obsoleto é preço do avanço tecnológico

DO "THE NEW YORK TIMES"

Junto a um colega, Gordon Moore criou em 1957 a Fairchild Semiconductor, empresa que desenvolvia componentes eletrônicos. Dez anos depois, Moore fundou a Intel, que se tornaria o maior fabricante de microprocessadores para PCs. Ele também desenvolveu um conceito que hoje é chamado de "lei de Moore" e diz que a velocidade dos processadores dobra, em média, a cada 18 ou 24 meses.
Aos 72 anos, Moore se considera "um empreendedor acidental", mas é um dos pioneiros da computação: sob seu comando, a Intel alcançou faturamento anual de quase US$ 34 bilhões. Algumas semanas atrás, Moore anunciou sua intenção de se aposentar no final de maio. Em entrevista por telefone, ele comentou o avanço da informática e sua influência na vida das pessoas.

Pergunta - Uma das consequências do avanço tecnológico e, talvez, da "lei de Moore", é que os consumidores às vezes sentem que o seu PC está ultrapassado logo depois de comprá-lo. Como resolver essa frustração?
Gordon Moore -
Isso é um problema. As empresas de informática estabeleceram que, se você esperar um ano para comprar um PC, conseguirá um micro mais rápido e mais barato. Mas, se você fizer isso, nunca aproveitará a tecnologia que já chegou ao mercado. Essa sensação é um efeito colateral do avanço tecnológico; a solução seria conter o progresso, o que eu acho errado.

Pergunta - Como a aceleração do progresso tecnológico afeta as nossas vidas? O dia-a-dia das pessoas está mais agitado por causa da tecnologia? Isso é bom ou ruim?
Moore -
Certamente as coisas estão mais rápidas, mas eu não sei dizer se isso é bom ou não. Atualmente, a única força constante é a mudança, e isso certamente pressiona as pessoas.
Para quem não suporta mudar, o avanço deve ser um grande problema. Provavelmente, o setor de informática é quem mais lida com a mudança, e nós que trabalhamos nele aprendemos a conviver com isso.
O resultado geral da evolução tecnológica é bem amplo e positivo, de modo geral. Se você observar a influência do progresso, verá que, hoje, nós aprendemos mais rápido, nossa medicina é melhor, os automóveis são mais confiáveis -e tudo isso é resultado da aceleração tecnológica.

Pergunta - Como vê o futuro da Intel e o seu legado?
Moore -
São duas coisas diferentes. A Intel é uma grande empresa que atua num ramo onde as mudanças são muito rápidas. Enquanto nós conseguirmos antecipar tendências e tomar decisões corretas, a empresa crescerá, mas, num setor tão dinâmico, a possibilidade de erros é grande. Então é isso que precisamos fazer: evitar grandes erros. Quanto ao meu legado, por ridículo que isso me pareça hoje, ele deverá ser a "lei de Moore".

Pergunta - O sr. vê efeitos ruins na popularização dos PCs? O que pensa do efeito que eles têm ao separar fisicamente as pessoas, por exemplo? Alguma coisa faz o sr. se preocupar ou perder o sono?
Moore -
O que me faz perder o sono é cuidar do meu e-mail. Não fico acordado por preocupações. Tudo o que muda dramaticamente a nossa maneira de fazer as coisas requer o abandono de hábitos que podem ter sido agradáveis.
Eu me surpreendo ao ver quantos funcionários da Intel costumavam trabalhar em grupo, mas hoje trabalham apertando botões de computador. Eu acho que isso produz, sim, um certo isolamento, mas é um jeito eficiente de trabalhar, que envolve algum sacrifício. Eu não sei se o sacrifício é maior do que o introduzido pela adoção das linhas de montagem automotivas, por exemplo, em que os trabalhadores podem se ver mas não podem conversar.

Pergunta - Na sua opinião, quais são as maiores ameaças à liderança econômica dos EUA no futuro?
Moore -
Eu acho que os Estados Unidos não estão educando uma parcela suficiente da sua população de forma a manter liderança tecnológica. As nossas universidades, que são invejadas em todo o mundo, estão educando estrangeiros, que voltam para seus países de origem. As nossas empresas de tecnologia contratam bons profissionais de outros países, mas corremos o risco de exportar avanços tecnológicos porque não estamos formando profissionais suficientes aqui, nos EUA.


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